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OPINIÃO
O povo quer cultura
ADOLFO MAZZARINI FILHO
Há muito que a riqueza de uma
cidade não é medida somente pelo
grande número de indústrias, ou
por um importante setor de comércio. Uma cidade rica não é,
tampouco, aquela que tem um
grande índice em arrecadação de
impostos e transações econômicas.
Uma cidade rica é também aquela que gera uma produção cultural
com constante animação e efervescência cultural. É aquela que
possui uma população sedenta pelas coisas da cultura.
Se analisarmos o contexto brasileiro, Campinas encontra-se, de
certa forma, privilegiada culturalmente.
Em nosso país, a cultura não é
uma necessidade básica. Infelizmente, temos outras prioridades.
Até mesmo o esporte (leia-se futebol) acaba sendo mais importante que a produção cultural. Em
qualquer "cidadezinha" brasileira
existe um estádio ou campo de futebol. No entanto, em poucas cidades brasileiras existe um teatro.
Se a nossa população repassasse
30% do entusiasmo e da garra que
tem para com o futebol, ou com a
política, para atividades culturais,
nosso panorama seria melhor.
Se fosse injetado na produção
cultural de nosso país 20% do que
é injetado no futebol, teríamos
grandes e duradouros resultados.
Mas isso, talvez, não seja muito interessante, principalmente porque
a cultura conscientiza. A cultura
leva a um reflexo que pode provocar uma transformação individual
ou até social.
Voltando a nossa Campinas, terra que foi berço de Carlos Gomes,
o Sesc (Serviço Social do Comércio) e a prefeitura promoveram
uma grande maratona teatral para
comemorar o centenário do poeta
e dramaturgo alemão Bertolt
Brecht. Os concertos ao ar livre da
nossa orquestra sinfônica sempre
têm um comparecimento maciço
do povo.
A nossa cidade tem uma tradição
cultural importante no contexto
nacional. Temos excelentes universidades, importantes centros
de pesquisas, orquestra sinfônica,
músicos e cantores, escolas e academias de dança.
Há ainda importantes artistas
plásticos reconhecidos no Brasil e
no exterior, grupos de teatro de
pesquisa como o Lume e a tradicional Sia. Santa, como muitos
outros grupos de teatro que batalham por suas produções.
Até mesmo a arte cinematográfica, que proporcionalmente tem
grandes dificuldades em nosso
país, em Campinas está encontrando respaldo na Escola de Cine
e TV de Barão Geraldo.
Baseados nisso, podemos afirmar que Campinas é uma cidade
rica. Constatamos que existe uma
oferta cultural e uma clara necessidade de consumo entre a população.
É possível notar que a falta de espaços, criticada por muitos, não
seja motivo para uma inércia e seja
suplantada com a criatividade de
utilização de espaços alternativos.
Podemos afirmar ainda que empresários passam a apostar nos artistas da terra e que o poder público apóia e aceita novas idéias.
Em nossa cidade temos grandes
artistas para desenvolverem uma
importante produção cultural.
Adolfo Mazzarini Filho é ator e diretor teatral
em Campinas
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