São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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Liberação é antecipada em 2 anos

da enviada especial

A família de Salim Felício esperou 17 anos para vencer na Justiça uma ação contra o DNER pela desapropriação de terras em Mato Grosso.
Em 1998, finalmente, com Salim já morto, o precatório do espólio foi incluído no Orçamento do governo para ser pago em 1999. Ele figura em 8º lugar na lista de precatórios do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
O problema é que o DNER, se paga precatórios patrocinados por lobistas, atrasa dois anos quando o pagamento tem que ser feito por meio dos tribunais. Assim, a família só receberia o dinheiro no ano de 2001.
Para tentar acelerar o processo, o economista Edio Felício, inventariante do espólio, recorreu a parlamentares que ele conhecia em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde vive.

""50% de cara"
Numa conversa gravada com a Folha, em que a repórter se apresentou como titular de um precatório, contou um pouco de sua saga. "Parlamentar, eu tentei também. Não dá negócio, hein?" Isso porque, segundo ele, "vão pedir 50% de cara. Eu tentei com um deputado de Mato Grosso do Sul (...) Mas, de cara, se não abrir mão de metade -prá eles, hein!- nem começam a se movimentar."
A advogada de Felício, Zenild Coutinho, também conversou com a Folha imaginando tratar-se de uma credora do DNER.
"O pessoal, quando a gente tem precatórios grandes, eles ficam em cima da gente." O problema, segundo ela, é o dinheiro que pedem.

""Mamata"
"Eu até falei para um: olha, pelo amor de Deus, você trabalha, você tem um escritório (...), trabalha igual a um louco para dar na mamata 50%, 40%? É muito dinheiro."
Até que eles foram procurados pelo lobista João Luiz da Fonseca, que cobrava menos: 25% do valor do precatório.
Depois de conversar com a família, Edio Felício concordou em contratar o lobista.
"De outro jeito não sai", diz ele. A advogada Zenild diz que, só oferecendo um desconto diretamente ao DNER, o pagamento não sai. "Não resolve, não resolve."
O lobista foi contratado, e o precatório, pago em seis meses. Zenild diz que não sabe o que o lobista Fonseca fez com o dinheiro. "Isso aí eu não sei. Eu dei para eles, agora o que eles fazem eu não sei. São os lobistas, né?"
Ela nem sabe direito quem é Fonseca. Mas está satisfeita com o serviço. "Eu só sei que ele tem muita influência lá dentro do ministério e junto ao órgão, porque senão a gente não receberia."


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