Campinas, Domingo, 15 de agosto de 1999

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CRISE CARCERÁRIA 2
Parentes de presos recebem 80% do dinheiro que eles ganham com o trabalho no Ataliba
Salários beneficiam 500 famílias

free-lance para a Folha Campinas

Cerca de 500 famílias recebem um total de R$ 54 mil por mês pelo trabalho executado pelo presos do Presídio Ataliba Nogueira, em Campinas.
No total, segundo a direção do Presídio Ataliba Nogueira, são arrecadados mensalmente cerca de R$ 70 mil.
Cada preso recebe um salário mínimo, mas há casos de empresas que pagam mais do que isso para seus funcionários.
Um detento funcionário de uma metalúrgica ganhava R$ 800. Segundo o diretor do presídio, Marco Antonio Feitosa, o metalúrgico morreu há alguns meses. Hoje o teto de salário para os presos é de R$ 200.
Famílias
São as famílias que administram o dinheiro recebido pelos presos, já que o sistema carcerário não permite ao detento manusear dinheiro.
Mesmo sendo pouco, o dinheiro é usado para o pagamento de contas residenciais e também para a compra de roupas e utensílios de higiene pessoal, de acordo com os presidiários ouvidos pela Folha.
O detento Carlos Marcos Miguel, 40, recebe de R$ 30 a R$ 40 por mês por trabalhar dentro do Ataliba na cozinha, por meio do sistema de rateio dos salários dos empregados em empresas.
"Esse dinheiro paga minha higiene pessoal e passagens de ônibus para as minhas visitas", afirmou Miguel.
Para Antônio Luís, 27, funcionário de uma empresa de acessórios para cortinas, o salário mínimo que ganha pelo trabalho serve para pagar móveis de quarto.
O detento vai se casar e repassa o dinheiro para a noiva, que mora em Indaiatuba (28 km de Campinas). Antônio Luís foi preso por furto.
Outra forma de os presos buscarem uma colocação no mercado de trabalho são os cursos profissionalizantes e de alfabetização ministrados no período noturno, dentro do presídio.
As aulas são ministradas por professores da Coesp (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo).
Há cursos de eletricidade, informática e, ainda neste ano, terá início o de segurança do trabalho.
² Empresas
A Sanito Indústria e Comércio Ltda., de Campinas, empresa especializada na produção de sacos de lixo e embalagens plásticas, foi uma das primeiras a instalar uma "filial" dentro do presídio.
Um grupo de 40 presos está cadastrado para trabalhar na Sanito. Quase todos estão atuando.
A empresa tem um total de 95 funcionários.
A Sanito chegou a empregar um dos ex-internos do Presídio Ataliba Nogueira na sua sede.
Depois o empregado acabou mudando de Campinas e pediu demissão, de acordo com a empresa.
"Só não empregamos mais porque esperamos o país melhorar sua situação financeira e também porque muitos presos moram fora de Campinas e quando cumprem pena voltam para sua cidade de origem", disse o gerente administrativo da Sanito, Cláudio Marques.
As duas novas empresas que estarão funcionando a partir do final do mês vão empregar 200 pessoas.
Sempre que houver pessoas do presídio com experiência na área solicitada, as vagas internas e externas serão preferencialmente dos presos.
"Tentamos sempre adequar o preso à sua profissão", afirmou o diretor do presídio, Marco Antonio Feitosa.



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