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ENTREVISTA DE DOMINGO
Carlos Gomes não foi
reconhecido, diz secretário
free-lance para a Folha
O secretário da Cultura de Campinas, João Plutarco Rodrigues de
Lima, fala, em entrevista à Folha,
que a população de Campinas não
deu a devida importância para o
compositor, que fez fama e dinheiro na Itália e acabou sendo reconhecido em Belém (PA), onde
morreu.
O secretário disse ainda que a Secretaria da Cultura está tentando
levar a obra do compositor para
outros países e afirmou que tentará transformar a Semana Carlos
Gomes em um grande festival.
O Secretário da Cultura reclama
do descaso ocorrido na época em
que foi construído um prédio no
local onde estava a casa em que
Carlos Gomes nasceu.
Folha - Qual a importância de
Carlos Gomes para Campinas?
João Plutarco Rodrigues de Lima
- A importância de Carlos Gomes
não é só para Campinas, que foi o
berço, a cidade que, naturalmente,
pela sua cultura musical, gerou o
compositor, que é talvez um dos
maiores compositores das Américas. Para Campinas é uma grande
honra ter um compositor como
Carlos Gomes.
Folha - E para o Brasil também?
Lima - Lógico.
Folha - Por quais lugares ele passou em Campinas antes de ir para
a Itália? Onde se apresentou?
Lima - Eu sei, por exemplo,
que, infelizmente, por não existir o
órgão que preservava o patrimônio cultural, a casa que ele morou
na Regente Feijó e que hoje é um
prédio. Ali tem apenas uma placa
assinalando que existiu uma casa
em que ele nasceu. Se existisse o
Condepacc (Conselho de Defesa
do Patrimônio Artístico e Cultural
de Campinas), certamente essa casa teria sido preservada.
Folha - E outros lugares onde ele
se apresentou?
Lima - Não sei sobre os outros
lugares. Sei apenas que o pai dele
chegou a ser o mestre capela, que
era o homem que fazia toda música para enterro, solenidades religiosas e ele era um grande maestro
também, a ponto de ter sido designado pela igreja como mestre capela e, como se sabe, durante o Império, a igreja tinha um poder
muito grande nesse país, porque a
igreja estava ligada ao Estado.
Folha - E como Carlos Gomes era
tratado na cidade?
Lima - Olha, eu acho que Campinas deve à Carlos Gomes isso
que você me perguntou. Eu acho,
por exemplo, que Carlos Gomes
foi para Belém (PA) certamente
porque a cidade lhe deu apoio, lhe
deu todo o prestígio, prestígio que
ele angariou na Europa.
Para se ter uma avaliação dessa
importância, ele conseguiu, como
brasileiro, levar uma ópera para o
Scala de Milão. E deve ter havido
um sucesso enorme, a ponto de o
Scala ainda ter hoje, entre seus
grandes compositores, a estátua
do maestro Carlos Gomes.
Folha - Depois que ele morreu,
mudou alguma coisa?
Lima - Olha, eu tenho a impressão de que, após a morte de Carlos
Gomes e a transferência e o enterro dele em Campinas, a cidade
acordou para o gênio que era seu
filho. E eu acho que Campinas deve reverenciar e mostrar a todas as
gerações a importância que teve
Carlos Gomes. Este ano a Semana
Carlos Gomes vai se transformar
em um festival. Festival este que eu
quero, se depender de apoio da Secretaria de Estado da Cultura,
transformar em um evento nacional e até internacional.
Folha - O senhor acha que Campinas dá a devida importância para Carlos Gomes?
Lima - Não. Ela pode não ter
dado durante a vida dele aquilo
que ele poderia merecer, mas, sem
dúvida nenhuma, Campinas está
resgatando esta importância que
foi a obra dele.
Folha - Mas ainda falta alguma
coisa?
Lima - Eu acho que sim. Campinas deve aproveitar esses eventos que irão se realizar e transformar a sua história em internacional.
Folha - E o campineiro? Conhece
Carlos Gomes?
Lima - Olha, eu sou cearense, e
a obra de Carlos Gomes foi inspirada em um romance de um cearense, que foi o grande escritor José de Alencar. No Ceará nós cantávamos um hino em louvor à Carlos
Gomes. Eu acredito que Campinas
é uma cidade de tradição lírica
muito grande e musical.
Eu desconhecia antes de vir para
Campinas qual a importância que
a cidade dava antes a Carlos Gomes. Eu vejo se ampliar a cada ano
um interesse maior no conhecimento da obra de Carlos Gomes.
Folha - O senhor conhece a história de Carlos Gomes? Como foi sua
relação com a família?
Lima - O que eu conheço são de
publicações relativamente recentes, inclusive a publicação da Lenita Nogueira. Ela fez uma catalogação de toda a obra. E o que eu conheço também são fatos isolados,
fatos que ficaram, digamos assim,
não muito esclarecidos, como a
morte da mãe dele. São fatos menores que não devem ser relembrados em um momento como este.
Folha - Como Carlos Gomes era
tratado no exterior?
Lima - Eu tenho a impressão de
que na Itália ele deve ter sido bem
tratado, pelo que ele ganhou, pela
vida tão faustosa que ele viveu nos
arredores de Milão, me parece que
ele fez um grande sucesso, inclusive sucesso financeiro.
Folha - E os problemas políticos
de Carlos Gomes em Campinas?
Lima - Tem quem especule que
Campinas é uma cidade que foi, ao
lado de Itu, o berço da República;
tem quem diga que Carlos Gomes,
por ser um monarquista, não era
muito bem visto aqui na cidade.
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