|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONGRESSO
Desde eleição, 141 deputados mudaram de sigla, aumentando base aliada
Governo do PT se beneficia de troca-troca partidário
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um quarto dos atuais 513 deputados federais trocaram de partido desde janeiro do ano passado.
Foram 141 transferências de parlamentares de uma legenda para a
outra, uma média de 1,7 troca a
cada semana.
O governo saiu-se como o mais
beneficiado pelo troca-troca partidário, tendo engordado sua base
de apoio em 18%, na comparação
com as bancadas eleitas; a oposição encolheu 30%.
O volume de troca de deputados
entre as legendas cresceu, se comparado com igual período da legislatura passada. De janeiro de
1999 a 3 de agosto de 2000, ocorreram 126 mudanças.
Entre os 129 deputados que mudaram de partido desde 2003, 12 o
fizeram duas vezes, ou seja, os que
não regressaram ao partido de
origem pertenceram a três partidos diferentes desde a última eleição, em 2002.
Para além desses, está o deputado Sandro Matos (RJ), que detém
o recorde nessa legislatura. Uma
fusão partidária e três trocas posteriores o fizeram se movimentar
quatro vezes entre as legendas
desde a sua eleição.
Matos foi eleito pelo nanico
PSD, que se fundiu em seguida ao
PTB. Dizendo-se chateado por ter
sabido da fusão por terceiros,
abandonou o PTB e seguiu para o
PSB a convite do secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony
Garotinho. Com o rompimento
de Garotinho com os socialistas,
Matos integrou a debandada de
pessebistas fiéis a Garotinho, que
se abrigaram no PMDB.
Semanas depois, foi a vez de o
deputado romper com Garotinho: "Dez dias antes do fim do
prazo para a filiação partidária
daqueles que disputariam a eleição, ele [Garotinho] me tirou a legenda", afirmou Matos, que disputava a candidatura peemedebista para a Prefeitura de São João
de Meriti (RJ).
Com menos de um mês no
PMDB, desfiliou-se do partido e
regressou ao PTB, sigla que incorporou o seu antigo PSD. "Sempre
me dei muito bem com o [José
Carlos] Martinez [então presidente da legenda, que acabou
morrendo em um acidente aéreo
no ano passado]", afirmou.
Perdas e ganhos
Crítico da infidelidade partidária costumeira no Congresso,
quando era oposição, o atual governo, do PT, estimulou nos bastidores o processo de crescimento
de PTB e PL, que praticamente
dobraram suas bancadas em relação à eleição.
A oposição fala abertamente, e
integrantes do governo reconhecem reservadamente, que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro
Diniz -gravado em 2002 pedindo propina a um empresário do
ramo de jogos- era um dos responsáveis por essas negociações.
Os maiores partidos governistas
contam com 372 deputados, 56 a
mais do que elegeram, um crescimento de 18%.
Já os partidos que hoje estão na
oposição elegeram 175 deputados, mas contam hoje com apenas 122, uma diminuição de 30%.
"Isso demonstra que o sistema
partidário carece de uma reforma
urgente. Isso é um espetáculo deprimente, fruto da fragilidade
partidária", afirmou o deputado
José Carlos Aleluia (BA), líder da
bancada do PFL, a mais esvaziada. Foram 28 defecções desde janeiro de 2003, contra apenas três
ingressos.
Aleluia culpa o governismo de
alguns: "Há deputados que sentem a necessidade de ficar próximos ao governo, que sempre lhes
promete cargos e liberações de
verbas", disse.
O PSDB perdeu 22 dos deputados que elegeu, tendo ganho apenas quatro. Já o PDT, que elegeu
21 parlamentares, deixou de ser
governo no ano passado e hoje
caiu quase à metade. Conta com
11 deputados.
Além da questão de que o governo sempre atrai mais aliados
do que a oposição, a movimentação partidária do secretário de Segurança Pública do Rio influiu no
troca-troca. Garotinho foi responsável por levar vários deputados para o PSB.
Ao romper com a legenda e migrar para o PMDB, Garotinho patrocinou a saída de 13 pessebistas
rumo a seu novo partido e a outras legendas, em agosto e setembro do ano passado.
Texto Anterior: Eleições 2004/Campanha: PT e PSDB se atacam em horário na TV Próximo Texto: Eleições 2004/Debate: Saúde e ataques a líderes marcam debate Índice
|