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O CLIENTE
"O negócio tá bem salgado"
da enviada especial
O economista Edio Felício, inventariante do espólio do pai,
conseguiu furar a fila de precatórios do DNER. Recebeu pouco
mais de R$ 5,6 milhões e afirma
que pagou "propina".
Felício - Não. O negócio tá bem salgado, mas foi a maneira que a família
minha encontrou para resolver a questão.
Folha - Quanto estão cobrando?
Felício - Começaram com 30, saiu
por 25. Mas se falarem, nem te falei isso.
(...)
Folha - Esses 30% são o quê, do
DNER?
Felício - Não. É do escritório.
Folha - O senhor recebeu R$ 5
milhões e teve que deixar 25%?
Felício - É. Não, teve mais 10% de
doação para o DNER.
Folha - Ah, sim, desconto?
Felício - Desconto, não. É doação
mesmo. Sabe por quê? O DNER, ele tem
uma pauta. E dependendo das condições em que estiver o seu precatório, e
ele estiver embaixo na lista de chamada,
tem que dar algum motivo especial para
que ele passe na frente.
Folha - E qual é o motivo?
Felício - Doação. É doação que se fala. Aí você assina o contrato de doação.
Doa um pedaço do que você tem para
receber para o DNER.
Folha - Falando mais claramente:
tem que dar uma propina?
Felício - Não, não. É doação mesmo.
A propina é o contrato de prestação de
serviço.
Folha - Com o escritório?
Felício - É, isso sim. Agora, para o
DNER é doação mesmo.
Folha - A pessoa me deu a lista
falou: tenta pessoas, procuradores
que conseguem. Com a Zenild, um
tal de Ulisses...
Felício - Aí vai encontrar vários, é
verdade.
Folha - Eu vi aqui que o senhor
tinha um precatório de R$ 6,13 milhões e acabou recebendo R$
5,617 milhões.
Felício - Exato, exato. Porque o resto
eu fiz doação para o DNER, 10%. Era R$
6,13 milhões eu dei R$ 613 mil.
Folha - O senhor ficou com R$
5,617 milhões. O senhor teve que
dar para o escritório?
Felício - Isso.
Folha - Quanto o senhor teve
que dar?
Felício - (Rindo) 25%.
Folha - Mentira!
Felício - É, sim.
Folha - Dos R$ 5,6 milhões? Ah,
não.
Felício - Mas aí você negocia. Cada
negócio é um negócio, né? Eu resolvi
abrir mão porque a família resolveu
dessa forma.
Folha - Era melhor do que não
receber nada?
Felício - É, isso, porque o negócio estava muito demorado, e daí, depois do
falecimento do meu pai, a gente resolveu, enfim.
Folha - De outro jeito não sai?
Felício - De outro jeito não sai.
Folha - Com parlamentar?
Felício - Vão pedir 50%, de cara, fora
a doação ao órgão. Eu tentei esse caminho também. Eu tentei com um deputado de Mato Grosso do Sul. (...) Foi uma
porção de políticos conhecidos da gente, mas de cara, se não abrir mão de metade -prá eles, hein-, eles nem começam a se movimentar.
(...)
Felício - (...) Já que estamos falando
abertamente, eu acho que parlamentar,
eu tentei também, não dá negócio.
Folha - Eles pedem 50%?
Felício - É.
(...)
Felício - Olha, não foi diretamente
para mim. Os políticos, em geral, os que
eu consegui contatar foi nessa faixa. Todos eles falaram a mesma coisa.
Folha - Que é a metade.
Felício - É.
(...)
Folha - Eu estava pensando em
falar com algum parlamentar de
São Paulo. Para chegar neles é como, através de um assessor?
Felício - Olha, eu não sei, precisa conhecer. Chegar direto assim, eu não sei.
Folha - O senhor já os conhecia?
Felício - A doutora de Cuiabá conhecia os políticos de lá, e eu tentei em Mato
Grosso do Sul. Mas a gente só tenta na
origem e cai fora. Porque não dá. Senão
ia ter que pagar para retirar, a gente ainda tem que acabar pagando.
(...)
Felício - Não precisa ter receio, não,
viu. Se quiser tentar esse caminho, eles
(os parlamentares) chegam a você. Não
é você que vai chegar a eles.
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