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Futuro ministro diz que não venceu a eleição porque "não era a hora"
Lula "blindou" o governo ao deixar PMDB de fora, diz Ciro
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão de deixar o PMDB de
fora do ministério "blindou" o
governo contra fisiologia, disse
ontem o futuro ministro da Integração Nacional, o presidenciável
derrotado Ciro Gomes (PPS).
"O presidente Lula fez o ótimo
dentro da realidade brasileira. O
gesto prático dessa atitude foi como tratou a direção formal do
PMDB", afirmou.
Com a ressalva de que não pretende atacar ninguém, Ciro diz
acreditar que a distribuição de
cargos para a atual direção do
PMDB -que apoiou o governo
Fernando Henrique Cardoso-
levaria Lula ao mesmo caminho
trilhado pelo tucano.
"O atual governo cometeu um
erro por causa da reeleição. Teve
um custo ético e fisiológico para
montar uma maioria que fosse na
direção do quórum qualificado de
três quintos. O presidente Fernando Henrique feudalizou o governo. Perdeu o controle ético da
administração. Perdeu também o
controle da funcionalidade. E o
pior é que essa suposta maioria
nunca entregou a mercadoria,
pois não se votou tudo o que era
necessário", afirmou Ciro em entrevista à Folha.
Trata-se da crítica mais forte de
um futuro ministro de Lula ao
comportamento ético e moral do
governo FHC.
Para Ciro, a maioria no Congresso para governar "já existe". E
seria "muito mais consistente do
que foi a de Fernando Henrique,
pois é ideologizada e foi construída no voto, na eleição".
"Caminho diferente"
Ciro prefere, entretanto, não se
pronunciar sobre como Lula poderá construir uma base de três
quintos dos congressistas, o mínimo necessário para aprovar reformas constitucionais (é preciso
308 dos 513 deputados e 49 dos 81
senadores).
"O presidente Lula está criando
um caminho diferente, e todos
participarão. As pessoas não estão
sendo maltratadas, mas é nítido
que está havendo uma mudança
no relacionamento com o Congresso", declarou o ex-candidato
à Presidência.
Aos 45 anos, completados em 15
de novembro, aparentando calma
e se dizendo entusiasmado com o
trabalho que terá pela frente, Ciro
também faz uma autocrítica sobre sua última campanha presidencial, quando ficou em quarto
lugar, com 10,2 milhões de votos
(11,97% dos válidos).
Em 1998, ele havia ficado em
terceiro lugar, com 7,4 milhões de
votos (10,97% dos válidos).
"Erros meus permitiram que se
criasse uma versão incompatível
com a minha biografia."
Qual versão e quais erros?
"A versão de que sou uma pessoa descontrolada. Sou apenas indignado. Sobre os erros, aponto
dois. Primeiro, ter respondido rispidamente a um ouvinte numa
entrevista a uma rádio da Bahia.
Chamei-o de burro depois de ter
sido violentamente ofendido por
ele", diz Ciro.
"Também quando falei sobre a
Patrícia [Pillar, sua mulher" na
campanha. Já tinha respondido
várias vezes sobre o papel dela, dizendo que era importante por ela
ser sensível, inteligente. Mas percebi que havia um quê de insinuação sobre uma suposta exploração da imagem dela. Foi quando
disse, de forma irônica, que o papel dela era dormir comigo. Foi
um erro."
A autocrítica continua: "Eu não
me perdôo. Faz parte do papel de
um homem público saber conviver com provocações. Certas coisas não podem ser ditas. Mas não
era a minha hora. Era a hora do
Lula. Não seria bom para mim se
eu tivesse ganho. Foi um grande
aprendizado, e eu aprendi".
Autocrítica feita, Ciro Gomes
será candidato em 2006 novamente? "Sou ministro do presidente Lula e não terei dupla militância", diz.
Completa com uma declaração
de fidelidade: "Estou disposto a ficar até o final do governo, se o
presidente desejar, e a não ser
candidato a nada em 2006. Mais
do que isso, estou disposto a
apoiar a eventual reeleição do
presidente Lula".
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