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RESENHA
O DNA explicado, bem explicado
MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA
MARCELO LEITE começa
seu livro sobre o DNA dizendo que a sigla é uma "consagrada abreviação". É mesmo consagrada? Não tenham dúvidas.
Basta compará-la a uma outra sigla também frequente na mídia,
FMI. Se vocês entrarem no site de
buscas Google, encontrarão 2 milhões de referências para FMI e 7
milhões de referências para DNA.
As pessoas estão mais interessadas em código genético do que
em juros e mercado. Por boas razões: recentemente foi completado com sucesso o Projeto Genoma Humano, que conseguiu sequenciar os 3 bilhões de letras do
DNA, o codificado "manual de
instruções" do nosso corpo. As
implicações, sobretudo para a
medicina, são enormes, aumentando as possibilidades de tratamento e de prevenção de doenças.
Mas, de outra parte, surgem temores: pessoas identificadas como portadoras de risco para certas doenças terão desvantagem no
mercado de trabalho, designers
genéticos de bebês podem estar se
aprontando para oferecer seus
serviços. Ou seja: daqui por diante, vamos falar muito em DNA.
Portanto é bom ter um adequado
conhecimento do que significa,
afinal, essa sigla, e para isso Marcelo Leite, conhecido jornalista
científico da Folha, nos dá uma
inestimável ajuda.
Em linguagem simples (mas
não simplória) e com ajuda de
boas ilustrações, ele nos diz, primeiro, o que vem a ser esse DNA,
a elegante molécula de dupla hélice. Descreve sua estrutura química, explica o que vêm a ser transcrição e tradução, os dois passos
da leitura do DNA pela célula.
A seguir, entramos na história,
começando com Gregor Mendel,
aquele monge que, no século 19,
lançou as bases da genética com
seus estudos sobre cruzamento de
ervilhas, e chegando à dupla famosa James Watson e Francis
Crick, que, há exatos 50 anos, estabeleceu a estrutura da molécula
-uma aventura científica à qual
não faltaram elementos de intriga
e traição.
Na última parte, Marcelo Leite
faz oportunas considerações sobre o futuro do genoma e da biotecnologia em geral. Mostra como
o intenso noticiário (gerado, em
parte, por grandes interesses)
criou, no público, enormes expectativas que não correspondem inteiramente à realidade. Genes são
importantes, mas não são tudo; o
ser humano é produto de sua herança genética, mas também do
ambiente.
Biologia não é destino, e não se
pode, portanto, falar em determinismo genético como algo absoluto. No passado, idéias desse tipo
levaram a perigosas manifestações racistas. É melhor, diz Marcelo Leite, pensar na complexidade e na indeterminação como inevitáveis acompanhantes daquela
liberdade que todos desejamos
como ideal de vida.
Moacyr Scliar é escritor, médico especializado em saúde pública e autor, entre outros, de "A Paixão Transformada - História da Medicina na Literatura"
(Companhia das Letras)
FOLHA EXPLICA: O DNA.
De: Marcelo Leite. Editora: Publifolha.
Quanto: R$ 11,50 (104 páginas).
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