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EDUCAÇÃO
Flexibilização e universalização do ensino superior são as principais propostas discutidas em conferência
Reforma prevê maior acesso à universidade
FERNANDO ROSSETTI
enviado especial a Paris
O sistema de ensino superior do
século 21 será formado por tal diversidade de cursos e instituições
que o modelo de universidade conhecido hoje pelos brasileiros poderá virar simples história.
Além da proposta de universalização do acesso ao ensino superior, a flexibilização desse sistema
é o tema dominante da Conferência Mundial sobre o Ensino Superior da Unesco (Organização das
Nações Unidas para Educação,
Ciência e Cultura), iniciada ontem
em Paris.
Os dois conceitos são relacionados quando se fala em universalização do ensino superior, a principal referência hoje nos países ricos
é a educação continuada -que na
expressão inglesa "lifelong learning", isto é, aprendizagem durante toda a vida, traduz melhor o
significado dessa transformação.
Para que esse nível de ensino
atenda os cidadãos durante toda a
vida profissional, ele terá que reformular e diversificar a sua estrutura atual -daí a flexibilização.
É de certa forma uma boa notícia
para os estudantes brasileiros que
estão se preparando para o vestibular. A graduação universitária
não define mais o sucesso profissional posterior. O trabalhador do
próximo século vai frequentar diversas universidades -disso dependerá sua empregabilidade.
Os discursos feitos ontem na
abertura da conferência -que
reúne quase 3.000 pessoas, de 180
países- mostram que, em linhas
gerais, a reforma universitária que
vem sendo promovida pelo ministro da Educação, Paulo Renato
Souza, está na direção certa.
A nova LDB (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional), de
96, flexibilizou uma legislação
que, até então, "amarrava" o sistema de ensino superior ao modelo de universidade dominante no
país na segunda metade do século.
Mas as diversas falas -vindas de
países tão diversos como Nova
Guiné e Alemanha- também
apontam para alguns perigos da
atual "abertura" desse mercado.
Visão maior
A reforma universitária mundial
"tem que ser dirigida por uma visão maior da sociedade que queremos no futuro", disse o diretor-geral da Unesco, Federico Mayor.
"Eu recuso a idéia de que o trabalho da universidade deve ser determinado exclusivamente pelo
mercado. A universidade deve dar
conhecimento e treinamento, mas
ela também tem que formar cidadãos, garantir a realização individual", afirmou o primeiro-ministro francês, Lionel Jospin.
"As universidades estão sendo
reduzidas a agências de emprego
eficientes", disse o presidente da
Conferência Geral da Unesco, o
brasileiro Eduardo Portella.
Pode-se questionar alguns desses discursos. A França, por exemplo, está hoje longe de ser um modelo a ser seguido pelas reformas
universitárias.
As instituições francesas, quase
todas mantidas com recursos públicos, ainda estão na pré-história
das parcerias com o setor privado.
Mas o fato é que o Brasil nem começou a reformar o seu sistema
público de ensino superior -que
segundo o programa eleitoral de
FHC formará o "núcleo gerador
de conhecimento e promotor de
ensino de alto padrão".
Mesmo assim está dando uma liberdade sem precedentes para que
esse mercado seja ocupado por
instituições particulares de ensino
-que em geral não têm a visão do
papel social que deve ser cumprido pela educação.
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