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ASTROBIOLOGIA
Cientistas nos EUA defendem que a atmosfera do planeta vizinho teria condições de abrigar micróbios
Poderia haver vida em Vênus, diz estudo
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Como diria o escritor Mark
Twain (1835-1910), as notícias a
respeito da morte da possibilidade de vida em Vênus têm sido
enormemente exageradas. Um
grupo de cientistas americanos
acaba de sugerir a possibilidade
de que micróbios sobrevivam na
alta atmosfera do planeta, um lugar muito mais hospitaleiro que
sua abrasante superfície.
O estudo está longe de ser conclusivo. Mas o quinteto encabeçado por Dirk Schulze-Makuch, da
Universidade do Texas em El Paso, está disposto a apostar dinheiro nisso. O da Nasa, mais especificamente. Eles acham que é hora
de a agência espacial americana
voltar a explorar Vênus.
"Uma missão de retorno de
amostras das camadas de nuvens
venusianas é tecnologicamente
factível e em tese poderia fornecer
evidências de vida extraterrestre
mais cedo e mais facilmente do
que de habitats candidatos mais
remotos, como Marte e Europa",
escreveram os pesquisadores, em
artigo na revista "Astrobiology"
(www.liebertpub.com/AST/).
A superfície venusiana é um dos
lugares mais inóspitos do Sistema
Solar. A pressão atmosférica é 90
vezes mais intensa do que a da
Terra, e a temperatura atinge os
fervilhantes 460C -Vênus chega a ser mais quente que Mercúrio, o astro mais próximo do Sol.
Por séculos, com a visão obliterada pela densa atmosfera, os astrônomos especularam sobre a
existência de seres venusianos.
Em certos aspectos, o planeta é
bem similar à Terra. Tem praticamente o mesmo diâmetro e é o
que tem órbita mais parecida com
a terrestre. Essas coincidências
criaram mitos românticos sobre
um possível mundo habitado.
Somente nos anos 1960, com o
envio das primeiras espaçonaves
às imediações venusianas, começou a ser delineada uma visão realista daquele planeta inóspito. O
resultado foi devastador: os cientistas perderam completamente a
esperança de encontrar vida lá.
Agora, a fé dos astrobiólogos
parece estar retornando, graças a
uma nova perspectiva. Em vez de
procurar criaturas capazes de sobreviver na superfície, os cientistas decidiram investir na alta atmosfera. O grupo foi estimulado
pela descoberta, três anos atrás,
de micróbios que têm seu ciclo de
vida completo em gotículas na alta atmosfera da Terra.
As nuvens de Vênus são bem
mais simpáticas que sua superfície. A pressão atmosférica é similar à da Terra ao nível do mar e a
temperatura, livre da maior parte
do efeito estufa que cozinha o resto do planeta, fica em confortáveis
30C a 80C.
Claro, ainda há problemas: trata-se de um ambiente extremamente ácido (pH em torno de zero) e inundado de radiação ultravioleta, letal para criaturas terrestres. Ainda assim, Schulze-Makuch e seus colegas acham que algumas criaturas, potencialmente
como as que existiram na Terra 4
bilhões de anos atrás, poderiam
ter encontrado um meio de vida.
Talvez tivessem aprendido a fazer fotossíntese (converter luz em
energia vital) com luz ultravioleta.
Ou, numa solução mais modesta,
poderiam ter desenvolvido estratégias de proteção contra o ultravioleta (versões mais agressivas
de alguns mecanismos já observados em seres terrestres) usando
átomos de enxofre especialmente
absorventes dessa radiação presentes na atmosfera venusiana.
Ninguém garante que tenha
acontecido, mas há possibilidades. "O único apoio que posso dar
para nossa crença de que organismos como os terrestres poderiam
ter se adaptado às condições de
Vênus é um que você pode já ter
ouvido antes. A vida na Terra
mostrou extraordinária adaptabilidade e facilmente encontrou soluções evolutivas para viver em
ambientes ácidos e com alta concentração de ultravioleta", diz
Mark Bullock, do Southwest Research Institute, no Colorado, um
dos autores do estudo. "É um argumento de plausibilidade."
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