São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ACORDÃO OU CASTIGO?

Vice afirma que Brasil precisa ser passado a limpo, mas que generalização, na investigação dos parlamentares, não é bem-vinda

Alencar defende cuidado com cassações

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao comentar as acusações que podem levar à cassação 18 parlamentares, o vice-presidente da República, José Alencar (PL), afirmou que "o Brasil precisa ser passado a limpo", mas que não podem haver generalizações porque "cada caso é um caso" e as pessoas podem ter recebido dinheiro "de maneira diferenciada".
"O Brasil precisa ser passado a limpo, isso não pode continuar acontecendo, o homem público tem que compreender que a vida pública é vida de sacrifício, não é vida para que ninguém se locuplete. Isso tem que acabar."
Logo em seguida, Alencar defendeu cuidado ao punir os parlamentares investigados e chegou a parafrasear o ex-premiê britânico Winston Churchill (1874-1965) para dizer que a decisão de cassar deputados deverá ser democrática e feita pela maioria absoluta do plenário da Câmara, com a análise da situação individual dos acusados e amplo espaço para defesa.
"No caso desta lista de pessoas que estão para ser punidas, há os que podem ter participado de algum recebimento de recursos de maneira diferenciada em relação a outros. Isso vai ser objeto de plenário da Câmara, haverá oportunidade de defesa." E emendou: "Cada caso é um caso. Só porque são casos até semelhantes, não significa que são iguais. Por isso a democracia é importante. Como dizia Winston Churchill, a democracia é um péssimo regime, só que não há outro melhor".
A CPI dos Correios vai encaminhar pedido de cassação de 18 deputados citados nas investigações. Do PL, partido do vice-presidente, fazem parte da lista dois deputados.

Falcatruas
Alencar fez as afirmações ao participar de evento na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria) em Brasília. Questionado sobre as denúncias que atingem seu partido e, em especial, o presidente da legenda, ex-deputado Valdemar Costa Neto, que renunciou ao mandato após admitir que fez uso de caixa dois, Alencar disse que líderes partidários devem se afastar quando cometeram irregularidades.
Mesmo assim, condenou o que chamou de "juízo precipitado": "Acho que até prova em contrário, as pessoas devem ser respeitadas. Então, se houver um crime por parte de um membro do partido, é natural que ele próprio se alije, porque a vida pública não comporta, não há espaço na vida pública para falcatruas".
E ressaltou que é melhor ser incompetente do que ser corrupto: "Pode ser um homem público, fazer todo o esforço, mas ser incompetente. Isso é uma marca, mas não é uma marca letal. Marca letal é quando atinge o ético".
No PL desde 2001, Alencar afirmou que, por ora, não pensa em deixar o partido. "Não costumo dizer dessa água não beberei, mas isso não significa que eu esteja pensando em mudar de partido."
Uma reunião hoje em Brasília, de lideranças do PL, deve discutir as denúncias que envolvem o partido e a permanência de Valdemar na presidência da legenda. Alencar, que participa do encontro, negou estar pedindo que o ex-deputado deixe o posto.
Sobre o andamento do trabalho do governo em meio à crise, o vice afirmou que "não tem nada parado". "Considerando que a crise acaba ocupando todo o espaço da mídia, dá a impressão de que não se faz mais nada", ponderou.


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