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AMBIENTE
Simulação feita por japoneses sugere que redução de CFCs na atmosfera causará fechamento do buraco antártico
Ozônio deverá estar restaurado até 2040
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem é cético com relação à capacidade do ser humano para lidar com os problemas ambientais
que ele mesmo está causando precisa ouvir esta: cientistas japoneses dizem que a camada de ozônio
voltará à plena saúde até 2040.
A recuperação, segundo os pesquisadores, é resultado direto da
contenção das emissões dos gases
halógenos (que possuem em sua
composição átomos de cloro,
flúor, bromo ou iodo), dos quais
fazem parte os famosos CFCs
(clorofluorocarbonetos), antes
utilizados com frequência em dispositivos de sprays e em refrigeradores. As reduções partiram de
um protocolo internacional assinado em Montréal em 1987.
Quando emitidos, esses gases
vão para a alta atmosfera, onde
atuam como verdadeiras "marretas" do ozônio -um tipo de gás
oxigênio "turbinado" (altamente
reativo e instável), com três átomos de oxigênio por molécula em
vez de dois. Ao encontrar o ozônio, os CFCs induzem a quebra da
molécula, e o que sobra do desmanche é simples oxigênio (O2).
Embora ozônio não seja mesmo
flor que se cheire (é altamente tóxico, se inalado), é lamentável que
ele suma da alta atmosfera da Terra. Àquela altitude, o O3 passa de
vilão a mocinho, formando um
escudo invisível que protege a superfície do planeta contra os raios
ultravioleta vindos do Sol, nocivos para a maioria das formas de
vida, inclusive os humanos.
Nas últimas décadas, com o
avanço do progresso industrial,
mais e mais halógenos acabaram
sendo liberados na atmosfera, e o
estrago na camada de ozônio não
demorou a ser sentido. O comportamento das massas de ar induziu à concentração da destruição em regiões bem específicas. A
maior delas fica sobre a Antártida,
onde um enorme buraco tem sido
observado, cada vez maior, ao
longo dos últimos anos.
Entretanto, o corte nas emissões
de halógenos a partir do Protocolo de Montréal está eliminando o
desenrolar de um futuro catastrófico, ocasionado pelo crescimento
desenfreado do rombo "ozônico"
-ao menos no computador.
O que já é uma boa coisa. O modelo atmosférico produzido por
Tatsuya Nagashima, do Instituto
Nacional para Estudos Ambientais japonês, e seus colegas reproduz com sucesso o comportamento do ozônio ao longo dos últimos 14 anos e prevê sua evolução durante os próximos 40.
Ele mostra que o buraco sobre a
Antártida deve começar a reduzir
nos próximos anos, lentamente
até 2015 e de forma acelerada até o
final da década de 2030. Em 2040,
os pinguins antárticos poderão
respirar aliviados, com níveis normais de O3 sobre suas cabeças.
Muitas variáveis
Claro, se a camada de ozônio só
se restaurar em 2043, não bata à
porta de Nagashima pedindo seu
dinheiro de volta. "Um valor do
ozônio no modelo em um ano específico não é um valor real do
ozônio. O que quero dizer é que
2035 em nosso estudo não vai
ocorrer perfeitamente em 2035 na
atmosfera real", afirma o pesquisador, que publicou seus resultados na última edição da revista
científica "Geophysical Research
Letters" (www.agu.org/grl).
Mesmo assim, ele considera sua
pesquisa evidência sólida de como a alta atmosfera vai se comportar durante as próximas décadas, por ser um modelo mais
completo que os anteriores. Outros já haviam previsto o fechamento do buraco antártico, mas
apresentavam o surgimento de
outro, no pólo Norte. O dele não
leva a esse resultado.
Está tudo dominado?
Os resultados observados e previstos são surpreendentes para
Nagashima, em um sentido até filosófico. "Acho que a atual crise
do ozônio inesperadamente mostra a habilidade dos humanos para alterar as grandes variáveis em
nosso planeta", afirma o pesquisador. Em compensação, ainda há
muitas incógnitas em jogo para
que a humanidade se declare senhora absoluta do planeta.
"Estudos de modelagem só podem indicar uma faixa de probabilidades", diz Nagashima. Embora o modelo dele seja um dos
mais detalhados já desenvolvidos
para responder à questão do ozônio, ele não é completo, nem totalmente preciso -quando outras variáveis forem computadas,
ninguém garante que o resultado
será o mesmo. "Se há resultados
vagos o suficiente para incluir
também futuros alternativos, isso
está longe de ser o "controle" da
natureza pela espécie humana."
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