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RECIFE
Para João Paulo, "povo quer mudar a política econômica", o que "interferirá na sucessão de
2002"; apesar de defender o socialismo cubano, ele deixa claro que não defende uma revolução socialista
Vitória do PT é recado para FHC, diz eleito
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE
FÁBIO GUIBU
AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
O prefeito eleito de Recife, João
Paulo, diz que a vitória do PT em
seis capitais é um "recado para o
governo Fernando Henrique Cardoso". Para ele, "o povo quer mudar a política econômica", o que
"interferirá na sucessão de 2002".
Ex-metalúrgico e ex-dirigente
sindical, lidera uma microtendência do PT de Recife, a FAS (Fórum
de Articulação Socialista). Defende o socialismo cubano e tergiversa ao ser indagado se julga Fidel
Castro um ditador. "O povo de
Cuba fez uma opção política."
O petista, que iniciou a carreira
política em 1972, no regime militar, militando na Juventude Católica Operária, deixa claro que não
defende uma revolução socialista.
É filho de um ex-cobrador da
companhia de ônibus municipal
que foi privatizada pelo adversário na eleição, o prefeito Roberto
Magalhães (PFL). Adepto da meditação transcendental e da alimentação macrobiótica, deu entrevista à Folha ontem na Assembléia Legislativa, onde ocupa uma
vaga de deputado desde 1990.
Dois anos antes, havia sido o primeiro vereador eleito do PT na cidade. Hoje, ele completa 48 anos.
Folha - O PT ganhou em seis capitais e teve bom desempenho até
onde perdeu. Qual o motivo do resultado e o significado para 2002?
João Paulo - O povo quer mudar
a política econômica, quer um redirecionamento que garanta
maior distribuição de renda. Os
governos de direita vão ter de
aprender com o fracasso das administrações voltadas contra o
povo e, em muitos casos, como a
de Maluf em São Paulo, marcada
pela corrupção. Tudo isso vai interferir na sucessão presidencial
de 2002 e é um recado para o governo Fernando Henrique Cardoso e suas forças de apoio.
Folha - Faz sentido a avaliação de
que, se forem bem administradas,
as prefeituras conquistadas serão a
vitrine do partido para 2002, mas,
se forem mal, prejudicarão daqui a
dois anos?
João Paulo - Não vejo essa relação.
Folha - Mas o sr. acabou de dizer
que houve um efeito negativo federal na eleição municipal. Não poderá haver o inverso?
João Paulo - Claro que os prefeitos eleitos vão procurar ao máximo fazer uma boa administração.
Se administrarmos com transparência e ética e ainda assim surgirem dificuldades, estará caracterizado que essas dificuldades são
fruto de uma política econômica
do governo federal. Logo, o PT terá discurso para 2002, mostrando
a importância de se mudar a economia nacionalmente. O eleitor
saberá fazer distinção.
Folha - O sr. acha que quebrou de
vez a hegemonia do grupo político
que vinha se revezando no poder
municipal há 12 anos, alternando
PFL e PMDB?
João Paulo - Uma vitória eleitoral não significa uma consolidação política, como mostrou o governo de Miguel Arraes (PSB, eleito em 1994 e derrotado em 1998).
As forças de direita continuam articuladíssimas. Vamos estabelecer uma relação democrática. Entender que a direita tem peso em
nossa cidade, com uma eleição
tão dividida. Procurarei alguns
setores não raivosos.
Folha - O sr. defende o socialismo
cubano?
João Paulo Lima e Silva- Não
existe socialismo cubano. Existe o
socialismo. Considero-me um socialista. O modelo de desenvolvimento capitalista tem se mostrado incompetente para resolver os
problemas da humanidade. Defendo um modelo socialista democrático, do qual estamos sem
referência internacional, mas um
socialismo marcado pela liberdade de expressão e de pensamento.
Folha - Cuba tem um regime de
partido único e não há liberdade de
expressão.
João Paulo - Não deixo de reconhecer os avanços da sociedade
cubana, apesar de todo o boicote.
Nas Olimpíadas, Cuba teve onze
medalhas de ouro, um país pobre,
com tanta dificuldade como
aquele, enquanto o Brasil, a oitava
economia do mundo, teve resultado tão catastrófico.
Folha - Mas e a liberdade política.
O sr. não considera Fidel Castro um
ditador?
João Paulo - O povo de Cuba fez
um opção política por Fidel.
Folha - Pelo que diz, o sr. não defende uma revolução para se chegar ao socialismo. Isso não é ser social-democrata?
João Paulo - O que estabelece socialismo é uma relação social. Hoje, não cabe pensar em revolução
que o Brasil ou qualquer país conseguirá um processo de transformação significativa sem levar em
consideração o planeta. Há uma
internacionalização evidente da
economia, mas, a partir das administrações, pode se melhorar a
qualidade de vida do povo.
Folha - Qual é o saldo da greve da
PM?
João Paulo - Extremamente negativo. A população foi prejudicada e perdeu muito. Perdeu o setor
empresarial, por conta da desordem estabelecida, da falta de proteção. Entendemos a reivindicação e entendemos que o direito de
greve dos policiais é um direito
justo, mas somos contra o caos. O
governo foi incapaz de resolver
esse problema. Nunca se teve uma
greve tão anunciada.
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