Campinas, Domingo, 9 de agosto de 1998

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OPINIÃO
O povo quer cultura

ADOLFO MAZZARINI FILHO
Há muito que a riqueza de uma cidade não é medida somente pelo grande número de indústrias, ou por um importante setor de comércio. Uma cidade rica não é, tampouco, aquela que tem um grande índice em arrecadação de impostos e transações econômicas.
Uma cidade rica é também aquela que gera uma produção cultural com constante animação e efervescência cultural. É aquela que possui uma população sedenta pelas coisas da cultura.
Se analisarmos o contexto brasileiro, Campinas encontra-se, de certa forma, privilegiada culturalmente.
Em nosso país, a cultura não é uma necessidade básica. Infelizmente, temos outras prioridades.
Até mesmo o esporte (leia-se futebol) acaba sendo mais importante que a produção cultural. Em qualquer "cidadezinha" brasileira existe um estádio ou campo de futebol. No entanto, em poucas cidades brasileiras existe um teatro.
Se a nossa população repassasse 30% do entusiasmo e da garra que tem para com o futebol, ou com a política, para atividades culturais, nosso panorama seria melhor.
Se fosse injetado na produção cultural de nosso país 20% do que é injetado no futebol, teríamos grandes e duradouros resultados. Mas isso, talvez, não seja muito interessante, principalmente porque a cultura conscientiza. A cultura leva a um reflexo que pode provocar uma transformação individual ou até social.
Voltando a nossa Campinas, terra que foi berço de Carlos Gomes, o Sesc (Serviço Social do Comércio) e a prefeitura promoveram uma grande maratona teatral para comemorar o centenário do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Os concertos ao ar livre da nossa orquestra sinfônica sempre têm um comparecimento maciço do povo.
A nossa cidade tem uma tradição cultural importante no contexto nacional. Temos excelentes universidades, importantes centros de pesquisas, orquestra sinfônica, músicos e cantores, escolas e academias de dança.
Há ainda importantes artistas plásticos reconhecidos no Brasil e no exterior, grupos de teatro de pesquisa como o Lume e a tradicional Sia. Santa, como muitos outros grupos de teatro que batalham por suas produções.
Até mesmo a arte cinematográfica, que proporcionalmente tem grandes dificuldades em nosso país, em Campinas está encontrando respaldo na Escola de Cine e TV de Barão Geraldo.
Baseados nisso, podemos afirmar que Campinas é uma cidade rica. Constatamos que existe uma oferta cultural e uma clara necessidade de consumo entre a população.
É possível notar que a falta de espaços, criticada por muitos, não seja motivo para uma inércia e seja suplantada com a criatividade de utilização de espaços alternativos.
Podemos afirmar ainda que empresários passam a apostar nos artistas da terra e que o poder público apóia e aceita novas idéias.
Em nossa cidade temos grandes artistas para desenvolverem uma importante produção cultural.


Adolfo Mazzarini Filho é ator e diretor teatral em Campinas


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