São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2001

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Lula diz que reverá duas privatizações

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em jantar com 25 dos maiores empresários brasileiros, o pré-candidato do PT à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva apresentou um plano antiapagão, no qual propõe parceria com a iniciativa privada para o setor elétrico, afirma que respeitará processos de privatização já acabados e anuncia que, se vencer, reverá a venda de Furnas e da Copel (Companhia Paranaense de Energia), caso realizadas até a eleição de 2002.
O jantar foi organizado pelo Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial) anteontem em São Paulo, no edifício World Trade Center. Estiveram presentes empresários como Paulo Cunha (Ultra), Eugênio Staub (Gradiente), Josué Gomes da Silva (Coteminas), Paulo Francini (Coldex), e José Roberto Moraes (filho de José Ermírio de Moraes, Votorantim), entre outros.
O encontro começou com Lula tentando explicar aos empresários sua declaração de que é preciso primeiro acabar com a fome para depois exportar. Afirmou que a frase foi tirada do contexto e que o país tem potencial para abastecer o mercado interno e exportar o excedente. Auxiliado pelo economista e professor da Fundação Getúlio Vargas Guido Mantega, disse que o Brasil tem de superar o "gargalo externo" para ajudar no combate à fome.
Defendeu uma política de substituição de importações e programas de estímulo à competitividade da indústria nacional. Mantega fez uma análise otimista do cenário econômico até a eleição, com melhoria nas contas externas, maior superávit comercial e taxas de juros mais baixas.

Energia
Coube ao físico Luiz Pinguelli Rosa expor o pré-programa petista para o setor de energia. Fez um diagnóstico da atual crise, que seria oriunda de "má-administração e inoperância estatal". Apresentou a proposta do partido de manter como estatais as empresas elétricas existentes, "por gerar energia barata".
Afirmou que o PT defende geradores independentes de energia no suprimento das necessidades de grandes consumidores. Essa relação seria regulada exclusivamente pelo mercado. O governo estabeleceria regras apenas para empresas que prestassem serviços ao cidadão comum, com cronograma de investimentos e tarifas controladas.
Seriam criados estímulos a projetos de fontes alternativas de energia e de produção de equipamentos para termelétricas, por exemplo. "As empresas privatizadas são um fato consumado, mas terão de internalizar os investimentos. Isso ocorrerá de uma forma entrosada com a política econômica", afirmou Pinguelli.
Lula defendeu a liberação de tarifas para o setor a partir de 2003. Comprometeu-se também a evitar aumentos nas tarifas.
Aos empresários, Lula fez uma análise do quadro político. Afirmou que ainda não se disse publicamente candidato, porque quer ter certeza de que terá condições políticas e econômicas de disputar a eleição com reais chances de vitória. "Para perder, já concorri e não quero mais", declarou, segundo participantes do jantar.
Ao final da apresentação, o presidente do Iedi, Ivoncy Ioschpe, disse que o instituto iria discutir internamente o documento para depois se pronunciar sobre ele. O PT espera que os empresários dêem contribuições ao texto, que será incorporado ao programa a ser defendido por Lula.
A Folha apurou que os empresários se dividiram em relação ao projeto apresentado. Para eles, não ficou claro como se daria a parceria com a iniciativa privada no setor elétrico.
Lula estava acompanhado também do consultor Antoninho Marmo Trevisan e da secretária de Energia do Rio Grande do Sul, Dilma Rossef.



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