Campinas, Terça, 6 de outubro de 1998

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EDUCAÇÃO
Flexibilização e universalização do ensino superior são as principais propostas discutidas em conferência
Reforma prevê maior acesso à universidade

FERNANDO ROSSETTI
enviado especial a Paris

O sistema de ensino superior do século 21 será formado por tal diversidade de cursos e instituições que o modelo de universidade conhecido hoje pelos brasileiros poderá virar simples história.
Além da proposta de universalização do acesso ao ensino superior, a flexibilização desse sistema é o tema dominante da Conferência Mundial sobre o Ensino Superior da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), iniciada ontem em Paris.
Os dois conceitos são relacionados quando se fala em universalização do ensino superior, a principal referência hoje nos países ricos é a educação continuada -que na expressão inglesa "lifelong learning", isto é, aprendizagem durante toda a vida, traduz melhor o significado dessa transformação.
Para que esse nível de ensino atenda os cidadãos durante toda a vida profissional, ele terá que reformular e diversificar a sua estrutura atual -daí a flexibilização.
É de certa forma uma boa notícia para os estudantes brasileiros que estão se preparando para o vestibular. A graduação universitária não define mais o sucesso profissional posterior. O trabalhador do próximo século vai frequentar diversas universidades -disso dependerá sua empregabilidade.
Os discursos feitos ontem na abertura da conferência -que reúne quase 3.000 pessoas, de 180 países- mostram que, em linhas gerais, a reforma universitária que vem sendo promovida pelo ministro da Educação, Paulo Renato Souza, está na direção certa.
A nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de 96, flexibilizou uma legislação que, até então, "amarrava" o sistema de ensino superior ao modelo de universidade dominante no país na segunda metade do século.
Mas as diversas falas -vindas de países tão diversos como Nova Guiné e Alemanha- também apontam para alguns perigos da atual "abertura" desse mercado.

Visão maior
A reforma universitária mundial "tem que ser dirigida por uma visão maior da sociedade que queremos no futuro", disse o diretor-geral da Unesco, Federico Mayor.
"Eu recuso a idéia de que o trabalho da universidade deve ser determinado exclusivamente pelo mercado. A universidade deve dar conhecimento e treinamento, mas ela também tem que formar cidadãos, garantir a realização individual", afirmou o primeiro-ministro francês, Lionel Jospin.
"As universidades estão sendo reduzidas a agências de emprego eficientes", disse o presidente da Conferência Geral da Unesco, o brasileiro Eduardo Portella.
Pode-se questionar alguns desses discursos. A França, por exemplo, está hoje longe de ser um modelo a ser seguido pelas reformas universitárias.
As instituições francesas, quase todas mantidas com recursos públicos, ainda estão na pré-história das parcerias com o setor privado.
Mas o fato é que o Brasil nem começou a reformar o seu sistema público de ensino superior -que segundo o programa eleitoral de FHC formará o "núcleo gerador de conhecimento e promotor de ensino de alto padrão".
Mesmo assim está dando uma liberdade sem precedentes para que esse mercado seja ocupado por instituições particulares de ensino -que em geral não têm a visão do papel social que deve ser cumprido pela educação.



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