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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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BIOTECNOLOGIA

DNA de linhagem de micróbio usada em ataques terroristas nos EUA indica alvos para combater infecção

Americanos decifram genoma do antraz

CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

O micróbio que tem causado pânico nos Estados Unidos e que foi usado pelo governo americano como uma das justificativas para a guerra no Iraque acaba de ter seu DNA decifrado. Um grupo de cientistas americanos publica hoje a sequência genética da linhagem Ames do Bacillus anthracis, tipo de bactéria do antraz usado nos ataques postais de 2001, nos quais morreram cinco pessoas, em seguida aos atentados terroristas do 11 de setembro.
O resultado do sequenciamento, publicado hoje na revista científica britânica "Nature" (www.nature.com), pode fornecer pistas para a produção de novas drogas contra o antraz.
Hoje, a infecção só pode ser detida por antibióticos, que não funcionam bem em estágios avançados da doença. A vacina que existe contra o antraz, usada somente por militares, é pouco eficiente e causa diversos efeitos colaterais.
O estudo mostra que o micróbio assassino é geneticamente quase idêntico a duas bactérias comuns. As diferenças estão em um punhado de genes (trechos de DNA que carregam "receitas" de proteínas) que o antraz adquiriu em pouco tempo de evolução e na maneira como ele usa seus genes.
Segundo o biólogo Timothy Read, do Tigr (sigla em inglês para Instituto para Pesquisa Genômica), que coordenou a soletração do genoma (conjunto dos genes) do antraz, a bactéria é muito ágil. "O genoma mostra que ela tem vários genes de metabolismo, que lhe dão capacidade de se adaptar a diversos ambientes", disse o cientista à Folha.
Essa capacidade de adaptação pode ter desempenhado um papel importante na transformação do B. anthracis -cujo ancestral mais próximo era provavelmente uma bactéria de solo inofensiva- num microrganismo capaz de matar rapidamente as vítimas. Ele costuma ser usado como arma biológica devido à capacidade de formar esporos resistentes, que podem ser transformados em pó. "Dizer como a evolução se deu é especulação, mas trata-se de um organismo recente", afirmou.
Read e seus colegas sequenciaram (soletraram) as "letras" químicas do cromossomo do antraz e o compararam a sequências já conhecidas das duas outras bactérias, o Bacillus cereus e o Bacillus thuringiensis -este usado como inseticida natural na agricultura.
O DNA do B. anthracis está distribuído em dois tipos de estrutura, um longo cromossomo e dois anéis curtos (chamados plasmídeos). O Tigr já havia sequenciado os anéis, que carregam a maior parte dos genes de infecção. Em um desses anéis está a receita bioquímica para a fabricação da toxina do antraz, a proteína que causa os sintomas da doença e a morte.
Com o sequenciamento do cromossomo, financiado pelos governos dos EUA e do Reino Unido (Read não revela o valor), os cientistas esperam fechar de vez o cerco à doença. A pesquisa identificou ao menos 34 proteínas do micróbio que podem ser bloqueadas por drogas específicas, interrompendo o ciclo de vida do parasita.
"Havia muitos traços patogênicos [envolvidos na infecção] sobre os quais não conhecíamos nada. Descobrimos vários deles no cromossomo", afirmou o biólogo. "Além disso, quando se lida com o antraz, precisamos ter o maior número possível de alvos para medicamentos", continuou.


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