São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2000

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ESTILO
Prefeita eleita de SP segue linha mais próxima de Hillary do que de Ruth
Petista está mais para Albright do que para Jackie

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Mais para Madeleine Albright do que para Jackie Kennedy; mais Hillary Clinton, menos Ruth Cardoso. Chega ao poder a elegância discreta de Marta Teresa Smith de Vasconcellos Suplicy. O estilo da nova prefeita de São Paulo combina com a personalidade plurifacetada da metrópole, que preserva sua essência, mas tem jogo de cintura para se adaptar a diferentes situações.
De jaqueta jeans, ela visita Sapopemba; de longo preto com estola de cetim, pérolas e brilhantes, chega à festa de casamento de Michel Temer (talvez seu momento mais Lady Di) na casa noturna Leopoldo, no Morumbi (foto 6). Eleita, Marta assumiu de vez o vermelho, visto primeiro no xale (foto 2) com que foi votar no colégio Madre Álix, na elegante alameda Gabriel Monteiro da Silva (Jardim Europa). "É o PT vermelho", chegou a declarar a "Marta do PT". Usado sobre o terninho básico cor de creme, o xale serviu para envolver a prefeita, que, ao abrir os braços, encarnou uma espécie de pomba-gira sufragista, para deleite dos fotógrafos.
Na avenida Paulista, foi de camisa vermelha sobre cacharrel branca e, depois, foi de vermelho absoluto à festa do PT, de tailleur. Cor oficial do partido, pode-se dizer que também é vermelho o matiz do comunismo. Presta-se bem à vitória, ao destaque público, sobressai-se dentro das massas. Recentemente, designers de embalagens e criadores de imagem perceberam a supremacia do vermelho sobre o prata, na representação do conceito de futuro. O novo futurismo, então, é vermelho.
Antes da cor vencedora apareceu o cor-de-rosa, como no tailleur de decote drapeado usado por Marta Suplicy no último debate na TV com Maluf. A cor, tão ou mais fashion que o tal vermelho, bate e rebate com a alcunha de "PT cor-de-rosa", também a cor que simboliza o movimento gay (além, é claro, do famoso arco-íris).
"PT Chanel" é outro dos apelidos do estilo Marta Suplicy dentro do partido, alusão que se pretende depreciativa à maison francesa de alta-costura e prêt-à-porter, por si um universo frívolo, bem distante da realidade dos trabalhadores e assalariados brasileiros. Mademoiselle Gabrielle Coco Chanel (1883-1971) é, por sua vez, símbolo da nova mulher, que nos anos 20 se valeu de tecidos até então restritos à moda masculina/ esportiva, como o jérsei, e de uma silhueta desestruturada que libertou as mulheres dos espartilhos usados na época.
Longe de ser uma "vítima da moda", a nova prefeita é adepta do chamado "hype invisível". Ou seja: prefere roupas de qualidade e até mesmo de grife, mas que não sejam ostensivas nem imediatamente reconhecíveis -mesmo por olhares treinados.
Das grifes internacionais, já disse que gosta de Valentino, um estilista famoso pela discrição e elegância, pelo corte feminino sem maiores ousadias. As preferidas cores em tons pastel (verde e azul, principalmente) combinam bem com os olhos verdes da prefeita, e não brigam com o tom louro acinzentado (sempre em cima) da tintura de seus cabelos, curtos, como se espera de uma mulher executiva.
A foto de Marta com o paletó segurado por uma das mãos, nas costas, se constitui peça fundamental da campanha eleitoral: trata-se do emblema da mulher que "põe a mão na massa", mas que não abre mão de seu charme e de sua feminilidade. Mais: de sua condição feminina.
Deve ter sido nos tempos da televisão, quando sexóloga de plantão do "TV Mulher", nos anos 80, que Marta Suplicy aprendeu a administrar a imagem, com roupas que ficam bem ou não no vídeo ou nos registros dos fotógrafos. É certo que, naquela época, eram mais curtas as saias dos terninhos (agora fixadas em quatro dedos acima do joelho, como no look acetinado com que subiu a avenida Tucuruvi em setembro).
Os vestidos, estes têm sido de comprimento "longuette" ou mesmo longo, comportados mesmo, como o que a então candidata fez sua visita ao mundo da moda em si. Marta foi assistir em julho último ao desfile de Alexandre Herchcovitch, justamente o mais moderno, o mais vanguarda, o mais transgressor do cenário fashion brasileiro.
Ela se deixou fotografar sob as luzes ultravioleta da passarela do estilista (foto 7), as mesmas usadas nas câmeras de bronzeamento artificial, -verdadeira "photo opportunity".
Não foi a primeira vez que Marta Suplicy caiu no mundinho fashion: por conta do apreço em relação à assessora da marca Zoomp, Fabiana Kherlakian, ela compareceu numa temporada ao desfile da grife paulista vestindo "total look Zoomp". Fabiana foi casada com o cantor Supla, filho da prefeita, este sim cheio de atitudes -na moda e no palco (do estilo dele pode-se até dizer que é punk, bem ao gosto das ruas de Nova York, onde ele mora).
De candidata a prefeita, Marta Suplicy tem evitado, com sobriedade, maiores riscos (como as transparências nas festas da rua Grécia) ou mesmo gafes. Mas é possível identificar como verdadeiro equívoco fashion o pavoroso poncho vestido na visita à favela de Paraisópolis em junho (foto 4), quando foi acompanhada pelos rapper Thaíde e pelo DJ Hum.
Em outra conexão da prefeita com o admirável mundo novo da música eletrônica foi a polêmica entrada no clube underground A Lôca, em setembro, quando, vestindo um casacão "annorak" laranja, combinou bem com o look de coroa de strass e tomara-que-caia do performer Michael Love, figura clássica do underground paulistano.
Do submundo à elite, Marta Suplicy conseguiu evitar o estigma de "perua". Sua habilidade em relação ao vocabulário do vestir lhe deu o passe livre entre as classes sociais que compõem o caos paulistano. E hoje em dia, sempre é bom lembrar, imagem é tudo.



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