Campinas, Domingo, 11 de Fevereiro de 2001

Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA
Resgate de 97 presos em SP foi executado por membros do Primeiro Comando da Capital que atuam na região
PCC tem base operacional em Campinas

Marcos Peron - 8.fev.2001/Folha Imagem
Policial fecha portão de acesso à P3 de Hortolândia durante rebelião da última quinta-feira


ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O resgate de presos que deu origem ao primeiro inquérito contra o PCC (Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, foi planejado e executado com mão-de-obra, armas e dinheiro de criminosos da região de Campinas.
No dia 8 de outubro de 2000, 15 homens armados com fuzis e submetralhadoras invadiram o 45º DP (Brasilândia), zona noroeste da capital paulista, e libertaram 97 presos -três deles reconhecidos como membros do PCC.
Segundo a polícia, a ação envolveu uma união de esforços do PCC e de traficantes, que forneceram armas, dinheiro e veículos, conforme descreve relatório de investigação sobre o caso.
A Vara de Execuções Criminais de Campinas investiga, em cerca de dez inquéritos, a ação de pelo menos três grupos organizados em penitenciárias da região.
Os inquéritos apuram a presença de membros do PCC, do Terceiro Comando e da Seita Satânica na P1, P2, P3, no Ataliba Nogueira e no São Bernardo.
Os comandos organizados de presos seguem estatutos que determinam, entre outras coisas, o resgate dos "companheiros" .

Resgate
No encalço dos líderes do resgate, policiais do Girp (Grupo de Intervenção em cenários de Resgate de Presos) encontraram um croqui da cadeia de Leme (91 km de Campinas) com a mulher de um dos membros da quadrilha.
A prisão abrigava José Rafael Pereira, preso por tráfico, que esperava ser resgatado também.
O plano foi descoberto e Pereira foi transferido para a P2, considerada de segurança máxima.
O mesmo grupo tinha planos ainda de libertar César Fernandes Paulini, detido pelo mesmo crime em Americana (28 km).
Sete pessoas já foram presas pela polícia, incluindo o suposto líder do bando, Claudenor Henrique Marinho.
Os detidos apontaram ainda Wanderson de Lima, foragido, como um dos mentores da ação.
Segundo o Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes Patrimoniais), ele foi resgatado em junho do ano passado da P3 de Hortolândia.
A liberdade dos três integrantes do PCC teria sido encomendada por Alexandre Frutuoso e Airton dos Santos, acusados de tráfico com atuação no interior de São Paulo e detidos pelo Girp .
Segundo as investigações, a maior parte do armamento usado na ação-cinco fuzis AK-47, quatro submetralhadoras, duas espingardas calibre 12, mais pistolas e revólveres- saiu de Campinas.
A mão-de-obra também foi aliciada na cidade, a R$ 50 mil por ajudante contratado.
Para o Ministério Público, Campinas pode ter se transformado em um centro operacional do PCC.
""Talvez seja uma posição estratégica para pegar todo o Estado", diz o promotor Gabriel César Zaccarias de Inellas, do SAE (Serviços Auxiliares e de Informações), que investiga a atuação da facção de presos desde 97.
Para as autoridades que acompanham o caso, os resgatados passam a ""dever favores" aos traficantes, que os utilizam como braço armado em guerras por território e execuções.
Assim, o PCC pode tirar proveito dessa rede que se amplia.
O inquérito sobre o PCC está no início, sob a coordenação do delegado Ruy Ferraz Fontes, do Girp, órgão ligado ao Depatri.
Fontes foi procurado pela Folha para comentar as ações do PCC na região de Campinas, mas ele se negou a falar sobre o caso.
"Estamos falando muito e agindo pouco, mas posso dizer que o PCC não é um grupo tão organizado como se pensa", disse o delegado do Girp.

Colaborou Raquel Lima, da Folha Campinas

Próximo Texto: Grupo teve origem em Taubaté
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.