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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ACORDÃO OU CASTIGO?
Relator insinua que a punição do ex-ministro serviria como forma de compensação à blindagem feita em torno do presidente Lula
Situação de Dirceu é complicada, diz Serraglio
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Às vésperas de apresentar um
parecer listando casos de quebra
de decoro parlamentar por suposto envolvimento com o "mensalão", o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou ontem que a situação do deputado José Dirceu (PT-SP) é "muito complicada" e exigiria uma "condução severa". Ele
está sujeito à perda de mandato.
Dos 18 deputados que constarão do relatório parcial, serão
poupados Sandro Mabel (PL-GO)
e Pedro Henry (PP-MT). Haverá
referências a eles por terem sido
citados pelo deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ), mas não existiriam provas de que sacaram dinheiro das contas do publicitário
Marcos Valério de Souza.
A intenção inicial de Serraglio
era enviar os casos mais graves,
16, para o presidente da Câmara,
Severino Cavalcanti (PP-PE), sugerindo a cassação de mandato
pelo Conselho de Ética. Já Henry e
Mabel iriam à CPI do Mensalão,
que continuaria as investigações.
Pressionado pelos membros da
CPI, Serraglio decidiu enviar os 18
nomes à Presidência da Câmara,
que decidirá o desdobramento de
cada caso. Antes, porém, o documento tem que ser aprovado no
plenário da comissão.
O relator afirmou ainda que pode incluir na lista o senador
Eduardo Azeredo (PSDB-MG),
cuja campanha à reeleição ao governo de Minas, em 1998, recebeu
recursos de Valério. O caso seria
enviado ao presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL).
Serraglio insinuou que a punição de Dirceu serviria de compensação à blindagem feita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Alguém na República teve responsabilidade, já que estão isentando o presidente..."
Questionado se o presidente
Lula sabia do suposto esquema de
corrupção, o relator recuou. "A
minha avaliação é que não chegou
ao presidente Lula, mas alguém é
responsável por isso, e o chefe de
governo era o José Dirceu."
O relator disse que não haverá
diferenciação entre os parlamentares que fizeram saques das contas de Valério para pagar dívida
de campanha, por meio de caixa
dois, e aqueles que teriam recebido para apoiar o governo. Tampouco haverá distinção entre
quem retirou pessoalmente e os
que enviaram terceiros.
"Não aceito como normal a prática do caixa dois, a negociação de
cargos e diretorias em ministérios
para coleta de recursos e os saques de altas quantias em espécie
feitos por parlamentares", disse.
Em entrevista à Folha anteontem, o presidente da Câmara dos
Deputados, Severino Cavalcanti
(PP-PE), defendeu uma pena
mais branda do que a cassação
para os parlamentares que comprovarem ter usado o dinheiro no
pagamento de dívidas eleitorais,
mesmo com a prática de caixa
dois, que é crime.
Apesar de evitar fazer "juízo de
valor" no parecer, Serraglio deve
citar na fundamentação o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) que, num primeiro
momento, justificou a ida de sua
mulher ao Banco Rural como sendo para resolver problemas com a
TV a cabo. Logo após citar os casos de Mabel e Henry, o relator
disse que a situação de João Paulo
é "muito mais complicada".
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