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ESTILO
Prefeita eleita de SP segue linha mais próxima de Hillary do que de Ruth
Petista está mais para Albright do que para Jackie
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
Mais para Madeleine Albright
do que para Jackie Kennedy; mais
Hillary Clinton, menos Ruth Cardoso. Chega ao poder a elegância
discreta de Marta Teresa Smith de
Vasconcellos Suplicy. O estilo da
nova prefeita de São Paulo combina com a personalidade plurifacetada da metrópole, que preserva
sua essência, mas tem jogo de cintura para se adaptar a diferentes
situações.
De jaqueta jeans, ela visita Sapopemba; de longo preto com estola
de cetim, pérolas e brilhantes,
chega à festa de casamento de Michel Temer (talvez seu momento
mais Lady Di) na casa noturna
Leopoldo, no Morumbi (foto 6).
Eleita, Marta assumiu de vez o
vermelho, visto primeiro no xale
(foto 2) com que foi votar no colégio Madre Álix, na elegante alameda Gabriel Monteiro da Silva
(Jardim Europa). "É o PT vermelho", chegou a declarar a "Marta
do PT". Usado sobre o terninho
básico cor de creme, o xale serviu
para envolver a prefeita, que, ao
abrir os braços, encarnou uma espécie de pomba-gira sufragista,
para deleite dos fotógrafos.
Na avenida Paulista, foi de camisa vermelha sobre cacharrel
branca e, depois, foi de vermelho
absoluto à festa do PT, de tailleur.
Cor oficial do partido, pode-se dizer que também é vermelho o matiz do comunismo. Presta-se bem
à vitória, ao destaque público, sobressai-se dentro das massas. Recentemente, designers de embalagens e criadores de imagem perceberam a supremacia do vermelho sobre o prata, na representação do conceito de futuro. O novo
futurismo, então, é vermelho.
Antes da cor vencedora apareceu o cor-de-rosa, como no tailleur de decote drapeado usado
por Marta Suplicy no último debate na TV com Maluf. A cor, tão
ou mais fashion que o tal vermelho, bate e rebate com a alcunha
de "PT cor-de-rosa", também a
cor que simboliza o movimento
gay (além, é claro, do famoso arco-íris).
"PT Chanel" é outro dos apelidos do estilo Marta Suplicy dentro do partido, alusão que se pretende depreciativa à maison francesa de alta-costura e prêt-à-porter, por si um universo frívolo,
bem distante da realidade dos trabalhadores e assalariados brasileiros. Mademoiselle Gabrielle Coco
Chanel (1883-1971) é, por sua vez,
símbolo da nova mulher, que nos
anos 20 se valeu de tecidos até então restritos à moda masculina/
esportiva, como o jérsei, e de uma
silhueta desestruturada que libertou as mulheres dos espartilhos
usados na época.
Longe de ser uma "vítima da
moda", a nova prefeita é adepta
do chamado "hype invisível". Ou
seja: prefere roupas de qualidade
e até mesmo de grife, mas que não
sejam ostensivas nem imediatamente reconhecíveis -mesmo
por olhares treinados.
Das grifes internacionais, já disse que gosta de Valentino, um estilista famoso pela discrição e elegância, pelo corte feminino sem
maiores ousadias. As preferidas
cores em tons pastel (verde e azul,
principalmente) combinam bem
com os olhos verdes da prefeita, e
não brigam com o tom louro
acinzentado (sempre em cima) da
tintura de seus cabelos, curtos, como se espera de uma mulher executiva.
A foto de Marta com o paletó segurado por uma das mãos, nas
costas, se constitui peça fundamental da campanha eleitoral:
trata-se do emblema da mulher
que "põe a mão na massa", mas
que não abre mão de seu charme e
de sua feminilidade. Mais: de sua
condição feminina.
Deve ter sido nos tempos da televisão, quando sexóloga de plantão do "TV Mulher", nos anos 80,
que Marta Suplicy aprendeu a administrar a imagem, com roupas
que ficam bem ou não no vídeo
ou nos registros dos fotógrafos. É
certo que, naquela época, eram
mais curtas as saias dos terninhos
(agora fixadas em quatro dedos
acima do joelho, como no look
acetinado com que subiu a avenida Tucuruvi em setembro).
Os vestidos, estes têm sido de
comprimento "longuette" ou
mesmo longo, comportados mesmo, como o que a então candidata
fez sua visita ao mundo da moda
em si. Marta foi assistir em julho
último ao desfile de Alexandre
Herchcovitch, justamente o mais
moderno, o mais vanguarda, o
mais transgressor do cenário fashion brasileiro.
Ela se deixou fotografar sob as
luzes ultravioleta da passarela do
estilista (foto 7), as mesmas usadas nas câmeras de bronzeamento artificial, -verdadeira "photo
opportunity".
Não foi a primeira vez que Marta Suplicy caiu no mundinho fashion: por conta do apreço em relação à assessora da marca
Zoomp, Fabiana Kherlakian, ela
compareceu numa temporada ao
desfile da grife paulista vestindo
"total look Zoomp". Fabiana foi
casada com o cantor Supla, filho
da prefeita, este sim cheio de atitudes -na moda e no palco (do
estilo dele pode-se até dizer que é
punk, bem ao gosto das ruas de
Nova York, onde ele mora).
De candidata a prefeita, Marta
Suplicy tem evitado, com sobriedade, maiores riscos (como as
transparências nas festas da rua
Grécia) ou mesmo gafes. Mas é
possível identificar como verdadeiro equívoco fashion o pavoroso poncho vestido na visita à favela de Paraisópolis em junho (foto
4), quando foi acompanhada pelos rapper Thaíde e pelo DJ Hum.
Em outra conexão da prefeita
com o admirável mundo novo da
música eletrônica foi a polêmica
entrada no clube underground A
Lôca, em setembro, quando, vestindo um casacão "annorak" laranja, combinou bem com o look
de coroa de strass e tomara-que-caia do performer Michael Love,
figura clássica do underground
paulistano.
Do submundo à elite, Marta Suplicy conseguiu evitar o estigma
de "perua". Sua habilidade em relação ao vocabulário do vestir lhe
deu o passe livre entre as classes
sociais que compõem o caos paulistano. E hoje em dia, sempre é
bom lembrar, imagem é tudo.
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