Campinas, Domingo, 9 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMPORTAMENTO
Campineiros desempregados atuam como malabaristas e até "cuspidor de fogo" para se sustentar
Jovens encontram sobrevivência na arte

LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local

A eliminação de postos de trabalho e a dificuldade técnica para ingressar no mercado formal estimulou, no último ano, cerca de 3.500 jovens a buscar caminhos alternativos para ganhar dinheiro. Eles guardaram os diplomas e sobrevivem hoje até como "cuspidores de fogo", malabaristas ou artistas de rua.
Segundo dados da Acic (Associação Comercial e Industrial de Campinas), no último ano, 10% das demissões foram de trabalhadores de 15 a 24 anos, o que representa cerca de 9.000 jovens.
Segundo o economista da Acic, Laerte Martins, praticamente 3.500 deles trabalham com seus dons artísticos, em um setor que movimenta hoje cerca de R$ 2,5 milhões por mês.
De acordo com dados da associação, o valor representa 1,5% do mercado formal, que movimenta R$ 160 milhões por mês. Segundo ele, a renda mensal de um trabalhador autônomo varia entre R$ 600 e R$ 700.
"O mercado está exigente. Aprender computação e língua estrangeira se tornou básico. Com medo do desemprego, a pessoa precisa entrar no ritmo da empresa. Quem não se adapta, usa a criatividade e busca outras alternativas", disse o economista.
Foi o que fez o tecnólogo elétrico Marco Aurélio Valente Alberti, 35, que há seis trabalha com peças teatrais e com performance. Hoje ele é Coré Valente no meio artístico.
"Consegui aliar o prazer de ser cientista com o mundo da arte. Sou um 'artista-cientista", disse.

No trapézio
Hoje ele atua como "cuspidor de fogo" em festas e apresentações circenses. Também é músico, professor de técnicas circenses e participa de peças teatrais.
A desvantagem, segundo ele, é a instabilidade financeira. Coré trabalha 14 horas por dia em diferentes projetos e, no final do mês, ganha cerca de R$ 1.500. Mesmo reconhecendo que poderia ganhar mais como tecnólogo, ele garante que fez a melhor opção.
"Ás vezes tenho vontade de ser um cidadão normal, mas acho que não compensa ser estático. Cada dia é um mergulho no nada. Como um trapézio da vida", comparou.
O dançarino e garoto-propaganda Marcelo Rodrigues, 33, abandonou o curso de dança na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e hoje divide seu dia na Confraria de Dança -onde leciona- em participações em espetáculos e propagandas.
A analista de sistemas Ana Cristina (nome fictício) trabalha à noite em Campinas como dançarina performática. "É uma grana a mais. Ganho por noite cerca de R$ 150", disse. Os pais dela não sabem. "Foi uma questão de necessidade financeira", disse.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.