Campinas, Domingo, 11 de Fevereiro de 2001

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SEGURANÇA
Péricles Caramaschi, secretário da Cooperação nos Assuntos da Segurança Pública, mapeará locais mais violentos
Secretário diz não saber nada sobre pasta

RAQUEL LIMA
DA FOLHA CAMPINAS

Indicado pelo vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo (PT), o secretário da Cooperação nos Assuntos da Segurança Pública, Péricles Caramaschi, disse que assumiu a pasta na última quinta-feira, sem saber "nada" sobre ela.
Caramaschi disse que conheceu o prefeito Antonio da Costa Santos (PT) no dia de sua posse e prometeu "dinamizar a política de segurança estabelecida pelo conselho de segurança.
Uma das propostas do secretário é mapear as principais áreas com problema de segurança da cidade para atacar os pontos críticos. Sobre o orçamento de R$ 14 milhões, previsto para este ano, Caramaschi disse que acredita ser pouco, mas que o valor, para ele, "não tem dimensão".
Leia os principais trechos da entrevista concedida com exclusividade à Folha anteontem.

Folha - O orçamento para a sua secretaria é de R$ 14,7 milhões. O que o senhor acha desse valor?
Péricles Caramaschi -
Eu nem sabia desse valor. Para mim, R$ 14 milhões resolvia minha vida, mas para a pasta acredito que seja pouco. Mas estou assumindo agora, e esse valor para mim ainda não tem uma dimensão.

Folha - O senhor assumiu a pasta sabendo do quê?
Caramaschi -
Em princípio nada. Conheci o prefeito (Antonio da Costa Santos) ontem (última quinta-feira). Apresentaram meu currículo e prometi dinamizar a política de segurança estabelecida pelo conselho (Integrado de Segurança de Campinas). Eu não tinha nem contato direto com a Guarda Municipal.

Folha - O plano de segurança vai ser elaborado pelo senhor ou pelo conselho?
Caramaschi -
Apenas pelo conselho. Estarei junto, mas o secretário não está vinculado ao conselho.

Folha - Mas o senhor não tem propostas?
Caramaschi -
Neste momento eu não tenho. Eu não sei como está funcionando.

Folha - E se o senhor fosse elaborar um plano de segurança para Campinas?
Caramaschi -
A primeira coisa que temos que fazer é mapear as áreas de incidência de problema na cidade. Isso não existe hoje. Os levantamentos realizados pelas Polícias Militar e Civil não batem. Os pontos críticos terão de ser atacados, colocando guardas nessas áreas.

Folha - A Guarda Municipal conta com 417 homens atualmente. Qual a avaliação que o senhor faz desse número?
Caramaschi -
Eu te diria que é pouco. Sempre é pouco.

Folha - E qual seria o número ideal?
Caramaschi -
O ideal é que se aumente, não sei o quanto é possível e o quanto é viável. Vamos ter de trabalhar com esse número. A prefeitura hoje não tem condições de fazer contratações.

Folha - E esse grupo vai ser reestruturado?
Caramaschi -
Eu quero entrar em contato com as Polícias Civil e Militar de modo que a gente procure evitar a superposição de áreas. Temos que evitar cobrir as mesmas áreas. Percebemos isso no centro da cidade, que está superpoliciado.

Folha - Então a Guarda e as Polícias Militar e Civil vão trabalhar juntas?
Caramaschi -
Eu acredito que sim. A promessa que existe do comando da Polícia Militar é essa. Ainda não falei com o delegado-seccional (Osmar Porcelli). Tem de haver uma integração. Eu não sou secretário da Segurança de Campinas. Eu sou secretário da Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública. São coisas bem diferentes. A Guarda para a secretaria será um item do programa de segurança. Não serei o comandante, mas darei minhas diretrizes.

Folha - E como o senhor pensa a Guarda?
Caramaschi -
Eu acho que não precisa ser todo mundo armado em todos os locais. Eu acredito que dentro de uma escola não precisa, mas em trabalho de ronda e apoio aí vai armado. Não há razão para andar armado permanentemente.
Mas a Guarda trabalha armada há três anos. Terá que haver uma mudança de comportamento e temos que fazer isso com cuidado para que o guarda não se sinta totalmente vulnerável.

Folha - E as Polícias Militar e Civil poderão ajudar nesta mudança?
Caramaschi -
Sim. Eu vou aceitar todo apoio que quiserem me dar.

Folha - Como o senhor caracteriza hoje a Guarda Municipal?
Caramaschi -
A Guarda está fazendo hoje um trabalho muito parecido com a Polícia Militar. Está fazendo prevenção, policiamento ostensivo e também o preventivo, o que não é competência dela.

