São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ACORDÃO OU CASTIGO?

Relator insinua que a punição do ex-ministro serviria como forma de compensação à blindagem feita em torno do presidente Lula

Situação de Dirceu é complicada, diz Serraglio

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Às vésperas de apresentar um parecer listando casos de quebra de decoro parlamentar por suposto envolvimento com o "mensalão", o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou ontem que a situação do deputado José Dirceu (PT-SP) é "muito complicada" e exigiria uma "condução severa". Ele está sujeito à perda de mandato.
Dos 18 deputados que constarão do relatório parcial, serão poupados Sandro Mabel (PL-GO) e Pedro Henry (PP-MT). Haverá referências a eles por terem sido citados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), mas não existiriam provas de que sacaram dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério de Souza.
A intenção inicial de Serraglio era enviar os casos mais graves, 16, para o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), sugerindo a cassação de mandato pelo Conselho de Ética. Já Henry e Mabel iriam à CPI do Mensalão, que continuaria as investigações.
Pressionado pelos membros da CPI, Serraglio decidiu enviar os 18 nomes à Presidência da Câmara, que decidirá o desdobramento de cada caso. Antes, porém, o documento tem que ser aprovado no plenário da comissão.
O relator afirmou ainda que pode incluir na lista o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), cuja campanha à reeleição ao governo de Minas, em 1998, recebeu recursos de Valério. O caso seria enviado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Serraglio insinuou que a punição de Dirceu serviria de compensação à blindagem feita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Alguém na República teve responsabilidade, já que estão isentando o presidente..."
Questionado se o presidente Lula sabia do suposto esquema de corrupção, o relator recuou. "A minha avaliação é que não chegou ao presidente Lula, mas alguém é responsável por isso, e o chefe de governo era o José Dirceu."
O relator disse que não haverá diferenciação entre os parlamentares que fizeram saques das contas de Valério para pagar dívida de campanha, por meio de caixa dois, e aqueles que teriam recebido para apoiar o governo. Tampouco haverá distinção entre quem retirou pessoalmente e os que enviaram terceiros.
"Não aceito como normal a prática do caixa dois, a negociação de cargos e diretorias em ministérios para coleta de recursos e os saques de altas quantias em espécie feitos por parlamentares", disse.
Em entrevista à Folha anteontem, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), defendeu uma pena mais branda do que a cassação para os parlamentares que comprovarem ter usado o dinheiro no pagamento de dívidas eleitorais, mesmo com a prática de caixa dois, que é crime.
Apesar de evitar fazer "juízo de valor" no parecer, Serraglio deve citar na fundamentação o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) que, num primeiro momento, justificou a ida de sua mulher ao Banco Rural como sendo para resolver problemas com a TV a cabo. Logo após citar os casos de Mabel e Henry, o relator disse que a situação de João Paulo é "muito mais complicada".


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