São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/DEBATE

Além das taxas e do desempenho de Marta na saúde, candidatos centraram críticas nas gestões de Serra em pastas do governo FHC

Saúde e ataques a líderes marcam debate

DA REPORTAGEM LOCAL

O debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo ontem na Rede Record foi marcado pela terceirização dos ataques. Diversamente do debate anterior, na TV Bandeirantes, no qual a prefeita Marta Suplicy (PT) foi o principal alvo, desta vez José Serra também foi bastante criticado -e não só pelos nanicos mas também por Paulo Maluf (PP) e por Luiza Erundina (PSB). O embate alcançou, na prévia, Ibope de seis pontos em média, com picos de nove (cada ponto equivale a 49,5 mil domicílios na Grande São Paulo). Não faltaram questionamentos sobre o destino de recursos arrecadados com as taxas criadas pela prefeitura e críticas ao principal programa de Marta para a saúde, o CEU Saúde, lançado pela candidata na semana passada. Por conta das regras do debate, o confronto direto entre Marta e Serra foi limitado.
Logo na primeira pergunta, o candidato a prefeito João Manuel (PSDC) partiu para o ataque contra José Serra, do PSDB. Manuel, que sofre processo de expulsão de sua legenda, mas obteve liminar que lhe garante cinco dias para se defender, questionou o tucano sobre reportagem publicada na revista "IstoÉ" em junho deste ano a respeito de desvios de recursos no Ministério da Saúde, descobertos pela chamada Operação Vampiro. Depois de ler discurso que lembrou o ex-presidente Jânio Quadros, no qual afirmou que "forças ocultas desta política suja tentaram nos tirar do debate", Manuel perguntou por que Serra "tem tanto medo de falar [sobre os desvios no ministério]".
Serra, irritado, afirmou que "não houve nenhuma máfia do sangue" durante sua gestão no ministério e "o que aconteceu foi depois, no atual governo". O tucano disse que "João Manuel já teve punição pela Justiça, acabou de ser expulso do partido e não tem qualificação moral para querer desqualificar os outros". Depois, o tucano acusou o candidato do PSDC de "estar a serviço de algum candidato", mas não citou nomes.
João Manuel, que por causa do sorteio teve oportunidade de fazer a primeira pergunta em cada bloco, usou as outras duas para dirigi-las a Marta. Em uma delas, questionou-a sobre áreas de lazer e, depois, sobre as taxas. "A senhora vai criar mais taxas e impostos?" Marta começou dizendo que a pergunta lhe permitia responder a Serra, que, anteriormente, questionara a taxa. "Colocamos 15 mil pontos de luz, embora ainda faltem", disse ela.
João Manuel teve seu processo de expulsão do partido assinado anteontem devido aos ataques que fez ao tucano José Serra, em seu programa de TV. Sob a suspeita de que teria feito dobradinha com o PT para atacar Serra, Manuel respondeu acusando. Afirmou que o presidente do PSDC, José Maria Eymael, tinha combinado sua expulsão com peessedebistas.

Taxa da luz
O tucano, no primeiro bloco, para atingir Marta com a questão da taxa da iluminação, acabou dirigindo a pergunta a Ciro Moura (PTC), que não perdeu a chance de criticar a petista e, ainda por cima, levantar suspeitas de irregularidades. "Não sabemos onde esse recurso [da taxa] vai parar. Pode ser que vá para funcionários, que bancam essa campanha milionária." Serra endossou. E Ciro: "Essa dúvida é generalizada. O CEU, na verdade é o "seu". Temos de saber onde está o recurso."
Paulo Maluf (PP), que teve como alvos José Serra (com mais freqüência) e Marta Suplicy, tentou atrair Luiza Erundina (PSB) para lhe ajudar nos ataques. Ele usou a morte de seis moradores de rua, na semana passada, para tentar criticar o PSDB. "Que garantias o governo do PSDB, que controla a Secretaria da Segurança Pública, deu para que essa ocorrência não ocorresse?" provocou Maluf. Erundina, porém, não atribuiu a culpa do episódio ao governo estadual, mas à política econômica do atual governo federal e do anterior.
Lançado na semana passada por Marta Suplicy como uma tentativa de resposta às críticas que tem recebido, o CEU Saúde, nome dado para clínicas que a candidata promete erguer, foi bombardeado pelos adversários. Ciro Moura chegou a adjetivar de "Papai Noel" o secretário de Saúde da prefeitura, Gonzalo Vecina. "O senhor acredita em Papai Noel?", perguntou Moura a Maluf. O mediador Boris Casoy teve de pedir mais seriedade ao candidato, mas não adiantou.
Respondendo a Serra, Erundina disse que "a saúde não tem sido prioridade no atual governo" e classificou de "marketing" a proposta de Marta para o setor. Ela também disse que o programa da petista usou "uma maquete, tipo Fura-Fila", usando uma comparação feita pelo candidato do PSDB, na semana passada. Serra completou afirmando que "enquanto se faz fantasia com maquete, há setores que por falta de condições mínimas não podem funcionar".

Escolas de latão
Para atrair o debate para seu campo, Marta partiu para a ofensiva questionando Serra sobre as escolas de latão mantidas pelo governo "do PSDB", como fez questão de frisar, e acabou citando os CEUs (Centros Educacionais Unificados) como contraponto. "Você acha normal essa falta de prioridade na educação", provocou a petista.
"Um dia a senhora elogia o governador Geraldo Alckmin, tentando ganhar votos, noutro, o critica", respondeu o tucano. "Isso a senhora pode ver com o governo do Estado. Eu estou preocupado com a prefeitura."
Marta, que sabe que Alckmin atrai votos, segundo pesquisa Datafolha, disse que se dá "muito bem" com o governador, que "tem sido excelente parceiro desde o primeiro dia". (CHICO DE GOIS, LILIAN CHRISTOFOLETTI, RICARDO BRANDT, PEDRO DIAS LEITE)


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