São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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Advogado diz que recebeu R$ 1 mi do PP para defender Ronivon Santiago

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O advogado Paulo Goyaz, 50, disse ontem que recebeu do PP cerca de R$ 1 milhão, em dinheiro, para defender o deputado federal Ronivon Santiago (PP-AC) em 36 ações judiciais por suposta compra de votos.
Goyaz diz ter recibos que comprovam o recebimento do dinheiro, mas não quis fornecer cópias à reportagem, por "razões de sigilo profissional". Também não quis mostrar os contratos assinados com o PP.
Ronivon foi envolvido como beneficiário do esquema ilegal de repasse de recursos de contas do publicitário Marcos Valério de Souza pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), em entrevista publicada ontem pela Folha.
A versão de Severino, inédita, tenta justificar os saques feitos por um assessor da liderança do partido na Câmara, João Cláudio Genu, das contas de Valério. Segundo o presidente da Câmara, R$ 700 mil foram usados no pagamento de despesas advocatícias de um único deputado, Ronivon.
Há uma discrepância de valores, no entanto: Severino diz que foram sacados R$ 700 mil; o advogado diz que recebeu R$ 1 mlhão.
"Recebi quase R$ 1 milhão. Descontados impostos, deu R$ 700 mil líquido. O valor me foi entregue em dinheiro, na tesouraria do PP, que fica em uma sala da Câmara", afirmou o advogado, que, ironicamente, é filiado ao PTB, partido que acusa o PP de se beneficiar do "mensalão".
O dinheiro teria sido pago em duas parcelas: uma em setembro de 2003 e outra em janeiro de 2004. O portador foi um advogado do PP, que Goyaz identificou como Valmor Jiavarina, que teria morrido no início desse ano.
"Me disseram que tinha de ser em dinheiro, porque havia um problema com a conta bancária do PP, que impossibilitava a transferência. Mas ninguém deu detalhes", disse o advogado.
Goyaz disse que não sabia que o dinheiro era oriundo de conta de Valério, ou que teria sido sacado por Genu. O advogado teria ainda outros R$ 240 mil a receber.
O presidente do partido, deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE), teria sido o signatário do contrato, que data de 2002. Corrêa ontem foi procurado, mas não telefonou de volta. A reportagem pediu cópias dos recibos e do contrato, também sem sucesso.
Ronivon também não foi localizado. Segundo sua assessoria, ele estava no interior do Acre.
O deputado tem um longo histórico de problemas judiciais. Em 1997, foi gravado admitindo que recebeu R$ 200 mil para votar favoravelmente à emenda da reeleição. Acabou renunciando.
Na eleição de 2002, Ronivon sofreu ações eleitorais e criminais por comprar votos. Acabou sendo preso por alguns dias e teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral em julho do ano passado. Seu advogado recorreu e obteve uma liminar que mantém o deputado no cargo.
O líder do PP na Câmara, José Janene (PR), afirmou que os recursos sacados por Genu foram destinados integralmente para pagar o advogado. (FÁBIO ZANINI)


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