São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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OUTRO LADO
Ministro dos Transportes afirma que mandou investigar desvio no MT e quer centralizar processos
Padilha nega envolvimento com liberação

da enviada especial

O ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, diz que está atento ao problema de pagamentos de precatórios há oito meses. Afirma que, num despacho manuscrito à consultoria jurídica do ministério, no dia 10 de dezembro, determinou que fosse criada uma central informatizada em que constassem todas as ações judiciais contra órgãos da pasta. "Acordos, só com o OK do ministro", escreveu Padilha. Por falta de recursos, a central não foi criada.
Outra providência moralizadora, segundo ele, foi a abertura de uma sindicância para investigar um acordo do DNER (Departamente Nacional de Estradas de Rodagem) para o pagamento de uma indenização milionária no Estado de Mato Grosso. O resultado da sindicância fica pronto na quarta-feira, e o ministro promete exonerar quem estiver envolvido em irregularidades.

Folha - Ao analisar o pagamento de precatórios pelo DNER fica claro que há ilegalidade nessas operações. O senhor tem conhecimento disso?
Eliseu Padilha -
Eu não tenho conhecimento de nenhum fato. Basicamente, sei que há alguns acordos com base num decreto. Não sei com quem, não sei valor, não sei nada. Há oito meses baixei um ato pedindo que houvesse um controle maior por parte dos presidentes das entidades.

Folha - O que seria esse controle?
Padilha -
Não poderiam, na minha visão, estar sendo feitos acordos com precatórios a torto e a direito nas entidades, entende? Então mandei centralizar o controle disso, só que ainda não foi possível.

Folha - Estão sendo feitos acordos irregulares no DNER, e o diretor financeiro, Gilson de Moura, que é pessoa da sua confiança, está autorizando os pagamentos, embora ele tenha o poder de barrar isso.
Padilha -
Mas se tu fosses pagar o que tem de demanda, o dinheiro da República seria pouco. Então, eu penso que esse tipo de liberação é excepcional. Eu penso, não é? Eu acho que não é a regra, mas eu não tenho elementos para te dizer nada. Tomei conhecimento de um caso suspeito, mandei abrir uma sindicância porque achei que o valor não podia ser o certo.

Folha - Foi gravada uma conversa com um lobista em que ele diz o seguinte: quem manda liberar o pagamento dos precatórios é o ministro.
Padilha -
(ri) Ah! Ah! Mas por quê?

Folha - Ele diz que o senhor centralizou as decisões do DNER no ministério.
Padilha -
Negativo. Eles têm autonomia em todas as áreas.

Folha - Outro lobista diz que trabalha para o doutor Aranha, que seria um parente do ex-ministro Oswaldo Aranha e que ele teria acesso direto ao senhor.
Padilha -
(rindo) Negativo. Nunca recebi ninguém para tratar desse tipo de assunto. Nunca. Absolutamente. Nunca. Nem sei de quem se trata. Nem Aranha, nem cobra, absolutamente não.

Folha - O senhor não acha que existe um descontrole no DNER quanto a isso?
Padilha -
Tanto penso que tem que ter maior controle que abri uma sindicância, não é? Senão não teria aberto, não é mesmo?



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