Campinas, Domingo, 28 de março de 1999

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DIREITOS HUMANOS 2
Governo criou comissão para resolver caso das ossadas de Perus, mas pedidos não foram atendidos
Estado promete apurar responsabilidade

free-lance para a Folha Campinas

O governo do Estado promete apurar as responsabilidades de diversas instituições estaduais pelo abandono das 1.047 ossadas de Perus. Amanhã deve ser anunciado um posicionamento oficial.
A assessoria de imprensa do governador Mário Covas (PSDB) informou que será feita uma investigação sobre as responsabilidades das instituições envolvidas.
O abandono das ossadas, encontradas há nove anos em uma vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, no bairro Perus, zona oeste de São Paulo, envolve a Unicamp e duas secretarias estaduais.
Por falta de perícias técnicas, encerradas pela Unicamp em 1997, e uma conturbada desestruturação do departamento, as ossadas podem esconder o paradeiro de pelo menos dois militantes políticos: Hiroaki Torigoi e Flávio Molina, que integravam o Molipo (Movimento de Libertação Popular).
As análises começaram a ser feitas pelo médico legista Antônio Fortunato Badan Palhares em 90, mas os familiares e entidades de defesa dos direitos humanos pediram que ele fosse afastado do caso, cinco anos depois, alegando que os resultados eram insatisfatórios.
Badan Palhares foi substituído por José Eduardo Bueno Zappa, que acabou deixando o trabalho ao pedir demissão da universidade, em 97.
Desde então, o caso vem se arrastando a tal ponto que no ano passado a Secretaria de Estado da Segurança Pública criou uma entidade só para cuidar do assunto. Foi instituída, em 98, a Comissão de Transferência das Ossadas de Perus.
Mas a comissão, que defende a transferência das ossadas para a USP (Universidade de São Paulo) há um ano e não quer a retomada das perícias por Badan Palhares, hoje o único médico-legista do DML, não teve nenhum de seus pedidos atendidos.
A remoção é só uma das propostas da entidade, segundo seu presidente, o médico-legista Antenor Chicarino. A comissão concluiu relatório onde é proposta ainda auditoria para apurar quanto dinheiro do contribuinte foi destinado e aplicado nos exames.
O relatório aponta ainda a necessidade de uma catalogação do material armazenado no DML para conferir se as ossadas encontradas em Perus ainda estão na Unicamp.
O documento conclui que é necessária a abertura de inquérito policial devido à forma "ilegal" e "desrespeitosa" como os exames foram conduzidos.
Hoje, no entanto, as duas secretarias estaduais envolvidas não dão informações sobre o atendimento à comissão.
Quando as perícias começaram, graças a um convênio entre a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado, a previsão era de conclusão do caso em dois anos.



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