Campinas, Sábado, 14 de Julho de 2001

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ECONOMIA INFORMAL
Pesquisa mostra que 66% da categoria em Campinas desistiu de carteira assinada para ser ambulante
Maioria dos camelôs tinha emprego formal

ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS

Uma pesquisa inédita que traçou o perfil dos trabalhadores no comércio informal em Campinas, divulgada ontem, derrubou pelo menos três mitos sobre a categoria: a maioria (66%) dos camelôs estava empregada, é do Estado de São Paulo (36,2%) e chefia a família (94%).
Segundo o presidente da Setec (Serviços Técnicos Gerais), Paulo Daniel Silva, 28, antes da pesquisa acreditava-se que a maioria dos ambulantes da cidade vinha dos Estados do Nordeste, não contribuía para a renda familiar e iniciava a atividade porque estava desempregada.
O universo da pesquisa envolveu 544 trabalhadores no mercado informal que atuam na região central. Campinas tem pelo menos 2.000 pessoas trabalhando como camelôs, segundo a Setec.
"Queríamos ter um panorama sobre a situação do mercado informal em Campinas e estabelecer políticas públicas para o setor. Tivemos um surpresa com os resultados da pesquisa", afirmou o presidente da Setec, autarquia municipal responsável pela utilização e ocupação do solo.
A pesquisa abrangeu todos os pontos entre o Terminal Central e o Terminal Mercado.
O levantamento mostra que, do total de entrevistados, 41% têm entre 25 e 39 anos e ganham em média R$ 451,52. Apenas 2% dos entrevistados têm menos de 18 anos. Três por cento dos homens recebem R$ 2.500 por mês.
A pesquisa mostra que, quando trabalhavam no mercado formal, com registro em carteira, os camelôs ganhavam, em média, R$ 230 por mês.
O levantamento aponta ainda que o camelô trabalha cerca de 11 horas por dia -três horas a mais do que no mercado formal.
"É importante verificar que o salário dos ambulantes não aumentou proporcionalmente à jornada de trabalho", disse o presidente da Setec.
Na opinião de Silva, o resultado do levantamento reflete a situação dos demais ambulantes cadastrados na Setec. "No entanto, o conflito entre os trabalhadores no mercado informal e os lojistas é maior no centro", disse.
Para o economista da Acic (Associação Comercial e Industrial de Campinas) Laerte Martins, o crescimento do mercado informal tem um impacto negativo na economia campineira.
Pelo cálculos de Martins, o comércio informal movimenta R$ 8 milhões por mês e não paga impostos. Só os ambulantes do centro faturam R$ 900 mil por mês.
O mercado formal de Campinas movimenta cerca de R$ 200 milhões ao mês, segundo a Acic.
Mesmo ganhando mais e sem pagar impostos -eles recolhem somente uma taxa municipal mensal que varia conforme a localização do ponto-, os camelôs afirmam que gostariam de deixar a informalidade.
"O trabalho com registro em carteira é mais seguro. A gente não sabe o dia de amanhã", disse a ambulante Márcia Dionísio, 18.
O levantamento foi realizado pelo Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A pesquisa resultou na publicação do caderno "Trabalhadores do Comércio Ambulante: Diagnóstico das Condições de Trabalho". O trabalho é o primeiro produto do convênio estabelecido entre o Cesit e a Setec e custou R$ 20 mil aos cofres públicos.
"A publicação do estudo, pela primeira vez na história de Campinas, permitirá conhecer esses profissionais", disse Silva.


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