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Efeito é psicológico, afirma cientista
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A decisão de Vladimir Putin de
encaminhar o Protocolo de Kyoto
para ratificação pelo Parlamento
foi comemorada por ambientalistas, que vêem nela a salvação do
único acordo internacional já
concebido capaz de lidar -ainda
que de forma tímida- com o
problema do aquecimento global.
Cientistas ouvidos pela Folha,
no entanto, pedem cautela: para
eles, a ratificação de Kyoto terá
um efeito sobretudo psicológico,
e as negociações estão tão atrasadas que até mesmo a meta de cortar 5,2% das emissões dos países
industrializados entre 2008 e 2012
pode não ser cumprida.
"Se for levada adiante, a decisão
russa terá um efeito psicológico",
disse o climatologista Peter Stone,
do MIT (Instituto de Tecnologia
de Massachusetts), nos EUA.
É uma sinalização de que o resto
do mundo está disposto a encarar
a tarefa de mitigar o efeito estufa,
apesar da resistência americana.
Stone diz, no entanto, que o
protocolo tem diversas falhas estruturais -se omite, por exemplo, em relação à questão dos aerossóis, fontes importantes de
aquecimento-, que deveriam ser
resolvidas no segundo período de
redução, a partir de 2012.
"Mas a demora atrasou o processo para o segundo período."
Para o físico José Goldemberg,
secretário do Meio Ambiente do
Estado de São Paulo e um dos
principais negociadores brasileiros de Kyoto, vai haver uma corrida dos países ricos para reduzir as
emissões num período curto demais -e a meta inicial de Kyoto
provavelmente não será cumprida. "Já se perdeu muito tempo."
Goldemberg afirma ainda que a
eventual entrada em vigor em
2005 (a previsão inicial era 2002)
também deve colocar pressão sobre o Brasil: no segundo período,
países do Terceiro Mundo também devem assumir compromissos de reduzir emissões. No caso
brasileiro, o desmatamento da
Amazônia (que joga cerca de 200
milhões de toneladas de carbono
na atmosfera todo ano) é o alvo.
A UE, a ONU e o movimento
ambientalista comemoraram a
decisão. "Num momento em que
a Terra é fustigada por crescentes
tempestades, o presidente Putin
nos trouxe a um ponto crucial na
história humana hoje", disse Steve Sawyer, do Greenpeace. "A administração Bush ficou sozinha
na lama e o resto dos governos do
mundo podem caminhar para
enfrentar a mudança climática."
O diretor do Programa das Nações Unidas para o Ambiente,
Klaus Töpfer, deu "calorosas
boas-vindas" à atitude russa e alfinetou os EUA: "Outros países que
têm sido, como a Rússia, reticentes, agora vão se unir, espero, aos
esforços da comunidade internacional", escreveu.
"É ilusão achar que os EUA voltarão a Kyoto, não importa quem
vença a eleição", disse o físico Luiz
Gylvan Meira Filho, da USP, que
foi convocado pelo governo britânico para um painel que debaterá
a ciência do efeito estufa.
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