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MEDICINA TROPICAL
Pacientes recuperaram capacidade cardíaca; Ministério da Saúde estuda incorporar terapia ao SUS
Célula-tronco restitui coração chagásico
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e do Hospital Santa Isabel, na Bahia, divulgaram na última sexta-feira resultados preliminares e animadores do
uso de células-tronco contra a
doença de Chagas. Voluntários
tratados com a técnica tiveram
melhora em funções cardíacas, o
que já faz o Ministério da Saúde
pensar em incorporar a terapia ao
SUS (Sistema Único de Saúde).
Os resultados, apresentados no
3º Congresso Brasileiro de Insuficiência Cardíaca, em Salvador,
mostram que 22 voluntários (de
um grupo de 30) recuperaram
grande parte da capacidade cardiorrespiratória, comprometida
em chagásicos. Em média, apresentaram 10% de melhora no
bombeamento do sangue pelo coração. O índice gira em torno de
5% em outras terapias com células-tronco para tratar doenças
cardíacas.
A qualidade de vida também
melhorou. "Tinha paciente que
sofria com a falta de ar mesmo em
repouso", lembra um dos coordenadores do trabalho, o imunologista Ricardo Ribeiro dos Santos.
O primeiro paciente a receber as
células não conseguia subir uma
pequena escada -atualmente,
ele vende óculos na praia do Flamengo, na capital baiana. Outro,
agricultor, não tinha condições físicas para trabalhar. "Hoje, ele leva uma vida normal", diz Santos.
A doença de Chagas é causada
pelo protozoário Trypanosoma
cruzi, transmitido pelo barbeiro,
inseto que vive em frestas de casas de taipa. Seis milhões de pessoas estão contaminadas no país,
segundo a Fiocruz. Em 30% dos
casos, as pessoas desenvolvem
uma inflamação crônica no coração, fatal em uma década.
A terapia consiste em retirar células-tronco da medula óssea do
paciente e injetá-las, por meio de
um cateter, nas artérias que irrigam o coração. Em média, são injetadas 3 milhões de células-tronco em cada pessoa.
As células-tronco têm a capacidade virtual de formar qualquer
tecido do corpo. Elas são abundantes e poderosas em embriões;
em adultos, têm menos poder e
são achadas em vários tecidos,
como a medula óssea.
Em camundongos, os pesquisadores observaram que as células
criaram vasos sangüíneos e fibras
musculares. E desempenharam
outro papel: fundiram-se com células cardíacas doentes, que assim
recuperaram sua função. Eles
acreditam que o mesmo ocorra
nos humanos. "Além disso, as células-tronco produziram hormônios que reduziram a inflamação", explica o imunologista.
O tratamento está na fase um de
testes, que avalia sua segurança.
Ela será encerrada neste mês,
com 30 pacientes. A próxima fase
começa em janeiro, com 300 pacientes: metade receberá o transplante, enquanto os outros formarão um grupo de controle.
A intenção então será medir a
eficiência do método. Se aprovado, ele deve ser incorporado ao
SUS em dois anos e meio. O Ministério da Saúde é um dos financiadores da próxima etapa da
pesquisa, que terá R$ 3 milhões,
ao lado do Ministério de Ciência e
Tecnologia, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia e da Fiocruz. Segundo Santos,
o tratamento custaria cerca de R$
8 mil por paciente aos cofres públicos. O transplante de coração
custa cerca de R$ 50 mil.
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