São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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Vice contesta presidente da Câmara

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

A defesa feita pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), de uma pena "branda" a deputados que usaram dinheiro de Marcos Valério para pagar dívidas de campanha é contestada pelo primeiro vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL). O pefelista se diz convencido da existência do "mensalão" e diz que isso já é "mais do que suficiente" para cassar os envolvidos.

 


Folha - Severino Cavalcanti disse que não acredita na existência do "mensalão" e que o que existiu foi caixa dois de campanha, não passível de cassação. O sr. concorda?
José Thomaz Nonô -
Não. O presidente Severino pode externar posições pessoais, mas é o presidente da Casa. Algumas colocações da entrevista podem prejudicar o bom conceito da Câmara.

Folha - Quais?
Nonô -
Em primeiro lugar, a existência do "mensalão". As pessoas têm de distinguir o que é prova no sentido processual do que é convencimento no sentido parlamentar. A Justiça exige uma série de requisitos sobre os quais não me cabe falar. Aos parlamentares se exige apenas percepção. É por isso que muitos condenados no Parlamento são absolvidos na Justiça. Porque tratamos de uma abstração que se chama decoro parlamentar. Eu tenho convencimento de que houve "mensalão". Acredito que parlamentares receberam dinheiro. Ponto.

Folha - O fato de não ter havido periodicidade mensal descaracteriza a quebra de decoro?
Nonô -
A mim não interessa se era mensal, semanal, semestral, episódico. O que importa é o ilícito. Se não querem chamar de "mensalão" podem chamar de compra de deputados. O que importa é que o sujeito recebeu dinheiro para mudar seu voto, mudar de partido, apoiar o governo, e isso é motivo mais que suficiente para cassar.

Folha - O sr. acha que a Casa caminha para adotar a tese de que não houve "mensalão" para, com isso, reduzir as cassações ao mínimo?
Nonô -
Na Casa há uma ampla e discreta maioria que quer realmente apurar. A essa ampla maioria ética ainda se junta uma minoria pragmática que sabe que no ano que vem a opinião pública será implacável se esta Casa for condescendente com a falta de ética e de decoro.

Folha - O fato de as denúncias estarem disseminadas por vários partidos não contribui para acordão?
Nonô -
Acho que não.


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