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Investigador e investigado concorrem em Porto Ferreira
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO FERREIRA
Em agosto de 2003, seis vereadores, três empresários e um funcionário público de Porto Ferreira
(SP) foram presos sob acusação
de exploração sexual de adolescentes. Um ano depois, o delegado que participou das investigações é candidato a prefeito e um
dos detidos concorre à Câmara.
O candidato a prefeito pelo PT é
o delegado Maurício Rasi, que ganhou notoriedade nacional por
conta das prisões de políticos acusados de promoverem festinhas
com meninas pobres, entre 13 e 16
anos, que recebiam de R$ 30 a R$
50 para participar de jogos sexuais com os denunciados.
Um dos acusados é o vereador
Luiz Cesar Lanzoni, do PTB, que
apesar de ter sido condenado, em
primeira instância, a 42 anos de
prisão, conseguiu homologar sua
candidatura. A juíza que condenou o vereador também lhe deu o
direito de ser candidato. O vereador que foi preso pelo delegado é
seu padrinho de casamento.
A título de recordação, vale a
pena ler de novo: em agosto do
ano passado, o pai de uma adolescente encontrou no quarto da filha fotos com garotas nuas e seminuas. O caso foi levado à Polícia
Civil. Depois de três semanas de
investigação, 80 depoimentos e
reconhecimento fotográfico dos
acusados feito pelas vítimas, seis
vereadores e três empresários foram presos por corrupção de menores e formação de quadrilha.
Em abril deste ano, a juíza Sueli
Juarez Alonso condenou, em primeira instância, os seis vereadores, os empresários e um servidor
envolvidos com o aliciamento e a
prostituição das adolescentes.
Em maio do ano passado, o delegado Maurício Rasi, 35, filiou-se
ao PT. Até aquela data, a cidade
não tinha conhecimento das festinhas dos políticos e empresários
locais com as adolescentes pobres. O escândalo surgiu em agosto. Rasi, então, passou a ser procurado pela imprensa nacional, e
até mesmo a CPI da Prostituição
Infantil deslocou-se para a cidade.
A fama conquistada por Rasi e
sua ação na presidência da Casa
do Abrigo, entidade destinada a
crianças carentes e vítimas de violência, o transformaram no candidato natural do PT. Delegado
há 13 anos, professor universitário, casado e pai de um menino,
Rasi tem um currículo que, pelas
análises petistas, o colocaria com
certa facilidade na prefeitura.
Mas a fama, ao invés de lhe
acrescentar votos, pode tirar. A
percepção é do próprio candidato. "Criticam-me como se eu tivesse tirado proveito político do
assunto", afirma. "Só fiz o inquérito e mandei para o fórum." Rasi
disse que, antes do episódio da
prostituição infantil, "já desenvolvia um trabalho sólido na cidade".
"Quero esquecer este passado e
dizer que a cidade tem tudo para
crescer", fala, já como candidato.
"Quero me dissociar desse caso."
A campanha de Rasi tem gastos
estimados em R$ 92 mil. Sua estratégia, por enquanto, tem sido
semelhante à adotada por Marta
Suplicy (PT), candidata à reeleição em São Paulo, que estima gastar R$ 15 milhões em propaganda.
Sem santinho
Preso em Sorocaba para cumprir 42 anos de prisão, Luiz Cesar
Lanzoni, ex-presidente da Câmara de Porto Ferreira e candidato a
uma das 10 vagas no Legislativo,
teve sua candidatura homologada
pela mesma juíza que o condenou
por aliciamento de menores.
Ao deferir a candidatura, a juíza
Sueli Juarez Alonso só cumpriu a
Lei Eleitoral, que concede a oportunidade de se candidatar a qualquer cidadão que esteja em pleno
exercício de seus direitos políticos. Como a condenação de Lanzoni é de primeira instância e seus
advogados recorreram, ele não foi
condenado definitivamente.
A única dificuldade do candidato-detento é não poder fazer campanha na rua. Membro de partido
coligado com o PSDB local, Lanzoni não tem nenhum material de
campanha, nenhum santinho.
Detalhe: apesar do escândalo na
cidade, a Câmara não cassou nenhum dos vereadores envolvidos.
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