Folha - E o senhor entende que a Guarda está passando do limite dela por conta própria ou obrigada pelos índices de violência na cidade?
Caramaschi -
Ela não deve ir além dos limites que estão estabelecidos em lei porque na hora que acontecer alguma coisa, o guarda não terá amparo legal. A Guarda tem de fazer a prevenção dos patrimônios municipais e a garantia dos serviços públicos. Qualquer pessoa pode dar voz de prisão e, com base nesse princípio, ela (Guarda) se estruturou para trabalhar em ações de busca de criminoso e assim ela sofreu um desvio. Por que ocorreu isso? Acredito até que isso que você falou vale. Falamos em Campinas e lembramos da violência.

Folha - O senhor deve ter conhecimento dos confrontos da Guarda Municipal com os servidores municipais. Como o senhor avalia esse comportamento da guarda?
Caramaschi -
Eu acho que os desencontros são naturais. Quando as reivindicações não são atendidas e há uma barreira pela frente, pode haver um confronto.

Folha - Mas o senhor acha que a Guarda agiu certo?
Caramaschi -
Não posso dizer se agiu certo ou errado sem um fato concreto. Eu acho que cada situação vai merecer uma análise própria. Todas as vezes que houver alguma situação de reivindicação vai haver uma oposição e a tendência é de haver um conflito e não sei porque tem que dizer que a polícia ou a Guarda agiu com violência. Nunca do outro lado há violência?

Folha - E tratar com uma Guarda que já foi denunciada por chacina?
Caramaschi -
Eu desconheço. Não me lembro desse fato.

Folha - A questão da violência nas escolas...
Caramaschi -
O que é violência na escola para você?

Folha - A Folha já fez cobertura de chacinas em escolas, principalmente no período noturno...
Caramaschi -
Mas que tipo de pessoa que foi chacinado na porta da escola? Que tipo de aluno?

Folha - Geralmente são pessoas envolvidas com drogas...
Caramaschi -
Então você veja que o problema não está relacionado bem à escola em si, mas há um problema de ordem de uso de tóxico...

Folha - Mas nem sempre só a pessoa envolvida com drogas é que morre...
Caramaschi -
A grande maioria dentro da escola realmente é inocente e estão correndo risco realmente, mas a parte que provoca o problema, às vezes, nem é aluno.
O fato de ser escola é circunstancial pra mim, mas poderia ser na porta do cinema, por exemplo. A escola é sim um ponto nevrálgico e a idéia é colocar policiamento em todas as escolas. Mas não é só policiamento. Tem de haver também alambrado...

Folha - O senhor pensa que a sua secretaria deva fazer um trabalho conjunto com as outras pastas?
Caramaschi -
Mas tranquilo... com todas. Não tenha dúvida. Até as ARs (Administrações Regionais) estarão envolvidas.

Folha - De que forma?
Caramaschi -
As ARs têm um conhecimento muito grande das suas áreas. Elas podem me fornecer dados importantíssimos que vão me ajudar neste mapeamento.

Folha - E quem fará este mapeamento?
Caramaschi -
Ainda não sei. Eu tenho um plano um pouco mais ambicioso. Vou procurar um estatístico. Mas já vou começar a trabalhar já, procurando os dados das outras polícias.

Folha - Até onde vai o limite do senhor de autonomia e autoridade do senhor diante do conselho? O senhor já posicionou seu objetivo de desarmar parcialmente a Guarda. E se o conselho for contra?
Caramaschi -
Eu acho que aí vamos ter que discutir e chegar em um consenso.

Folha - Mesmo porque o prefeito também que desarmar a Guarda...
Caramaschi -
Ele (prefeito) não é extremista. A idéia é desarmar, mas nós temos que ouvir a população também.
Se o desarmamento for causar um mal-estar tão grande, eu acho que deve permanecer armada. Isso tem que ser pesado os prós e os contras.

Folha - Mas afinal, vai prevalecer a opinião de quem? Do senhor ou do conselho?
Caramaschi -
Eu acho que vai prevalecer o conselho, pelo que eu conheço do prefeito e pelo o que está estabelecido.

Folha - Mas a responsabilidade dos atos será do senhor ou do conselho?
Caramaschi -
Eu acho que a responsabilidade será minha sempre. Eu assumo a responsabilidade.

Folha - Qual a opinião do senhor em relação aos contratos terceirizados da segurança pública?
Caramaschi -
Não sei. Ainda não entrei nesse assunto.

Folha - Sempre foi uma questão polêmica dentro da Câmara Municipal. Qual a opinião do senhor sobre esses contratos?
Caramaschi -
Não vejo porque haver terceirização do serviço se houver possibilidade da Guarda fazer a segurança. Um problema que tem que ser resolvido é de ordem econômica. Eu não sei o que é mais barato.
Não sei se a terceirização sai mais barato que a Guarda. Está muito em cima pra mim. Algumas coisas ainda não tive tempo de analisar.
Tem coisas que não conheço e tenho idéias gerais, mas as idéias gerais não servem neste momento.


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