Campinas, Domingo, 15 de agosto de 1999

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CRISE CARCERÁRIA
Empresas abrem "filiais" em presídio e detentos conseguem ajudar famílias com o trabalho
Presídio vira "oásis" em Campinas

Frâncio de Hollanda/ Folha Imagem
Vista da linha de produção de suportes para cortinas que faz parceri com o Presídio Atalia Nogueira, em campinas


LUCIANO CALAFIORI
free-lance para a Folha Campinas

O Presídio Professor Ataliba Nogueira, em Campinas, está funcionando como um "oásis" dentro do contexto da crise carcerária instalada na cidade.
No presídio geralmente sobram vagas. Na última sexta-feira, sobravam cinco. Mais 14 detentos devem estar em liberdade amanhã.
Na sexta-feira, as cadeias de Campinas mantinham 596 presos onde caberiam somente 96.
Nessas condições, a reintegração à sociedade torna-se a cada dia mais inviável para os presos de Campinas. No Ataliba Nogueira, entretanto, os presos ganham salários, ajudam suas famílias e muitos saem empregados.
O principal diferencial do Ataliba é que os presos trabalham. O sucesso do projeto de reintegração social fez com que o número de empresas com linhas de produção instaladas dentro do presídio seja ampliado de cinco para sete até o final deste mês.
As duas novas "filiais" de empresas que atuam junto com o Ataliba aumentarão de 500 para 700 o número de detentos trabalhando dentro ou fora da unidade prisional, que mantém 955 presos em regime semi-aberto.
Inaugurado em 1986, o Ataliba não registra rebeliões desde 93. Mas acontecem problemas de disciplina considerados corriqueiros em unidades prisionais, como brigas entre presos.
Já nas cadeias da região, as rebeliões e as fugas tumultuam o dia-a-dia da polícia e dos vizinhos. No 2º DP (Distrito Policial) oito pessoas ficaram feridas em uma rebelião, há duas semanas.
Desde 93 já estão instaladas empresas de móveis, reciclagem, sacos de lixo, acessórios para cortinas e cerâmica.
Até o final de agosto começam a funcionar uma unidade industrial de artigos para festas e outra de embalagens industriais.
O preso ganha duas vezes ao começar a trabalhar dentro ou fora do presídio. A cada três dias trabalhados, ele tem um dia descontado do período de pena.
"É o caminho mais rápido para a liberdade", afirmou o detento Carlos Marcos Miguel, 40. Ele chegou há um mês na unidade e trabalha na cozinha.
Cada detento empregado recebe um salário mínimo (R$ 136,00). Dessa verba, como o detento não pode manipular dinheiro, 80% ficam depositados em uma conta pessoal, que pode ser movimentada pela família ou pelo preso, por meio de autorizações, para compras de produtos de higiene ou outras despesas.
Os 20% restantes são rateados para pagar os presos incluídos no quadro de manutenção, faxina e cozinha do presídio.



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