São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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CONGRESSO

Desde eleição, 141 deputados mudaram de sigla, aumentando base aliada

Governo do PT se beneficia de troca-troca partidário

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um quarto dos atuais 513 deputados federais trocaram de partido desde janeiro do ano passado. Foram 141 transferências de parlamentares de uma legenda para a outra, uma média de 1,7 troca a cada semana.
O governo saiu-se como o mais beneficiado pelo troca-troca partidário, tendo engordado sua base de apoio em 18%, na comparação com as bancadas eleitas; a oposição encolheu 30%.
O volume de troca de deputados entre as legendas cresceu, se comparado com igual período da legislatura passada. De janeiro de 1999 a 3 de agosto de 2000, ocorreram 126 mudanças.
Entre os 129 deputados que mudaram de partido desde 2003, 12 o fizeram duas vezes, ou seja, os que não regressaram ao partido de origem pertenceram a três partidos diferentes desde a última eleição, em 2002.
Para além desses, está o deputado Sandro Matos (RJ), que detém o recorde nessa legislatura. Uma fusão partidária e três trocas posteriores o fizeram se movimentar quatro vezes entre as legendas desde a sua eleição.
Matos foi eleito pelo nanico PSD, que se fundiu em seguida ao PTB. Dizendo-se chateado por ter sabido da fusão por terceiros, abandonou o PTB e seguiu para o PSB a convite do secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho. Com o rompimento de Garotinho com os socialistas, Matos integrou a debandada de pessebistas fiéis a Garotinho, que se abrigaram no PMDB.
Semanas depois, foi a vez de o deputado romper com Garotinho: "Dez dias antes do fim do prazo para a filiação partidária daqueles que disputariam a eleição, ele [Garotinho] me tirou a legenda", afirmou Matos, que disputava a candidatura peemedebista para a Prefeitura de São João de Meriti (RJ).
Com menos de um mês no PMDB, desfiliou-se do partido e regressou ao PTB, sigla que incorporou o seu antigo PSD. "Sempre me dei muito bem com o [José Carlos] Martinez [então presidente da legenda, que acabou morrendo em um acidente aéreo no ano passado]", afirmou.

Perdas e ganhos
Crítico da infidelidade partidária costumeira no Congresso, quando era oposição, o atual governo, do PT, estimulou nos bastidores o processo de crescimento de PTB e PL, que praticamente dobraram suas bancadas em relação à eleição.
A oposição fala abertamente, e integrantes do governo reconhecem reservadamente, que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz -gravado em 2002 pedindo propina a um empresário do ramo de jogos- era um dos responsáveis por essas negociações.
Os maiores partidos governistas contam com 372 deputados, 56 a mais do que elegeram, um crescimento de 18%.
Já os partidos que hoje estão na oposição elegeram 175 deputados, mas contam hoje com apenas 122, uma diminuição de 30%.
"Isso demonstra que o sistema partidário carece de uma reforma urgente. Isso é um espetáculo deprimente, fruto da fragilidade partidária", afirmou o deputado José Carlos Aleluia (BA), líder da bancada do PFL, a mais esvaziada. Foram 28 defecções desde janeiro de 2003, contra apenas três ingressos.
Aleluia culpa o governismo de alguns: "Há deputados que sentem a necessidade de ficar próximos ao governo, que sempre lhes promete cargos e liberações de verbas", disse.
O PSDB perdeu 22 dos deputados que elegeu, tendo ganho apenas quatro. Já o PDT, que elegeu 21 parlamentares, deixou de ser governo no ano passado e hoje caiu quase à metade. Conta com 11 deputados.
Além da questão de que o governo sempre atrai mais aliados do que a oposição, a movimentação partidária do secretário de Segurança Pública do Rio influiu no troca-troca. Garotinho foi responsável por levar vários deputados para o PSB.
Ao romper com a legenda e migrar para o PMDB, Garotinho patrocinou a saída de 13 pessebistas rumo a seu novo partido e a outras legendas, em agosto e setembro do ano passado.


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