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ECONOMIA INFORMAL
Pesquisa mostra que 66% da categoria em Campinas desistiu de carteira assinada para ser ambulante
Maioria dos camelôs tinha emprego formal
ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS
Uma pesquisa inédita que traçou o perfil dos trabalhadores no
comércio informal em Campinas,
divulgada ontem, derrubou pelo
menos três mitos sobre a categoria: a maioria (66%) dos camelôs
estava empregada, é do Estado de
São Paulo (36,2%) e chefia a família (94%).
Segundo o presidente da Setec
(Serviços Técnicos Gerais), Paulo
Daniel Silva, 28, antes da pesquisa
acreditava-se que a maioria dos
ambulantes da cidade vinha dos
Estados do Nordeste, não contribuía para a renda familiar e iniciava a atividade porque estava desempregada.
O universo da pesquisa envolveu 544 trabalhadores no mercado informal que atuam na região
central. Campinas tem pelo menos 2.000 pessoas trabalhando como camelôs, segundo a Setec.
"Queríamos ter um panorama
sobre a situação do mercado informal em Campinas e estabelecer políticas públicas para o setor.
Tivemos um surpresa com os resultados da pesquisa", afirmou o
presidente da Setec, autarquia
municipal responsável pela utilização e ocupação do solo.
A pesquisa abrangeu todos os
pontos entre o Terminal Central e
o Terminal Mercado.
O levantamento mostra que, do
total de entrevistados, 41% têm
entre 25 e 39 anos e ganham em
média R$ 451,52. Apenas 2% dos
entrevistados têm menos de 18
anos. Três por cento dos homens
recebem R$ 2.500 por mês.
A pesquisa mostra que, quando
trabalhavam no mercado formal,
com registro em carteira, os camelôs ganhavam, em média, R$
230 por mês.
O levantamento aponta ainda
que o camelô trabalha cerca de 11
horas por dia -três horas a mais
do que no mercado formal.
"É importante verificar que o
salário dos ambulantes não aumentou proporcionalmente à jornada de trabalho", disse o presidente da Setec.
Na opinião de Silva, o resultado
do levantamento reflete a situação
dos demais ambulantes cadastrados na Setec. "No entanto, o conflito entre os trabalhadores no
mercado informal e os lojistas é
maior no centro", disse.
Para o economista da Acic (Associação Comercial e Industrial
de Campinas) Laerte Martins, o
crescimento do mercado informal tem um impacto negativo na
economia campineira.
Pelo cálculos de Martins, o comércio informal movimenta R$ 8
milhões por mês e não paga impostos. Só os ambulantes do centro faturam R$ 900 mil por mês.
O mercado formal de Campinas
movimenta cerca de R$ 200 milhões ao mês, segundo a Acic.
Mesmo ganhando mais e sem
pagar impostos -eles recolhem
somente uma taxa municipal
mensal que varia conforme a localização do ponto-, os camelôs
afirmam que gostariam de deixar
a informalidade.
"O trabalho com registro em
carteira é mais seguro. A gente
não sabe o dia de amanhã", disse a
ambulante Márcia Dionísio, 18.
O levantamento foi realizado
pelo Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) do Instituto de Economia da
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas).
A pesquisa resultou na publicação do caderno "Trabalhadores
do Comércio Ambulante: Diagnóstico das Condições de Trabalho". O trabalho é o primeiro produto do convênio estabelecido
entre o Cesit e a Setec e custou R$
20 mil aos cofres públicos.
"A publicação do estudo, pela
primeira vez na história de Campinas, permitirá conhecer esses
profissionais", disse Silva.
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