São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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Investigador e investigado concorrem em Porto Ferreira

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO FERREIRA

Em agosto de 2003, seis vereadores, três empresários e um funcionário público de Porto Ferreira (SP) foram presos sob acusação de exploração sexual de adolescentes. Um ano depois, o delegado que participou das investigações é candidato a prefeito e um dos detidos concorre à Câmara.
O candidato a prefeito pelo PT é o delegado Maurício Rasi, que ganhou notoriedade nacional por conta das prisões de políticos acusados de promoverem festinhas com meninas pobres, entre 13 e 16 anos, que recebiam de R$ 30 a R$ 50 para participar de jogos sexuais com os denunciados.
Um dos acusados é o vereador Luiz Cesar Lanzoni, do PTB, que apesar de ter sido condenado, em primeira instância, a 42 anos de prisão, conseguiu homologar sua candidatura. A juíza que condenou o vereador também lhe deu o direito de ser candidato. O vereador que foi preso pelo delegado é seu padrinho de casamento.
A título de recordação, vale a pena ler de novo: em agosto do ano passado, o pai de uma adolescente encontrou no quarto da filha fotos com garotas nuas e seminuas. O caso foi levado à Polícia Civil. Depois de três semanas de investigação, 80 depoimentos e reconhecimento fotográfico dos acusados feito pelas vítimas, seis vereadores e três empresários foram presos por corrupção de menores e formação de quadrilha.
Em abril deste ano, a juíza Sueli Juarez Alonso condenou, em primeira instância, os seis vereadores, os empresários e um servidor envolvidos com o aliciamento e a prostituição das adolescentes.
Em maio do ano passado, o delegado Maurício Rasi, 35, filiou-se ao PT. Até aquela data, a cidade não tinha conhecimento das festinhas dos políticos e empresários locais com as adolescentes pobres. O escândalo surgiu em agosto. Rasi, então, passou a ser procurado pela imprensa nacional, e até mesmo a CPI da Prostituição Infantil deslocou-se para a cidade.
A fama conquistada por Rasi e sua ação na presidência da Casa do Abrigo, entidade destinada a crianças carentes e vítimas de violência, o transformaram no candidato natural do PT. Delegado há 13 anos, professor universitário, casado e pai de um menino, Rasi tem um currículo que, pelas análises petistas, o colocaria com certa facilidade na prefeitura.
Mas a fama, ao invés de lhe acrescentar votos, pode tirar. A percepção é do próprio candidato. "Criticam-me como se eu tivesse tirado proveito político do assunto", afirma. "Só fiz o inquérito e mandei para o fórum." Rasi disse que, antes do episódio da prostituição infantil, "já desenvolvia um trabalho sólido na cidade". "Quero esquecer este passado e dizer que a cidade tem tudo para crescer", fala, já como candidato. "Quero me dissociar desse caso."
A campanha de Rasi tem gastos estimados em R$ 92 mil. Sua estratégia, por enquanto, tem sido semelhante à adotada por Marta Suplicy (PT), candidata à reeleição em São Paulo, que estima gastar R$ 15 milhões em propaganda.

Sem santinho
Preso em Sorocaba para cumprir 42 anos de prisão, Luiz Cesar Lanzoni, ex-presidente da Câmara de Porto Ferreira e candidato a uma das 10 vagas no Legislativo, teve sua candidatura homologada pela mesma juíza que o condenou por aliciamento de menores.
Ao deferir a candidatura, a juíza Sueli Juarez Alonso só cumpriu a Lei Eleitoral, que concede a oportunidade de se candidatar a qualquer cidadão que esteja em pleno exercício de seus direitos políticos. Como a condenação de Lanzoni é de primeira instância e seus advogados recorreram, ele não foi condenado definitivamente.
A única dificuldade do candidato-detento é não poder fazer campanha na rua. Membro de partido coligado com o PSDB local, Lanzoni não tem nenhum material de campanha, nenhum santinho. Detalhe: apesar do escândalo na cidade, a Câmara não cassou nenhum dos vereadores envolvidos.


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