São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2004

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MEDICINA TROPICAL

Pacientes recuperaram capacidade cardíaca; Ministério da Saúde estuda incorporar terapia ao SUS

Célula-tronco restitui coração chagásico

CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e do Hospital Santa Isabel, na Bahia, divulgaram na última sexta-feira resultados preliminares e animadores do uso de células-tronco contra a doença de Chagas. Voluntários tratados com a técnica tiveram melhora em funções cardíacas, o que já faz o Ministério da Saúde pensar em incorporar a terapia ao SUS (Sistema Único de Saúde).
Os resultados, apresentados no 3º Congresso Brasileiro de Insuficiência Cardíaca, em Salvador, mostram que 22 voluntários (de um grupo de 30) recuperaram grande parte da capacidade cardiorrespiratória, comprometida em chagásicos. Em média, apresentaram 10% de melhora no bombeamento do sangue pelo coração. O índice gira em torno de 5% em outras terapias com células-tronco para tratar doenças cardíacas.
A qualidade de vida também melhorou. "Tinha paciente que sofria com a falta de ar mesmo em repouso", lembra um dos coordenadores do trabalho, o imunologista Ricardo Ribeiro dos Santos. O primeiro paciente a receber as células não conseguia subir uma pequena escada -atualmente, ele vende óculos na praia do Flamengo, na capital baiana. Outro, agricultor, não tinha condições físicas para trabalhar. "Hoje, ele leva uma vida normal", diz Santos.
A doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido pelo barbeiro, inseto que vive em frestas de casas de taipa. Seis milhões de pessoas estão contaminadas no país, segundo a Fiocruz. Em 30% dos casos, as pessoas desenvolvem uma inflamação crônica no coração, fatal em uma década.
A terapia consiste em retirar células-tronco da medula óssea do paciente e injetá-las, por meio de um cateter, nas artérias que irrigam o coração. Em média, são injetadas 3 milhões de células-tronco em cada pessoa.
As células-tronco têm a capacidade virtual de formar qualquer tecido do corpo. Elas são abundantes e poderosas em embriões; em adultos, têm menos poder e são achadas em vários tecidos, como a medula óssea.
Em camundongos, os pesquisadores observaram que as células criaram vasos sangüíneos e fibras musculares. E desempenharam outro papel: fundiram-se com células cardíacas doentes, que assim recuperaram sua função. Eles acreditam que o mesmo ocorra nos humanos. "Além disso, as células-tronco produziram hormônios que reduziram a inflamação", explica o imunologista.
O tratamento está na fase um de testes, que avalia sua segurança. Ela será encerrada neste mês, com 30 pacientes. A próxima fase começa em janeiro, com 300 pacientes: metade receberá o transplante, enquanto os outros formarão um grupo de controle.
A intenção então será medir a eficiência do método. Se aprovado, ele deve ser incorporado ao SUS em dois anos e meio. O Ministério da Saúde é um dos financiadores da próxima etapa da pesquisa, que terá R$ 3 milhões, ao lado do Ministério de Ciência e Tecnologia, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia e da Fiocruz. Segundo Santos, o tratamento custaria cerca de R$ 8 mil por paciente aos cofres públicos. O transplante de coração custa cerca de R$ 50 mil.


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