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MEDICINA
Estudo com grupo pequeno mostra que "bomba" de hormônio teve mesmo resultado que injeções subcutâneas
Pesquisa nos EUA testa com sucesso insulina para inalar
ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA
EDITORA-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Diabéticos, preparem-se para
uma bomba: inalação de insulina.
Uma substituta ou parceira da injeção subcutânea, testada por pesquisadores da Universidade de
Miami, Estados Unidos, em diabéticos do tipo 1, demonstrou resultados animadores.
"Os resultados são muito interessantes, mostram que essa forma de aplicação de insulina é uma
possibilidade futura", afirma Simão Lottenberg, professor-assistente de endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP.
O diabetes tipo 1 começa na infância, ou no começo da adolescência, e com o tempo causa a total destruição das células beta do
pâncreas, que produzem insulina.
Esse hormônio é responsável pela
absorção de glicose -uma das
fontes de energia do corpo- pelas células. Afeta cerca de 500 mil
pessoas no Brasil.
Testes clínicos
A idéia de ministrar insulina
sem ser por injeção é antiga. Os
primeiros testes com o hormônio
em um formato inalatório datam
de 1925. Desde a década de 70, estudos mostram que essa forma de
aplicação é bem tolerada pelo organismo, mas que apenas de 10%
a 30% da insulina inalada é absorvida na circulação sanguínea.
Com o intuito de aumentar a
eficiência da absorção -potencialmente alta, pois a área da superfície dos alvéolos pulmonares
é de 100 m2, ou meia quadra de tênis-, foi desenvolvida uma formulação de insulina em pó. Aplicáveis por aerossol -como em
uma bomba de asma- as partículas são pequenas o suficiente
para entrar nas vias respiratórias.
Para a avaliação da eficácia do
medicamento, foram selecionados 72 homens e mulheres, com
idade média de 35 a 40 anos, diabéticos em média há 14 anos.
Eles foram divididos em dois
grupos: 37 pacientes receberam
de duas a três injeções subcutâneas de insulina por dia, enquanto outros 35 inalaram o hormônio
antes das refeições e tomaram
uma injeção antes de dormir, por
um período de três meses.
Todos os pacientes monitoravam suas taxas de glicose quatro
vezes ao dia, para regular a dosagem de insulina, e a inalação era
feita antes das refeições.
Resultados
O teste clínico mostrou que os
dois grupos tiveram resultados
semelhantes: a tolerância à forma
inalatória foi alta, as taxas de glicose, parecidas, a função pulmonar do grupo da aplicação por
inalação foi estável e não houve
diferença significativa na ocorrência de crises de hipoglicemia.
Apesar do sucesso do teste, a
forma inalatória de insulina ainda
precisa passar por vários estudos.
Um dos problemas apontados é a
uniformidade: frequentemente,
em testes, uma aplicação apresentava resultado diferente da anterior. Sem uma taxa de absorção
estável, a formulação deixa de ser
fonte confiável de insulina.
Outra questão é a reprodução
dos resultados em um período
mais longo. "Três meses ainda é
pouco tempo, é preciso fazer testes mais longos", afirma Lottenberg, da USP. "Esse estudo não
apresentou efeitos colaterais, mas
os pesquisadores precisam avaliar
os efeitos de uma doença pulmonar na absorção da insulina."
Da pesquisa até o mercado, um
novo medicamento precisa passar por quatro fases de desenvolvimento e testes. Os resultados
obtidos pelos cientistas da Universidade de Miami, publicados
na revista médica britânica "The
Lancet" (www.thelancet.com),
são da fase 2. Se as outras fases forem bem-sucedidas, a "bomba"
de insulina poderá estar disponível em cerca de cinco anos.
Qualidade de vida
Em um comentário na "The
Lancet" sobre a pesquisa, o endocrinologista Edwin Gale, da Universidade de Bristol, Reino Unido, aponta que, do ponto de vista
do controle de glicose, a insulina
inalatória é uma alternativa "cara
e grosseira à agulha".
Mas, como aponta o próprio
Gale, o diabetes é uma doença que
altera todo o contexto de vida do
paciente: sua auto-imagem, suas
relações sociais, sua vida diária.
Para essas pessoas, a agulha não é
apenas uma necessidade desagradável, mas um símbolo de sua ligação com o distúrbio.
"As agulhas se tornaram menores e mais afiadas, um desenvolvimento que provavelmente beneficiou mais pacientes do que qualquer coisa que químicos que pesquisam insulina tenham produzido. A maioria das injeções do hormônio é virtualmente indolor."
"Quaisquer que sejam as limitações práticas da insulina inalatória, o significado mais profundo
desse estudo na vida das pessoas
não pode ser deixado de lado."
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