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Liberação é antecipada em 2 anos
da enviada especial
A família de Salim Felício esperou 17 anos para vencer na Justiça
uma ação contra o DNER pela desapropriação de terras em Mato
Grosso.
Em 1998, finalmente, com Salim
já morto, o precatório do espólio
foi incluído no Orçamento do governo para ser pago em 1999. Ele
figura em 8º lugar na lista de precatórios do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
O problema é que o DNER, se
paga precatórios patrocinados
por lobistas, atrasa dois anos
quando o pagamento tem que ser
feito por meio dos tribunais. Assim, a família só receberia o dinheiro no ano de 2001.
Para tentar acelerar o processo,
o economista Edio Felício, inventariante do espólio, recorreu a
parlamentares que ele conhecia
em Campo Grande, Mato Grosso
do Sul, onde vive.
""50% de cara"
Numa conversa gravada com a
Folha, em que a repórter se apresentou como titular de um precatório, contou um pouco de sua saga. "Parlamentar, eu tentei também. Não dá negócio, hein?" Isso
porque, segundo ele, "vão pedir
50% de cara. Eu tentei com um
deputado de Mato Grosso do Sul
(...) Mas, de cara, se não abrir mão
de metade -prá eles, hein!-
nem começam a se movimentar."
A advogada de Felício, Zenild
Coutinho, também conversou
com a Folha imaginando tratar-se de uma credora do DNER.
"O pessoal, quando a gente tem
precatórios grandes, eles ficam
em cima da gente." O problema,
segundo ela, é o dinheiro que pedem.
""Mamata"
"Eu até falei para um: olha, pelo
amor de Deus, você trabalha, você
tem um escritório (...), trabalha
igual a um louco para dar na mamata 50%, 40%? É muito dinheiro."
Até que eles foram procurados
pelo lobista João Luiz da Fonseca,
que cobrava menos: 25% do valor
do precatório.
Depois de conversar com a família, Edio Felício concordou em
contratar o lobista.
"De outro jeito não sai", diz ele.
A advogada Zenild diz que, só
oferecendo um desconto diretamente ao DNER, o pagamento
não sai. "Não resolve, não resolve."
O lobista foi contratado, e o precatório, pago em seis meses. Zenild diz que não sabe o que o lobista Fonseca fez com o dinheiro.
"Isso aí eu não sei. Eu dei para
eles, agora o que eles fazem eu não
sei. São os lobistas, né?"
Ela nem sabe direito quem é
Fonseca. Mas está satisfeita com o
serviço. "Eu só sei que ele tem
muita influência lá dentro do ministério e junto ao órgão, porque
senão a gente não receberia."
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