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CAMPINAS, 227 ANOS
Antiga parada de bandeirantes rumo às minas de Goiás, cidade atrai empresas pelo acesso fácil por rodovias e pelo aeroporto de Viracopos e se torna pólo econômico de SP
Característica de entreposto marca história de Campinas
ELI FERNANDES
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
Antigo entreposto de bandeirantes que
buscavam ouro no interior do Brasil, o
povoado que deu origem a Campinas, no
século 18, está intimamente ligado ao presente da cidade, que serve de porta de entrada para o segundo maior mercado
consumidor do país.
A chegada de Campinas aos 227 anos se
deve à fundação da Freguesia de Imaculada Conceição das Campinas do Mato
Grosso de Jundiaí, ato que, na época, representava a elevação política do então
povoado que deu origem ao que é hoje o
município-sede da 13ª região metropolitana do Brasil.
Preocupada com possíveis ataques e
motivada por um ambicioso plano geopolítico, a Coroa portuguesa -os retornos financeiros da colonização serviram
de base para a revolução industrial inglesa-, fundou a freguesia, o que deslocou
o centro do povoado das proximidades
de uma estrada usada para o tráfico de
ouro e escravos negros.
Por volta de 1730, já existiam famílias
morando no ponto de descanso dos bandeirantes, onde hoje é o estádio Brinco de
Ouro da Princesa, do Guarani. A estrada
ligava São Paulo ao interior de Goiás, onde havia fundição de ouro.
As terras também eram ponto de interesse dos traficantes de ouro que estavam
entre a planície da região de Campinas e a
cidade mineira de Ouro Fino, na serra da
Mantiqueira, assim como dos traficantes
que traziam escravos africanos do litoral
paulista para vendê-los no sertão.
Os portugueses aproveitaram a localização do povoado, e também de outras
cidades ao longo da bacia hidrográfica do
rio Paraná (até a bacia do Prata, na Argentina), para impedir uma possível ocupação espanhola por suas colônias vizinhas do Brasil.
Os portugueses promoveram o desenvolvimento de cidades como Campinas,
que teve o centro transferido (no ato de
sua fundação) para onde é hoje o largo do
Carmo, praça na qual está o monumento-túmulo do maestro campineiro Carlos
Gomes, um dos maiores expoentes da
cultura brasileira.
Com a mudança do centro, o capitão-general da capitania de São Paulo, Morgado de Mateus, consolidou em 1774 a
formatação de mais uma cidade estrategicamente planejada para proteger o Rio
de Janeiro, recentemente transformada
em capital da colônia portuguesa.
A orientação era do próprio Marquês
de Pombal, e o projeto envolvia povoados
da Capitania, que se estendia até a atual
Argentina. As planícies, solo e clima adequados, ignorados pelos bandeirantes,
eram favoráveis à agricultura e portanto
aos planos dos portugueses.
Se a cidade surgiu da parada dos bandeirantes, seu primeiro ciclo econômico,
pujante entre 1790 e 1840, teve como sustentação a cultura da cana-de-açúcar, que
trouxe os tropeiros para vender o gado,
que chegava de onde hoje é o Rio Grande
do Sul.
Comprado em Sorocaba, o gado servia
para mover os carros de bois, fundamentais para o cultivo da cana. Nesse período,
já haviam chegado novas famílias para se
misturar aos antigos moradores ligados
aos bandeirantes.
A cidade, que se tornava famosa como a
"Estrela d'Oeste" de São Paulo, sinônimo
de desenvolvimento, conviveria com a
"tradição" do tráfico e do contrabando,
atividade que, como hoje, ainda absorve a
mão-de-obra do morador que não se
adapta aos ciclos econômicos ditados pelos países desenvolvidos.
Cada ciclo deixou sua marca social, cultural e política. Após a cana-de-açúcar,
foi a vez do café e seus barões. Um dos
marcos da agricultura está no IAC (Instituto Agronômico de Campinas), criado
sob encomenda do imperador dom Pedro 2º, antes da industrialização.
Parte de sua população foi dizimada
pela febre amarela, no final do século 19,
mas a cidade se recuperou e manteve-se
como pólo da concentração de riquezas e
de uma indústria que se modernizou no
século passado em períodos como o regime militar, ainda que mantivesse um forte movimento esquerdista de oposição ao
governo.
A decadência do emprego industrial
nos moldes tradicionais trouxe, nas últimas décadas, o fomento à economia informal, o crescimento dos contrastes sociais o surgimento de grandes ocupações
de terra, como o complexo Parque Oziel/
Monte Cristo, formado sob influência do
MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem-Terra).
Antigas vilas operárias -como Boa
Vista, São Fernando, Costa e Silva, Vila
Industrial e Vila Rica -cedem hoje seu
espaço ao narcotráfico a ponto de a cidade ter sido incluída nas rotas de duas CPIs
(Comissões Parlamentares de Inquérito)
-uma estadual e outra federal- como
um dos principais locais de atuação do
crime organizado no país.
Da primeira revolução industrial inglesa, passando pela industrialização do século 20 até a nova economia, fundada sobre a indústria de alta tecnologia e de serviços, Campinas ainda convive com a
imagem de entreposto.
Sob os efeitos da crise energética e da
precariedade dos serviços públicos, a cidade está na rota do fantasma da migração de investimentos, principalmente estrangeiros, que sinalizam para regiões como as de Ribeirão Preto e o Vale do Paraíba, além de outros países.
A cidade, que chegou a ser comparada
ao Vale do Silício -região dos EUA que
concentra a indústria de alta tecnologia- se mantém como entreposto de
uma população que vem em busca do ensino qualificado -caso da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas),
berço político do ministro da Educação,
Paulo Renato de Souza.
A característica de entreposto ainda é
marcante nos transportes do passado,
com a antiga estação da Fepasa (Ferrovias Paulistas S.A), e no presente com o
aeroporto internacional Viracopos, o
maior terminal de cargas aéreas do país, e
um entroncamento rodoviário que inclui
o sistema Anhanguera/Bandeirantes, a
Santos Dumont, a D. Pedro 1º e a SP-340,
que liga Campinas a Mogi Mirim e aos
municípios do sul de Minas Gerais.
(Colaborou Cássia Souza, free-lance
para a Folha Campinas)
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