|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Fato positivo
Jornais e TVs dos Estados
Unidos iniciam questionamentos críticos ao bombardeio
no Afeganistão e começam a retirar o apoio absoluto ao governo americano. Fato positivo?
Claro. Não, porém, para o conceito do jornalismo e dos jornalistas dos Estados Unidos.
Os atuais diretores dos jornais,
telejornais e revistas americanos
eram todos repórteres e redatores à época da guerra do Vietnã.
Foram os responsáveis pelo trabalho jornalístico, de altíssima
qualidade ética e técnica, que
mobilizou a opinião pública
americana e, segundo revelações
militares, entre outros efeitos impediu o recurso, em desespero de
causa, a armas nucleares contra
o Vietnã do Norte.
Foram esses grandes jornalistas de ontem que, desde 12 de setembro, aceitaram praticar a autocensura, deixando as mãos
livres ao governo e ao Pentágono. A experiência que traziam
dos anos 60 e 70 não poderia ser
esquecida. Se hoje começam a
sentir-se mal com a mortandade
injusta e inútil -que continuam mais escondendo que
mostrando-, nela nada encontram que não conhecessem e que
não fosse esperado, como atestam inumeráveis artigos publicados fora dos Estados Unidos e,
portanto, livres de autocensura.
A competência do governo e,
particularmente, a de Bush, agora sob a crítica de não estar à altura dos efeitos da guerra nos
próprios Estados Unidos, volta-se contra os jornalistas mesmos.
A partir do ataque a Nova York
e ao Pentágono, as restrições
enormes à formação do governo
e aos programas de Bush, mais
do que repentinamente silenciadas, reverteram em endosso e
aplauso. Era precisamente a
ocasião, no entanto, em que
mais a experiência e o discernimento deveriam pesar e medir
cada palavra, cada tendência e
cada decisão do poder. Nessa hora, os jornalistas se fizeram políticos e propagandistas.
A competência esperável dos
bombardeios era muito bem conhecida. Em sua primeira entrevista coletiva como presidente,
seis meses e meio antes do ataque a Nova York e ao Pentágono, Bush afirmou que o bombardeio ao Iraque, o primeiro por
ordem sua, fora muito bem sucedido, tendo 25 estações de radar
como alvos. No dia seguinte, 22
de fevereiro, o "Washington
Post" revelava que as 25 "bombas de precisão" caíram a dezenas e até centenas de metros dos
alvos. O bombardeio só conseguiu causar algum dano e em
apenas 8 das 25 estações de radar. A veracidade presidencial e
competência dos bombardeios
tornaram-se, dali por diante e
até o 11 de setembro, objeto frequente do jornalismo.
Os jornalistas americanos estão inquietos com as fotografias
e filmes que recebem do Afeganistão. Ou, o que dá no mesmo,
com a sua consciência -e aí começa o jornalismo.
Calendas
Fernando Henrique Cardoso
disse em Madri que só daqui a
20 anos se sentirão os efeitos pretensamente positivos do seu governo. Anote aí na sua agenda, leitor, para não esquecer de verificar em 2021.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Orçamento: Mínimo poderá ter reajuste superior a 5% Índice
|