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PALESTRA
Para Robert Kurz, partidos como o PT não compreendem a crise do capitalismo e por isso decepcionaram seus eleitores
Sociólogo alemão critica ilusões da esquerda
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Guru de grupos de esquerda
que pregam o fim da política e a
emancipação do trabalho, o sociólogo alemão Robert Kurz afirmou, em palestra na Bienal do Livro, em Fortaleza, que a esquerda
tradicional e seus partidos -como o PT, no caso do Brasil- têm
medo e não conseguem encarar a
crise da contemporaneidade.
Segundo ele, tais partidos preferem difundir, de forma enganosa,
que será possível uma retomada
do desenvolvimento e o reinício
de um acúmulo de produção. Para ele, isso não acontecerá mais.
Inspirado nas teses de Karl
Marx (1818-1883), Kurz faz uma
crítica radical ao que chama de
sociedade fetichista, em que categorias como trabalho abstrato,
política, democracia, mercado e
nação, que servem de base de sustentação ao capitalismo, se convertem em noções tidas como naturais, como fenômenos intrínsecos ao próprio existir do homem.
Para o sociólogo, todas essas categorias não passam de construções da sociedade liberal e já estão
caindo por terra, uma a uma, com
a atual crise do capitalismo, que
atravessa sua terceira Revolução
Industrial, fenômeno causado pela ascensão da microinformática,
que provocou um desemprego
crescente: um grande volume de
pessoas passou a ser tido como
supérfluo e não há perspectiva de
um novo acúmulo de produção,
num processo irreversível.
Kurz é autor de livros como "Os
Últimos Combates" (ed. Vozes) e
"O Colapso da Modernização"
(ed. Paz e Terra) e foi ouvido por
um auditório lotado, com cerca
de 300 pessoas, no último domingo à noite. Para o sociólogo, a esquerda está paralisada diante da
crise e prefere continuar pregando que haverá uma nova retomada do capitalismo, um novo crescimento da produção, como sempre aconteceu após crises vividas
pelo capitalismo no passado.
"A crítica produzida pela esquerda tradicional nunca chegou
às categorias do capitalismo: estava presa no próprio sistema capitalista, pregando que, se fossem
colocadas no comando pessoas
que pensam como nós, tudo melhoraria, e isso não acontece. Agora, a esquerda se vê paralisada",
disse: "Por isso, em todo lugar onde a esquerda emergiu, como no
Brasil, a população se sente decepcionada", acrescentou.
Em sua crítica, Kurz não poupou nem os movimentos sociais.
Para ele, é necessária uma solidariedade mundial entre os movimentos, mas essa solidariedade
deve ser crítica, para que não fiquem apenas na tentativa de recuperar o trabalho por meio da
política. Ao mesmo tempo, com o
envolvimento de intelectuais em
todo o mundo, é preciso iniciar
um longo debate sobre os caminhos a serem criados para substituir as atuais categorias do capitalismo: "A crise por si só não vai
criar essas mediações novas. Precisamos encarar isso, e não são
apenas palavras de ordem que
vão criar esse novo caminho".
Segundo ele, a mudança não
acontecerá de forma individual: a
crise é global e a única saída será
uma mobilização mundial.
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