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CRISE CARCERÁRIA 2
Parentes de presos recebem 80% do dinheiro que eles ganham com o trabalho no Ataliba
Salários beneficiam 500 famílias
free-lance para a Folha Campinas
Cerca de 500 famílias recebem
um total de R$ 54 mil por mês pelo trabalho executado pelo presos
do Presídio Ataliba Nogueira, em
Campinas.
No total, segundo a direção do
Presídio Ataliba Nogueira, são arrecadados mensalmente cerca de
R$ 70 mil.
Cada preso recebe um salário
mínimo, mas há casos de empresas que pagam mais do que isso
para seus funcionários.
Um detento funcionário de
uma metalúrgica ganhava R$ 800.
Segundo o diretor do presídio,
Marco Antonio Feitosa, o metalúrgico morreu há alguns meses.
Hoje o teto de salário para os presos é de R$ 200.
Famílias
São as famílias que administram o dinheiro recebido pelos
presos, já que o sistema carcerário
não permite ao detento manusear
dinheiro.
Mesmo sendo pouco, o dinheiro é usado para o pagamento de
contas residenciais e também para a compra de roupas e utensílios
de higiene pessoal, de acordo com
os presidiários ouvidos pela Folha.
O detento Carlos Marcos Miguel, 40, recebe de R$ 30 a R$ 40
por mês por trabalhar dentro do
Ataliba na cozinha, por meio do
sistema de rateio dos salários dos
empregados em empresas.
"Esse dinheiro paga minha higiene pessoal e passagens de ônibus para as minhas visitas", afirmou Miguel.
Para Antônio Luís, 27, funcionário de uma empresa de acessórios para cortinas, o salário mínimo que ganha pelo trabalho serve
para pagar móveis de quarto.
O detento vai se casar e repassa
o dinheiro para a noiva, que mora
em Indaiatuba (28 km de Campinas). Antônio Luís foi preso por
furto.
Outra forma de os presos buscarem uma colocação no mercado
de trabalho são os cursos profissionalizantes e de alfabetização
ministrados no período noturno,
dentro do presídio.
As aulas são ministradas por
professores da Coesp (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo).
Há cursos de eletricidade, informática e, ainda neste ano, terá início o de segurança do trabalho.
²
Empresas
A Sanito Indústria e Comércio
Ltda., de Campinas, empresa especializada na produção de sacos
de lixo e embalagens plásticas, foi
uma das primeiras a instalar uma
"filial" dentro do presídio.
Um grupo de 40 presos está cadastrado para trabalhar na Sanito.
Quase todos estão atuando.
A empresa tem um total de 95
funcionários.
A Sanito chegou a empregar um
dos ex-internos do Presídio Ataliba Nogueira na sua sede.
Depois o empregado acabou
mudando de Campinas e pediu
demissão, de acordo com a empresa.
"Só não empregamos mais porque esperamos o país melhorar
sua situação financeira e também
porque muitos presos moram fora de Campinas e quando cumprem pena voltam para sua cidade de origem", disse o gerente administrativo da Sanito, Cláudio
Marques.
As duas novas empresas que estarão funcionando a partir do final do mês vão empregar 200 pessoas.
Sempre que houver pessoas do
presídio com experiência na área
solicitada, as vagas internas e externas serão preferencialmente
dos presos.
"Tentamos sempre adequar o
preso à sua profissão", afirmou o
diretor do presídio, Marco Antonio Feitosa.
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