São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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AMBIENTE

Estratégias atuais seriam incapazes de substituir os combustíveis fósseis e conter o aquecimento global, diz estudo

Energia requer tecnologia revolucionária

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há hoje nenhuma tecnologia no mundo capaz de substituir os combustíveis fósseis na produção de energia a ponto de conter o processo que está levando ao aquecimento global. Para buscar uma solução, dizem cientistas americanos e canadenses, será preciso apostar alto em coisas que ainda não existem -e que parecem ter saído diretamente dos filmes de ficção científica.
O grupo liderado por Martin Hoffert, um físico da Universidade de Nova York, analisou diversas estratégias atualmente apontadas como formas de produção de energia limpa, mas chegou à conclusão de que nenhuma delas (biomassa, fissão nuclear, ventos ou fotovoltaica terrestre), mesmo em esforços combinados, vai substituir a contento os 12 terawatts anuais consumidos pela humanidade hoje (85% dos quais são derivados de combustíveis fósseis), muito menos os 30 estimados para daqui a 50 anos.
Em estudo publicado hoje na "Science" (www.sciencemag.org), os pesquisadores argumentam que alternativas como fusão nuclear (incluindo reatores mistos de fusão e fissão) e estações de captação de energia solar montados no espaço são possíveis caminhos -contanto que comece agora um esforço no sentido de desenvolver a tecnologia.
"Estamos bastante convencidos de que nenhuma tecnologia atual vai resolver", diz Hoffert. "E nós não somos pessimistas. Estamos apenas tentando ver quais revoluções tecnológicas poderão responder ao problema."
As idéias que podem enfrentar o desafio já existem, mas será preciso usá-las de forma combinada e após torná-las tecnologicamente viáveis. Fusão nuclear, por exemplo, é a forma de produção de energia que alimenta as estrelas, fusionando átomos de hidrogênio que se transformam num de hélio, com grande liberação de energia no processo. Mas os melhores experimentos com fusão só conseguem empatar a reação -ou seja, gastar a mesma quantidade de energia que seria gerada pela fusão nuclear para iniciá-la.
Por seu potencial rendimento teórico, a fusão pode ser o grande caminho para o futuro, mas não sem antes haver um grande investimento em pesquisa e desenvolvimento para torná-la viável.

Painéis solares no espaço
A energia fotovoltaica, obtida com painéis solares, não oferece grande rendimento na Terra. Levada ao espaço, onde os painéis recebem mais radiação solar e não estão sob uma atmosfera cheia de nuvens, metade do tempo sem a luz do Sol, pode ajudar, mas não resolver. Estima-se que 660 estações com superfície total igual à do Rio Grande do Norte, em órbita geoestacionária (sempre sobre o mesmo ponto da Terra), poderiam coletar 10 terawatts.
Em outras palavras, será preciso mais que uma estratégia para substituir a energia produzida à custa da emissão de gás carbônico, principal causa do efeito estufa, que deve elevar a temperatura global em 1,5C a 4,5C nos próximos cem anos. "Com um esforço vigoroso em pesquisa e desenvolvimento, um conjunto de tecnologias pode resolver o problema, mas não há uma única bala mágica agora que possa eliminar o aquecimento global", diz Ken Caldeira, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, também autor do estudo.
Pelo menos o problema parece solúvel. "É complicado, mas não impossível. Dependerá muito de vontade política", diz Hoffert.
"A humanidade é capaz de evitar o desastre", afirma Caldeira. "A questão é se a humanidade tem a sabedoria para evitá-lo."



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