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SEGURANÇA
Péricles Caramaschi, secretário da Cooperação nos Assuntos da Segurança Pública, mapeará locais mais violentos
Secretário diz não saber nada sobre pasta
RAQUEL LIMA
DA FOLHA CAMPINAS
Indicado pelo vice-prefeito de
São Paulo, Hélio Bicudo (PT), o
secretário da Cooperação nos Assuntos da Segurança Pública, Péricles Caramaschi, disse que assumiu a pasta na última quinta-feira, sem saber "nada" sobre ela.
Caramaschi disse que conheceu
o prefeito Antonio da Costa Santos (PT) no dia de sua posse e prometeu "dinamizar a política de segurança estabelecida pelo conselho de segurança.
Uma das propostas do secretário é mapear as principais áreas
com problema de segurança da
cidade para atacar os pontos críticos. Sobre o orçamento de R$ 14
milhões, previsto para este ano,
Caramaschi disse que acredita ser
pouco, mas que o valor, para ele,
"não tem dimensão".
Leia os principais trechos da entrevista concedida com exclusividade à Folha anteontem.
Folha - O orçamento para a sua
secretaria é de R$ 14,7 milhões. O
que o senhor acha desse valor?
Péricles Caramaschi - Eu nem sabia desse valor. Para mim, R$ 14
milhões resolvia minha vida, mas
para a pasta acredito que seja
pouco. Mas estou assumindo agora, e esse valor para mim ainda
não tem uma dimensão.
Folha - O senhor assumiu a pasta
sabendo do quê?
Caramaschi - Em princípio nada.
Conheci o prefeito (Antonio da
Costa Santos) ontem (última
quinta-feira). Apresentaram meu
currículo e prometi dinamizar a
política de segurança estabelecida
pelo conselho (Integrado de Segurança de Campinas). Eu não tinha nem contato direto com a
Guarda Municipal.
Folha - O plano de segurança vai
ser elaborado pelo senhor ou pelo
conselho?
Caramaschi - Apenas pelo conselho. Estarei junto, mas o secretário não está vinculado ao conselho.
Folha - Mas o senhor não tem propostas?
Caramaschi - Neste momento eu
não tenho. Eu não sei como está
funcionando.
Folha - E se o senhor fosse elaborar um plano de segurança para
Campinas?
Caramaschi - A primeira coisa
que temos que fazer é mapear as
áreas de incidência de problema
na cidade. Isso não existe hoje. Os
levantamentos realizados pelas
Polícias Militar e Civil não batem.
Os pontos críticos terão de ser
atacados, colocando guardas nessas áreas.
Folha - A Guarda Municipal conta
com 417 homens atualmente. Qual
a avaliação que o senhor faz desse
número?
Caramaschi - Eu te diria que é
pouco. Sempre é pouco.
Folha - E qual seria o número
ideal?
Caramaschi - O ideal é que se aumente, não sei o quanto é possível
e o quanto é viável. Vamos ter de
trabalhar com esse número. A
prefeitura hoje não tem condições
de fazer contratações.
Folha - E esse grupo vai ser reestruturado?
Caramaschi - Eu quero entrar em
contato com as Polícias Civil e Militar de modo que a gente procure
evitar a superposição de áreas. Temos que evitar cobrir as mesmas
áreas. Percebemos isso no centro
da cidade, que está superpoliciado.
Folha - Então a Guarda e as Polícias Militar e Civil vão trabalhar
juntas?
Caramaschi - Eu acredito que
sim. A promessa que existe do comando da Polícia Militar é essa.
Ainda não falei com o delegado-seccional (Osmar Porcelli). Tem
de haver uma integração. Eu não
sou secretário da Segurança de
Campinas. Eu sou secretário da
Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública. São coisas bem
diferentes. A Guarda para a secretaria será um item do programa
de segurança. Não serei o comandante, mas darei minhas diretrizes.
Folha - E como o senhor pensa a
Guarda?
Caramaschi - Eu acho que não
precisa ser todo mundo armado
em todos os locais. Eu acredito
que dentro de uma escola não
precisa, mas em trabalho de ronda e apoio aí vai armado. Não há
razão para andar armado permanentemente.
Mas a Guarda trabalha armada
há três anos. Terá que haver uma
mudança de comportamento e temos que fazer isso com cuidado
para que o guarda não se sinta totalmente vulnerável.
Folha - E as Polícias Militar e Civil
poderão ajudar nesta mudança?
Caramaschi - Sim. Eu vou aceitar
todo apoio que quiserem me dar.
Folha - Como o senhor caracteriza
hoje a Guarda Municipal?
Caramaschi - A Guarda está fazendo hoje um trabalho muito
parecido com a Polícia Militar.
Está fazendo prevenção, policiamento ostensivo e também o preventivo, o que não é competência
dela.
Folha - E o senhor entende que a
Guarda está passando do limite dela por conta própria ou obrigada
pelos índices de violência na cidade?
