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ELIO GASPARI
De JorgeAmado@edu para JeanyMaryCorner@com.br
Jeany, amor, Jorge não tem
nada a ver com isso. Usamos
o e-mail dele porque, mesmo
aqui onde estamos, mulheres de
nossa vida evitam dar endereços à cana.
Somos as marafonas do Jorge
Amado, michês de todos os romances.
Maria, Violeta e Lúcia, as três
irmãs de Ferradas, unidas em
seu destino. Quitéria do Olho
Arregalado, Lindinalva, Doralice e Ernestina. As Margôs do
Pelourinho e de Ilhéus, a da
"sombrinha de muito pano".
Magníficas, mansuetárias meretrizes: Rita Tanajura, Rosália,
La Lola e Zabela, rainha do
Cancan. Viemos da Pensão
Monte Carlo, dos Castelos da
Sabina e de Tibéria, dos Bataclans e do Trianon.
Sabemos o que estão fazendo
contigo. Foste chamada de amiga, irmã e princesa. Agora és
apenas cafetina. Pois cafetina
sejas e nossa escrita destina-se a
incitar a Grande Rebeldia da
Cafetina Jeany Corner e de suas
Meninas. Explicamos.
Queimaram o filme de uma
de tuas garotas. Podiam ter feito de tudo. Tem gente que sai
sem pagar. Tem até quem chame a polícia. Tem quem conta
tudo para a legítima. Tudo isso
se faz porque acontece. Queimar filme, não. Jorge nunca escreveu o nome certo da moça
que o relojoeiro do Recôncavo
levou. (Ela montou uma imobiliária, enricou vendendo terra
para tucanos paulistas e é suplente de deputado pelo PFL.)
Podemos te dizer: o filme da
garota foi queimado por cliente
da casa.
Sabemos e contamos. Temos
licença. Quem duvidar desafie.
Chegou a nossa hora, desocupem nosso espaço na história da
brava gente brasileira. Quando
se acabou a ditadura do Getúlio
Vargas vieram os liberais, moços, poetas e romancistas (o Jorge foi Constituinte de 1946).
Abriu-se o rendez-vous do edifício São Borja, na avenida Rio
Branco, em frente ao velho Senado. Tanta foi a liberdade que
Jango e Garrincha namoraram
a mesma vedete. (Passou por
aqui o general Sukarno, aquele
que governou a Indonésia. Perguntou pelas pernas da Amparito, que conheceu na boate
Night and Day.) Vieram os militares e o Roberto Campos. Dele não falamos. Debochou da
Natasha, que desmonetarizou-o na Lapa. Em São Paulo, reinou o La Licorne, casa reputada, ensurdecida numa noite por
escandalosas sirenes. Parecia
prenúncio de polícia, mas era
prelúdio da paixão de poderosos. Foi o esplendor do patronato. Sabemos de meninas que
nessas noites de chumbo ajudaram lindos guerrilheiros e disso
só se arrependem agora. Eles se
aposentaram pelo Bolsa-Ditadura e elas encalharam no
INSS.
Bons tempos os dos lupanares.
Havia paixão no bordel. Faz algum tempo que criaram por aí
o marafa-delivery. Em Brasília,
recentemente, esse serviço atendia a uma legação de caipiras
paulistas.
Querida Jeany. Por nossos arcos já passaram todos os triunfos.
Bacharéis, militares, patrões,
empregados, policiais, guerrilheiros, economistas e empreiteiros. Deitados, nos contaram
como juntaram seus patrimônios.
De pé, fizeram com o Brasil
aquilo que só lhes permitimos
na cama por preço justo, expresso e previamente tratado.
Queimaram o filme da colega? Pois o dia é hoje. Que cada
meretriz, rameira, garota de
programa, michê, quenga, seja
da modalidade denominada
avião ou baranga, municipal
ou federal, conte o que sabe a
quem quiser ouvir. Conte tudo
Jeany, ponha na internet as memórias das tuas moças. Já não
se fazem pessoas como Julieta
Zude, aquela que disse a Lola:
"Pelo amor de Deus, não conte
nada...".
A Grande Rebeldia da Cafetina Jeany e de suas Meninas não
jogará lascas sobre as boas famílias. Jorge nos instruiu: o que
fazemos deitadas o trinco tranca. Só contaremos o que ouvimos de pé, mas contaremos tudo, de todos.
O Brasil fará história. Depois
de ter sido governado por um filho de pais incógnitos (o padre
Diogo Feijó, homem macho da
Regência) será a primeira nação onde a moralidade foi restabelecida depois de uma rebelião de putas.
Força, mulher,
Pelas meninas,
Jorge Amado
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