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BIOTECNOLOGIA
DNA de linhagem de micróbio usada em ataques terroristas nos EUA indica alvos para combater infecção
Americanos decifram genoma do antraz
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
O micróbio que tem causado
pânico nos Estados Unidos e que
foi usado pelo governo americano
como uma das justificativas para
a guerra no Iraque acaba de ter
seu DNA decifrado. Um grupo de
cientistas americanos publica hoje a sequência genética da linhagem Ames do Bacillus anthracis,
tipo de bactéria do antraz usado
nos ataques postais de 2001, nos
quais morreram cinco pessoas,
em seguida aos atentados terroristas do 11 de setembro.
O resultado do sequenciamento, publicado hoje na revista científica britânica "Nature" (www.nature.com), pode fornecer pistas para a produção de novas drogas contra o antraz.
Hoje, a infecção só pode ser detida por antibióticos, que não funcionam bem em estágios avançados da doença. A vacina que existe contra o antraz, usada somente
por militares, é pouco eficiente e
causa diversos efeitos colaterais.
O estudo mostra que o micróbio assassino é geneticamente
quase idêntico a duas bactérias
comuns. As diferenças estão em
um punhado de genes (trechos de
DNA que carregam "receitas" de
proteínas) que o antraz adquiriu
em pouco tempo de evolução e na
maneira como ele usa seus genes.
Segundo o biólogo Timothy
Read, do Tigr (sigla em inglês para Instituto para Pesquisa Genômica), que coordenou a soletração do genoma (conjunto dos genes) do antraz, a bactéria é muito ágil. "O genoma mostra que ela
tem vários genes de metabolismo,
que lhe dão capacidade de se
adaptar a diversos ambientes",
disse o cientista à Folha.
Essa capacidade de adaptação
pode ter desempenhado um papel importante na transformação
do B. anthracis -cujo ancestral
mais próximo era provavelmente
uma bactéria de solo inofensiva- num microrganismo capaz
de matar rapidamente as vítimas.
Ele costuma ser usado como arma
biológica devido à capacidade de
formar esporos resistentes, que
podem ser transformados em pó.
"Dizer como a evolução se deu é
especulação, mas trata-se de um
organismo recente", afirmou.
Read e seus colegas sequenciaram (soletraram) as "letras" químicas do cromossomo do antraz
e o compararam a sequências já
conhecidas das duas outras bactérias, o Bacillus cereus e o Bacillus
thuringiensis -este usado como
inseticida natural na agricultura.
O DNA do B. anthracis está distribuído em dois tipos de estrutura, um longo cromossomo e dois
anéis curtos (chamados plasmídeos). O Tigr já havia sequenciado os anéis, que carregam a maior
parte dos genes de infecção. Em
um desses anéis está a receita bioquímica para a fabricação da toxina do antraz, a proteína que causa
os sintomas da doença e a morte.
Com o sequenciamento do cromossomo, financiado pelos governos dos EUA e do Reino Unido (Read não revela o valor), os cientistas esperam fechar de vez o cerco à doença. A pesquisa identificou ao menos 34 proteínas do micróbio que podem ser bloqueadas por drogas específicas, interrompendo o ciclo de vida do parasita.
"Havia muitos traços patogênicos [envolvidos na infecção] sobre os quais não conhecíamos nada. Descobrimos vários deles no
cromossomo", afirmou o biólogo.
"Além disso, quando se lida com
o antraz, precisamos ter o maior
número possível de alvos para
medicamentos", continuou.
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