Caramaschi - Ela não deve ir
além dos limites que estão estabelecidos em lei porque na hora que
acontecer alguma coisa, o guarda
não terá amparo legal. A Guarda
tem de fazer a prevenção dos patrimônios municipais e a garantia
dos serviços públicos. Qualquer
pessoa pode dar voz de prisão e,
com base nesse princípio, ela
(Guarda) se estruturou para trabalhar em ações de busca de criminoso e assim ela sofreu um desvio. Por que ocorreu isso? Acredito até que isso que você falou vale.
Falamos em Campinas e lembramos da violência.
Folha - O senhor deve ter conhecimento dos confrontos da Guarda
Municipal com os servidores municipais. Como o senhor avalia esse
comportamento da guarda?
Caramaschi - Eu acho que os desencontros são naturais. Quando
as reivindicações não são atendidas e há uma barreira pela frente,
pode haver um confronto.
Folha - Mas o senhor acha que a
Guarda agiu certo?
Caramaschi - Não posso dizer se
agiu certo ou errado sem um fato
concreto. Eu acho que cada situação vai merecer uma análise própria. Todas as vezes que houver
alguma situação de reivindicação
vai haver uma oposição e a tendência é de haver um conflito e
não sei porque tem que dizer que
a polícia ou a Guarda agiu com
violência. Nunca do outro lado há
violência?
Folha - E tratar com uma Guarda
que já foi denunciada por chacina?
Caramaschi - Eu desconheço.
Não me lembro desse fato.
Folha - A questão da violência nas
escolas...
Caramaschi - O que é violência
na escola para você?
Folha - A Folha já fez cobertura de
chacinas em escolas, principalmente no
período noturno...
Caramaschi - Mas que tipo de pessoa que foi chacinado na porta da
escola? Que tipo de aluno?
Folha - Geralmente são pessoas
envolvidas com drogas...
Caramaschi - Então você veja
que o problema não está relacionado bem à escola em si, mas há
um problema de ordem de uso de
tóxico...
Folha - Mas nem sempre só a pessoa envolvida com drogas é que
morre...
Caramaschi - A grande maioria
dentro da escola realmente é inocente e estão correndo risco realmente, mas a parte que provoca o
problema, às vezes, nem é aluno.
O fato de ser escola é circunstancial pra mim, mas poderia ser
na porta do cinema, por exemplo.
A escola é sim um ponto nevrálgico e a idéia é colocar policiamento
em todas as escolas. Mas não é só
policiamento. Tem de haver também alambrado...
Folha - O senhor pensa que a sua
secretaria deva fazer um trabalho
conjunto com as outras pastas?
Caramaschi - Mas tranquilo...
com todas. Não tenha dúvida. Até
as ARs (Administrações Regionais) estarão envolvidas.
Folha - De que forma?
Caramaschi - As ARs têm um conhecimento muito grande das
suas áreas. Elas podem me fornecer dados importantíssimos que
vão me ajudar neste mapeamento.
Folha - E quem fará este mapeamento?
Caramaschi - Ainda não sei. Eu
tenho um plano um pouco mais
ambicioso. Vou procurar um estatístico. Mas já vou começar a
trabalhar já, procurando os dados
das outras polícias.
Folha - Até onde vai o limite do
senhor de autonomia e autoridade
do senhor diante do conselho? O
senhor já posicionou seu objetivo
de desarmar parcialmente a Guarda. E se o conselho for contra?
Caramaschi - Eu acho que aí vamos ter que discutir e chegar em
um consenso.
Folha - Mesmo porque o prefeito
também que desarmar a Guarda...
Caramaschi - Ele (prefeito) não é
extremista. A idéia é desarmar,
mas nós temos que ouvir a população também.
Se o desarmamento for causar
um mal-estar tão grande, eu acho
que deve permanecer armada. Isso tem que ser pesado os prós e os
contras.
Folha - Mas afinal, vai prevalecer
a opinião de quem? Do senhor ou
do conselho?
Caramaschi - Eu acho que vai
prevalecer o conselho, pelo que eu
conheço do prefeito e pelo o que
está estabelecido.
Folha - Mas a responsabilidade
dos atos será do senhor ou do conselho?
Caramaschi - Eu acho que a responsabilidade será minha sempre. Eu assumo a responsabilidade.
Folha - Qual a opinião do senhor
em relação aos contratos terceirizados da segurança pública?
Caramaschi - Não sei. Ainda não
entrei nesse assunto.
Folha - Sempre foi uma questão
polêmica dentro da Câmara Municipal. Qual a opinião do senhor sobre esses contratos?
Caramaschi - Não vejo porque
haver terceirização do serviço se
houver possibilidade da Guarda
fazer a segurança. Um problema
que tem que ser resolvido é de ordem econômica. Eu não sei o que
é mais barato.
Não sei se a terceirização sai
mais barato que a Guarda. Está
muito em cima pra mim. Algumas coisas ainda não tive tempo
de analisar.
Tem coisas que não conheço e
tenho idéias gerais, mas as idéias
gerais não servem neste momento.
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