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CELSO PINTO
Europa negocia
livre comércio
Frankfurt - No final de novembro, a União Européia (UE) fará
talvez a última rodada de negociações para um acordo de livre
comércio com o México. As negociações estão muito avançadas e
a intenção é fechar o acordo antes
do final do ano.
Se der certo, será o primeiro
acordo desse tipo da UE com um
país latino-americano. Negociado num tempo muito curto: as
conversas começaram há um
ano, em novembro de 1998.
Os mexicanos querem terminar
a negociação até dezembro para
não misturá-la com as eleições
presidenciais do próximo ano. A
UE também quer concluí-la neste
ano para evitar que ela atropele a
Rodada do Milênio da Organização Mundial de Comércio
(OMC), cujo pontapé inicial será
dado em novembro, em Seattle.
Para o Mercosul, que, em junho, decidiu iniciar negociações
para um tratado de livre comércio com a UE, na reunião de cúpula do Rio de Janeiro, um sucesso no acordo com o México será
um bom sinal. Mostrará o quanto
interessa à Europa marcar presença na região.
"Não queremos deixar os americanos sozinhos", diz Wolfgang
Hantke, chefe do Departamento
de Relações com a América Latina do Ministério da Economia e
Tecnologia da Alemanha, em
Berlim. Os Estados Unidos gostariam de concluir um acordo de livre comércio (Alca) com a América Latina até 2005. Hantke acha
que é possível a Europa concluir
seu acordo de livre comércio com
o Mercosul até 2004.
No caso do México, existiram
duas boas razões para a rapidez
das negociações. Uma é a experiência mexicana em negociações
desse tipo, a partir do Nafta, o
acordo de livre comércio com a
América do Norte. Hoje, graças
ao Nafta, de 80% a 90% do comércio exterior mexicano é feito
com os Estados Unidos. O acordo
com a UE ajudará a reduzir um
pouco essa dependência.
A outra razão, muito importante, é que o México não tem problemas para negociar produtos
agrícolas com a UE. Na verdade,
o México é importador líquido de
alimentos da UE e seu principal
interesse nas negociações está na
área industrial.
Os europeus, como se sabe, têm
uma poderosa rede de proteção
agrícola e, especialmente por
pressão francesa (mas também
da Espanha e de Portugal), relutam em reduzir tarifas e eliminar
barreiras não-tarifárias nessa
área. Esse é o ponto nevrálgico
das negociações da UE com o
Mercosul e foi a razão para o
quase fracasso da reunião do Rio.
A outra dificuldade nas negociações de um acordo de livre comércio com o Mercosul será o setor de serviços. Hantke lembra
que Espanha e Portugal relutam
em liberalizar a aceitação mútua
de profissionais liberais, como
médicos e dentistas, pelo medo da
pressão latino-americana em
seus mercados de trabalho.
Hantke diz que o acordo com o
México vai prever períodos de
transição para a eliminação de
tarifas para várias indústrias mexicanas, como automobilística,
de calçados e têxtil. Pelas regras
da OMC, um tratado regional ou
bilateral de livre comércio deve
abranger "praticamente todo o
comércio" para ser aceito, o que
interpreta-se como cerca de 90%
do comércio. O período de transição para a liberalização, por sua
vez, deve ser, no máximo, de dez
anos.
Na negociação com o Mercosul,
aceitou-se começar pela discussão
de barreiras não-tarifárias (regulação, normas, licenças etc.). A
discussão sobre tarifas industriais
e agrícolas só começará em 2001.
Hantke acha que as negociações
serão complicadas, especialmente
na área agrícola, mas está otimista.
A Alemanha foi um importante
aliado do Mercosul na reunião do
Rio e está muito interessada no
acordo. Seu principal parceiro na
América Latina é o Brasil, para
quem a Alemanha vendeu, no
ano passado, 9,6 bilhões de marcos (US$ 5,3 bilhões) e de quem
comprou 6,7 bilhões de marcos
(US$ 3,7 bilhões). Para toda a
América Latina, a Alemanha exporta 30 bilhões de marcos (US$
16,6 bilhões) e importa 17 bilhões
de marcos (US$ 9,4 bilhões). A
América Latina representa apenas 3,8% do comércio global alemão.
Nas relações com o Brasil,
Hantke diz que existe grande potencial para aumentar investimentos de pequenas e médias empresas alemãs. A Alemanha reclama, contudo, que o acordo de
proteção de investimentos, assinado pelos dois governos, está parado há dois anos no Senado brasileiro à espera de ratificação.
O tratado garante tratamento
nacional para as empresas dos
dois países em matéria de tarifas,
impostos, subsídios e assegura
compensação em caso de expropriação. A Alemanha já tem
acordos desse tipo com a Argentina, Chile e México.
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