Campinas, Domingo, 28 de março de 1999

Próximo Texto | Índice

DIREITOS HUMANOS
Identificação de presos políticos pode estar comprometida; para familiares, a tortura continua
Ossadas de Perus são esquecidas no DML

Marcos Peron/Folha Imagem
Crânio e outras partes de ossadas encontradas no Cemitério de Perus em uma sala do DML da Unicamp


ELI FERNANDES
free-lance para a Folha Campinas

A identificação de desaparecidos políticos perseguidos pelo regime militar está comprometida por um jogo de empurra entre instituições governamentais.
As 1.047 ossadas encontradas há quase nove anos em uma vala clandestina do Cemitério de Perus, em São Paulo, estão amontoadas no DML (Departamento de Medicina Legal) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
As ossadas estão espalhadas em duas salas do DML e chegam a ser atingidas pela lama que sai de um ralo.
Os ossos estão guardados em sacos abertos, panelas e até em peneiras.
"É como se a tortura continuasse. Vivemos em agonia e expectativa. Minha mãe tem mais de 80 anos, está com a saúde debilitada e cega. A principal causa disso é essa situação", disse o engenheiro Gilberto Molina, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais.
Ele acredita que a ossada de seu irmão, Flávio Molina, militante do Molipo (Movimento de Libertação Popular) desaparecido em 1971, esteja entre as ossadas. "A gente só quer o direito de enterrar nossos mortos", afirmou.



Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.