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ECONOMIA INFORMAL 2
Centro de Campinas foi dividido pelos informais em três setores; comissão resolve problemas comuns
Camelôs atuam como uma cooperativa
DA FOLHA CAMPINAS
Para manter a organização e
atenuar a pressão sofrida pelos lojistas, os 544 trabalhadores no comércio informal do centro de
Campinas se dividem em setores
e, embora independentes, trabalham como cooperados.
"Cada trabalhador aqui [Terminal Central] cuida do seu ponto,
mas também ajuda o vizinho. É
como se fosse um shopping, com
mais companheirismo", disse o
ambulante Walter Araújo Botelho, 25.
Segundo ele, cada setor tem
uma comissão. "Quando temos
problemas, levamos à comissão,
que decide o que pode ser feito",
afirmou.
Os camelôs do centro se dividem em três setores: túnel (na entrada do Terminal Central), jumbo (na rua Álvares Machado) e o
Terminal Central.
"A gente tem de se organizar para pagar a segurança, a luz, possíveis reformas e a limpeza do local", disse Botelho.
Ele trabalha como ambulante
há 15 anos. Disse gostar da liberdade que tem, mesmo trabalhando 12 horas por dia. No entanto
torce para conseguir um emprego
em que ganhe os mesmos R$ 400,
mas com carteira assinada.
Com o salário, Botelho diz manter a mulher e os dois filhos.
Para o ambulante Pedro Gomes
Fonseca, 39, o mercado informal é
acolhedor. "Quando fiquei desempregado, a única alternativa
que encontrei foi o mercado informal", disse Fonseca.
Ele trabalhava como encarregado de pedreiro quando foi demitido pela construtora falida Encol,
há três anos. Agora, Fonseca trabalha vendendo cigarros. Seu salário mensal caiu de R$ 1.200 para
R$ 750.
"Com a minha idade, vai ser difícil encontrar um emprego fora
daqui", afirmou Fonseca.
Márcia Oliveira Dionísio, 18,
ajuda a engrossar o percentual de
mulheres que trabalham no mercado informal.
De acordo com a pesquisa da
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), 254 (47%) dos ambulantes da região central são
mulheres.
Márcia deixou o emprego como
doméstica, no qual ganhava
R$180 por mês, para trabalhar
vendendo CDs no mercado informal. Com o novo trabalho, ela
disse ter aumentado sua renda em
dez vezes -R$ 1.800.
"Eu trabalho mais aqui [vendendo CD], mas é menos cansativo", garantiu a vendedora.
Competição
Os lojistas dizem enfrentar uma
concorrência desleal.
Enquanto Fonseca diz pagar R$
50 de taxa à Setec (Serviços Técnicos Gerais) para poder vender seu
produto como camelô, o comerciante Sérgio Sávio Modesto, 31,
diz pagar, no mínimo, R$ 500, entre impostos e encargos.
"A mercadoria deles é 20% mais
barata. Eu não consigo diminuir o
meu preço por causa dos impostos", disse Modesto.
A Setec arrecada cerca de R$ 1
milhão com os camelôs.
Para competir com o comércio
informal, os lojistas das ruas centrais de Campinas recorrem a vários artifícios.
Eles projetam seus produtos em
até um metro para fora da loja, fazem propaganda ao microfone e
chegam a abrir filiais no próprio
comércio informal.
A comerciante Wanessa Aires
de Freitas, que possui uma loja de
bijuterias na rua Álvares Machado, afirmou que montou uma filial entre os camelôs para vender
sua mercadoria. "O problema é
que eles acabam copiando os
itens vendidos e isso atrapalha
um pouco os negócios", disse.
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