São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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Não convém brigar, diz diretor do DNER

da enviada especial

O diretor financeiro do DNER, Gilson Zerwes de Moura, 36, é o funcionário que tem o poder de autorizar o pagamento de precatórios no DNER. Em entrevista, Moura diz que se limita a autorizar o que é preparado pela procuradoria geral do órgão e que desconhece qualquer irregularidade. "Não convém para um diretor começar uma briga. Estou há seis meses aqui. Então, eu estou indo devagarinho", declara ele.

Folha - Há uma série de pagamentos sendo feitos no DNER com o dinheiro destinado a precatórios e que na realidade são acordos extrajudiciais.
Gilson de Moura -
Aí a responsabilidade já não é minha, entendeu? Aí é a procuradoria que tem que se manifestar.

Folha - Este ano vocês pagaram, pelos tribunais, precatórios de 1996. Não foi pago ainda nenhum precatório de 1997 e nenhum de 1998. A não ser aqueles que conseguiram fazer acordo.
Gilson -
Isso.

Folha - Mas por quê?
Gilson -
Pela vantagem. A procuradoria tem que demonstrar a vantagem econômica para o órgão.

Folha - Dez por cento é vantagem?
Gilson -
Depende. Dez por cento de quanto?

Folha - Vários advogados dizem que dão desconto até de 50%, se também tiverem a possibilidade de receber um precatório do DNER.
Gilson -
A procuradoria é que tem que agir.

Folha - Mas, veja bem, é o sr. quem autoriza o pagamento. Se o sr. sabe que existe uma fila enorme de gente para receber e alguns dão um desconto só de 10%, sr. não percebe que é um desconto pequeno?
Gilson -
Sim, mas a procuradoria está dizendo que tem vantagem.

Folha - Quer dizer que a procuradoria manda no dinheiro do DNER?
Gilson -
No dinheiro destinado aos precatórios, sim.

Folha - Ela tem essa autonomia?
Gilson -
Sim, sim, sim. É ela, inclusive, que pede o dinheiro ao Tesouro Nacional para ser efetuado o pagamento dos precatórios.

Folha - Mas então não há controle nenhum? Os procuradores fazem o que eles querem?
Gilson -
Eu diria que sim. Eles têm autonomia, inclusive, dada pela Advocacia Geral da União.

Folha - Eles têm autonomia jurídica, mas não para ordenar os pagamentos. O sr. não pode contestar a procuradoria?
Gilson -
Eu posso, mas por quê, se está manifestada nos autos a vantagem?

Folha - O ministro do STF Celso de Mello diz que esses acordos são ilegais. A diretora do TRF, Leila Peixoto, diz que isso é ilegal, imoral.
Gilson -
Ah. Aí eu vou então pressionar a procuradoria. É isso o que tem que se fazer.

Folha - Mas o sr. não percebe nada? Porque são grandes valores. Não é um precatoriozinho qualquer que sr. está pagando. O sr. foi colocado aqui como uma pessoa que tem a confiança total do ministro. É para justamente aprovar ou negar esses pagamentos.
Gilson -
Não convém para um diretor começar uma briga. Estou há seis meses aqui. Então, eu estou indo devagarinho. Há pessoas na procuradoria que têm 20 anos de serviço.

Folha - Mas por que não enfrentar isso?
Gilson -
Não convém enfrentar.

Folha - Por quê?
Gilson -
Não convém. Eu tenho 36 anos, sou uma pessoa nova, tenho família, entendeu?

Folha - Não.
Gilson -
É mais ou menos por aí.



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