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AMBIENTE
Estratégias atuais seriam incapazes de substituir os combustíveis fósseis e conter o aquecimento global, diz estudo
Energia requer tecnologia revolucionária
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há hoje nenhuma tecnologia no mundo capaz de substituir
os combustíveis fósseis na produção de energia a ponto de conter o
processo que está levando ao
aquecimento global. Para buscar
uma solução, dizem cientistas
americanos e canadenses, será
preciso apostar alto em coisas que
ainda não existem -e que parecem ter saído diretamente dos filmes de ficção científica.
O grupo liderado por Martin
Hoffert, um físico da Universidade de Nova York, analisou diversas estratégias atualmente apontadas como formas de produção
de energia limpa, mas chegou à
conclusão de que nenhuma delas
(biomassa, fissão nuclear, ventos
ou fotovoltaica terrestre), mesmo
em esforços combinados, vai
substituir a contento os 12 terawatts anuais consumidos pela humanidade hoje (85% dos quais
são derivados de combustíveis
fósseis), muito menos os 30 estimados para daqui a 50 anos.
Em estudo publicado hoje na
"Science" (www.sciencemag.org), os pesquisadores argumentam que alternativas como fusão
nuclear (incluindo reatores mistos de fusão e fissão) e estações de
captação de energia solar montados no espaço são possíveis caminhos -contanto que comece
agora um esforço no sentido de
desenvolver a tecnologia.
"Estamos bastante convencidos
de que nenhuma tecnologia atual
vai resolver", diz Hoffert. "E nós
não somos pessimistas. Estamos
apenas tentando ver quais revoluções tecnológicas poderão responder ao problema."
As idéias que podem enfrentar o
desafio já existem, mas será preciso usá-las de forma combinada e
após torná-las tecnologicamente
viáveis. Fusão nuclear, por exemplo, é a forma de produção de
energia que alimenta as estrelas,
fusionando átomos de hidrogênio
que se transformam num de hélio, com grande liberação de energia no processo. Mas os melhores
experimentos com fusão só conseguem empatar a reação -ou
seja, gastar a mesma quantidade
de energia que seria gerada pela
fusão nuclear para iniciá-la.
Por seu potencial rendimento
teórico, a fusão pode ser o grande
caminho para o futuro, mas não
sem antes haver um grande investimento em pesquisa e desenvolvimento para torná-la viável.
Painéis solares no espaço
A energia fotovoltaica, obtida
com painéis solares, não oferece
grande rendimento na Terra. Levada ao espaço, onde os painéis
recebem mais radiação solar e
não estão sob uma atmosfera
cheia de nuvens, metade do tempo sem a luz do Sol, pode ajudar,
mas não resolver. Estima-se que
660 estações com superfície total
igual à do Rio Grande do Norte,
em órbita geoestacionária (sempre sobre o mesmo ponto da Terra), poderiam coletar 10 terawatts.
Em outras palavras, será preciso
mais que uma estratégia para
substituir a energia produzida à
custa da emissão de gás carbônico, principal causa do efeito estufa, que deve elevar a temperatura
global em 1,5C a 4,5C nos próximos cem anos. "Com um esforço
vigoroso em pesquisa e desenvolvimento, um conjunto de tecnologias pode resolver o problema,
mas não há uma única bala mágica agora que possa eliminar o
aquecimento global", diz Ken
Caldeira, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, também autor do estudo.
Pelo menos o problema parece
solúvel. "É complicado, mas não
impossível. Dependerá muito de
vontade política", diz Hoffert.
"A humanidade é capaz de evitar o desastre", afirma Caldeira.
"A questão é se a humanidade
tem a sabedoria para evitá-lo."
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