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NEPOTISMO
Ministério Público estadual promove "cruzada" contra a contratação de familiares pelos três Poderes
AC nomeou 11 parentes de governador
LUCIO VAZ
enviado especial a Rio Branco
O governo do Acre nomeou 11
parentes do governador, Jorge
Viana (PT), e dois parentes do vice-governador, Edson Cadaxo
(PSDB), em cargos de confiança
nos primeiros escalões da administração.
Pressionado pelo Ministério
Público Estadual, Viana já exonerou dois tios, Wilson e Wilian
Cruz das Neves, e um cunhado,
Luiz Carlos Simão Paiva. Mas permanecem no governo sete primos
e o marido de uma prima do governador, além de dois filhos do
vice-governador.
A ex-mulher do governador,
Áurea Brilhante das Neves, foi
contratada pelo gabinete do senador Tião Viana (PT), irmão do
governador. Ela trabalha no escritório do senador em Rio Branco.
O Ministério Público faz uma
"cruzada" contra o nepotismo no
Acre. Essa ação já resultou na demissão de 23 parentes de desembargadores do Tribunal de Justiça, em junho. A ação contra o governo estadual foi arquivada depois que o governador demitiu os
parentes até o terceiro grau.
No Tribunal de Justiça, só o vice-presidente, Jersey Pacheco Nunes, empregava seis parentes, incluindo a mulher e duas irmãs. A
soma dos salários desses parentes
chegava a R$ 30,8 mil.
O presidente do tribunal, Francisco das Chagas Praça, empregava a mulher, uma filha e um irmão, os três com salário de R$
6.720. A filha, Daniella, foi reintegrada por decisão judicial. "A Justiça fez a sua parte. Agora, espera-se que o mesmo tratamento seja
dado aos outros poderes", disse o
desembargador.
Assembléia Legislativa
A ofensiva do Ministério Público também chegou à Assembléia
Legislativa, onde a maioria dos 24
deputados contratou parentes. O
Legislativo tem prazo até o dia 30
de novembro para exonerar todos os parentes contratados nos
gabinetes. Do contrário, o Ministério Público moverá ação na Justiça contra o nepotismo.
O presidente da Assembléia,
Sérgio Petecão (PMN), aliado do
governador, empregou uma irmã, a mulher e um cunhado. Ele
disse que vai obedecer ao Ministério Público, mas adiantou que haverá resistências. "Alguns deputados já me disseram que vão discutir isso na Justiça."
O promotor Cosmo Lima, do
Ministério Público, reconhece
que não há uma lei regulamentando a contratação de parentes.
Mas lembra que a Constituição
determina, no seu artigo 37, que a
administração pública obedecerá
aos princípios de "impessoalidade" e "moralidade", entre outros.
A líder do PT na Assembléia,
Naluh Gouveia, que contratou o
seu ex-padrasto para trabalhar
como motorista, comentou a
contratação de parentes no governo estadual. "A gente está provando do próprio veneno. A gente não colocou a discussão certa.
O importante é se a pessoa trabalha. O PT inflacionou a discussão.
Agora, tem que dar o exemplo,
porque cobrou isso a vida toda."
Além de contratar parentes, Petecão encontrou uma maneira
criativa para pagar os salários dos
20 funcionários do seu gabinete.
Eles passaram procurações para a
mãe do deputado, Raimunda de
Oliveira Cunha. No dia do pagamento, ela recebe os salários e faz
os repasses para os servidores.
Essa operação acontece desde a
legislatura passada, quando a verba de gabinete foi aumentada de
R$ 12 mil para R$ 18 mil. O Ministério Público está investigando se
parte dos salários dos funcionários fica com o deputado.
Os funcionários já prestaram
depoimento e afirmaram que recebem integralmente o seu salário. O promotor Ubirajara Albuquerque disse não ter provas de
que houve repasse de parte dos
salários para o deputado, embora
afirme que "esse parece ser o objetivo lógico".
Petecão confirmou à Folha que
a sua mãe recebeu as procurações. "Fizemos assim porque a
maioria dos meus funcionários
trabalha do interior. Muitos teriam dificuldades de vir receber
na capital", disse.
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