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JANIO DE FREITAS
Tudo pelas galinhas
Vá lá que a Embaixada dos Estados Unidos, que nem embaixador tem, se meta a condenar a
Justiça brasileira, e o governo
-refiro-me ao nosso, que é sobretudo deles- não cumpra o
seu dever constitucional de repelir a intromissão. Mas que não
defenda com a devida energia as
nossas galinhas, aí, concordemos
com Itamar Franco, é a inércia
dos covardes.
Deu-se que um jornal inglês, o
"Daily Mail", importante pela alta vendagem inversamente proporcional à qualidade, publicou
anúncio de página inteira contra
as nossas galinhas. Comê-las seria correr o risco de contrair certas doenças. Os ingleses, está-se
vendo, continuam não sabendo
de nada. Mas o fato é que na famosíssima "Marks & Spencer",
por exemplo, diz o anúncio que
não se encontra mais galinha
brasileira.
Parece incrível que em algum
lugar da Europa não se encontrem galinhas brasileiras, para todos os gostos e preços. Nem mesmo a penetração das galinhas
asiáticas abalou o prestígio das
nossas (a propósito, o anúncio sugere que os ingleses não comam
também as tailandesas). Prestígio, porém, há que o defender
sempre, ou se esvai.
Por isso é inaceitável que a reação do governo brasileiro se tenha
resumido a uma carta do ministro Pratini de Moraes às autoridades sanitárias inglesas, assegurando-lhes que os ingleses podem
pagar sem receio para comer galinhas brasileiras, que nossas galinhas são muito boas. Ora, que são
boas todo mundo sabe.
É preciso defendê-las, despertar
os nossos diplomatas, consultar
publicitários com a experiência
de Roberto Justus para uma campanha pelas galinhas brasileiras.
Lá fora, elas são a mais notória
marca registrada do Brasil. Nas
exportações brasileiras mais destacadas, as galinhas estão ao lado
do café, do minério de ferro e dos
travestis.
Em tempo: a menção à ausência de embaixador dos Estados
Unidos no Brasil, há mais de um
ano, é meio imprópria. Os americanos têm embaixador, sim. Fica
no Planalto.
Inocências
O Tribunal de Contas da União
levou meio ano para inocentar
Mendonça de Barros e André Lara Resende do que não estavam
acusados. Sempre ficou claro não
terem eles influído no resultado
do leilão que entregou a Telerj ao
consórcio Telemar.
Muito ao contrário, esse resultado foi o imprevisto. O consórcio
representado por Pérsio Arida,
que deveria ficar com a Telerj,
também por imprevisto antes
comprara com outra das teles.
Como o acúmulo fosse proibido,
a Telerj foi parar com o grupo
que ninguém, muito menos Mendonça, Lara e Arida, imaginara.
Ou desejara.
Entreguismo
A explicação de Andrea Calabi
para a mudança de regra na privatização da Cesp em cima da
hora é, no mínimo, ridícula. Ao
estender, de repente, a estrangeiros o financiamento, pelo
BNDES, de metade do preço, Calabi liquidou o pretendente brasileiro e diz que mudou a regra
"para salvar o leilão".
Além disso, o que Calabi tira de
projetos brasileiros para financiar o comprador, o poderoso
grupo americano AES, é mais do
que esse grupo "pagará" acima
da proposta do segundo colocado. Na diferença vencedora, o
Brasil recebe menos do que põe.
Na privatização brasileira não
basta entregar as empresas, entrega-se também o dinheiro. Inclusive o que enche as burras do
BNDES com o Fundo de Amparo
ao Trabalhador, que desse fundo
não vê centavo.
Quem quiser achar que isso tudo acontece por ingenuidade, ou
incompetência, continua com liberdade de fazê-lo.
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