Campinas, Sábado, 14 de Julho de 2001

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ECONOMIA INFORMAL 2
Centro de Campinas foi dividido pelos informais em três setores; comissão resolve problemas comuns
Camelôs atuam como uma cooperativa

DA FOLHA CAMPINAS

Para manter a organização e atenuar a pressão sofrida pelos lojistas, os 544 trabalhadores no comércio informal do centro de Campinas se dividem em setores e, embora independentes, trabalham como cooperados.
"Cada trabalhador aqui [Terminal Central] cuida do seu ponto, mas também ajuda o vizinho. É como se fosse um shopping, com mais companheirismo", disse o ambulante Walter Araújo Botelho, 25.
Segundo ele, cada setor tem uma comissão. "Quando temos problemas, levamos à comissão, que decide o que pode ser feito", afirmou.
Os camelôs do centro se dividem em três setores: túnel (na entrada do Terminal Central), jumbo (na rua Álvares Machado) e o Terminal Central.
"A gente tem de se organizar para pagar a segurança, a luz, possíveis reformas e a limpeza do local", disse Botelho.
Ele trabalha como ambulante há 15 anos. Disse gostar da liberdade que tem, mesmo trabalhando 12 horas por dia. No entanto torce para conseguir um emprego em que ganhe os mesmos R$ 400, mas com carteira assinada.
Com o salário, Botelho diz manter a mulher e os dois filhos.
Para o ambulante Pedro Gomes Fonseca, 39, o mercado informal é acolhedor. "Quando fiquei desempregado, a única alternativa que encontrei foi o mercado informal", disse Fonseca.
Ele trabalhava como encarregado de pedreiro quando foi demitido pela construtora falida Encol, há três anos. Agora, Fonseca trabalha vendendo cigarros. Seu salário mensal caiu de R$ 1.200 para R$ 750.
"Com a minha idade, vai ser difícil encontrar um emprego fora daqui", afirmou Fonseca.
Márcia Oliveira Dionísio, 18, ajuda a engrossar o percentual de mulheres que trabalham no mercado informal.
De acordo com a pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), 254 (47%) dos ambulantes da região central são mulheres.
Márcia deixou o emprego como doméstica, no qual ganhava R$180 por mês, para trabalhar vendendo CDs no mercado informal. Com o novo trabalho, ela disse ter aumentado sua renda em dez vezes -R$ 1.800.
"Eu trabalho mais aqui [vendendo CD], mas é menos cansativo", garantiu a vendedora.

Competição
Os lojistas dizem enfrentar uma concorrência desleal.
Enquanto Fonseca diz pagar R$ 50 de taxa à Setec (Serviços Técnicos Gerais) para poder vender seu produto como camelô, o comerciante Sérgio Sávio Modesto, 31, diz pagar, no mínimo, R$ 500, entre impostos e encargos.
"A mercadoria deles é 20% mais barata. Eu não consigo diminuir o meu preço por causa dos impostos", disse Modesto.
A Setec arrecada cerca de R$ 1 milhão com os camelôs.
Para competir com o comércio informal, os lojistas das ruas centrais de Campinas recorrem a vários artifícios.
Eles projetam seus produtos em até um metro para fora da loja, fazem propaganda ao microfone e chegam a abrir filiais no próprio comércio informal.
A comerciante Wanessa Aires de Freitas, que possui uma loja de bijuterias na rua Álvares Machado, afirmou que montou uma filial entre os camelôs para vender sua mercadoria. "O problema é que eles acabam copiando os itens vendidos e isso atrapalha um pouco os negócios", disse.


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