São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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Futuro ministro diz que não venceu a eleição porque "não era a hora"

Lula "blindou" o governo ao deixar PMDB de fora, diz Ciro

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão de deixar o PMDB de fora do ministério "blindou" o governo contra fisiologia, disse ontem o futuro ministro da Integração Nacional, o presidenciável derrotado Ciro Gomes (PPS).
"O presidente Lula fez o ótimo dentro da realidade brasileira. O gesto prático dessa atitude foi como tratou a direção formal do PMDB", afirmou.
Com a ressalva de que não pretende atacar ninguém, Ciro diz acreditar que a distribuição de cargos para a atual direção do PMDB -que apoiou o governo Fernando Henrique Cardoso- levaria Lula ao mesmo caminho trilhado pelo tucano.
"O atual governo cometeu um erro por causa da reeleição. Teve um custo ético e fisiológico para montar uma maioria que fosse na direção do quórum qualificado de três quintos. O presidente Fernando Henrique feudalizou o governo. Perdeu o controle ético da administração. Perdeu também o controle da funcionalidade. E o pior é que essa suposta maioria nunca entregou a mercadoria, pois não se votou tudo o que era necessário", afirmou Ciro em entrevista à Folha.
Trata-se da crítica mais forte de um futuro ministro de Lula ao comportamento ético e moral do governo FHC.
Para Ciro, a maioria no Congresso para governar "já existe". E seria "muito mais consistente do que foi a de Fernando Henrique, pois é ideologizada e foi construída no voto, na eleição".

"Caminho diferente"
Ciro prefere, entretanto, não se pronunciar sobre como Lula poderá construir uma base de três quintos dos congressistas, o mínimo necessário para aprovar reformas constitucionais (é preciso 308 dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores).
"O presidente Lula está criando um caminho diferente, e todos participarão. As pessoas não estão sendo maltratadas, mas é nítido que está havendo uma mudança no relacionamento com o Congresso", declarou o ex-candidato à Presidência.
Aos 45 anos, completados em 15 de novembro, aparentando calma e se dizendo entusiasmado com o trabalho que terá pela frente, Ciro também faz uma autocrítica sobre sua última campanha presidencial, quando ficou em quarto lugar, com 10,2 milhões de votos (11,97% dos válidos).
Em 1998, ele havia ficado em terceiro lugar, com 7,4 milhões de votos (10,97% dos válidos).
"Erros meus permitiram que se criasse uma versão incompatível com a minha biografia."
Qual versão e quais erros?
"A versão de que sou uma pessoa descontrolada. Sou apenas indignado. Sobre os erros, aponto dois. Primeiro, ter respondido rispidamente a um ouvinte numa entrevista a uma rádio da Bahia. Chamei-o de burro depois de ter sido violentamente ofendido por ele", diz Ciro.
"Também quando falei sobre a Patrícia [Pillar, sua mulher" na campanha. Já tinha respondido várias vezes sobre o papel dela, dizendo que era importante por ela ser sensível, inteligente. Mas percebi que havia um quê de insinuação sobre uma suposta exploração da imagem dela. Foi quando disse, de forma irônica, que o papel dela era dormir comigo. Foi um erro."
A autocrítica continua: "Eu não me perdôo. Faz parte do papel de um homem público saber conviver com provocações. Certas coisas não podem ser ditas. Mas não era a minha hora. Era a hora do Lula. Não seria bom para mim se eu tivesse ganho. Foi um grande aprendizado, e eu aprendi".
Autocrítica feita, Ciro Gomes será candidato em 2006 novamente? "Sou ministro do presidente Lula e não terei dupla militância", diz.
Completa com uma declaração de fidelidade: "Estou disposto a ficar até o final do governo, se o presidente desejar, e a não ser candidato a nada em 2006. Mais do que isso, estou disposto a apoiar a eventual reeleição do presidente Lula".



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