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São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2003

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POLÍTICA CIENTÍFICA

Pesquisador produz mais, mas tem menos apoio, diz estudo

Estresse ronda cientista brasileiro

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Os pesquisadores brasileiros nunca produziram tanto nem com tanta qualidade -mas podem estar à beira de um ataque de nervos, acossados pela queda do apoio governamental, praticamente a única fonte de financiamento para a ciência de ponta no país, e por um mercado de trabalho excessivamente competitivo.
É esse quadro sombrio que um estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) pinta, depois de avaliar psicologicamente 149 pesquisadores do Departamento de Bioquímica Médica da universidade, um dos mais conceituados do país.
"Nós identificamos um grau de sofrimento muito intenso nessas pessoas", diz o bioquímico da UFRJ Leopoldo de Meis, coordenador do estudo. "É claro que todas as profissões hoje se caracterizam por esse excesso de competição, mas a diferença [entre os cientistas] é a falta de lateralidade. A pessoa não se imagina fazendo outra coisa além daquilo", afirma o pesquisador.
O estudo, que contou com a participação da psicóloga Maria Scarlet do Carmo e da psiquiatra Carla de Meis (filha do bioquímico), avaliou os pesquisadores por meio de entrevistas que buscavam entender como eles se sentiam em relação ao dia-a-dia da própria profissão.
O pesquisador diz que uma das características psicológicas comuns a diversos entrevistados foi a chamada liminalidade -uma situação na qual o indivíduo se sente inseguro sobre sua posição na sociedade, ansioso e duvidando de suas próprias capacidades.
Isso seria resultado de uma nova cultura de pesquisa nas instituições brasileiras, na qual a conclusão de uma tese de doutorado, por exemplo, não seria suficiente para garantir a tranquilidade do pesquisador. Seu desempenho passaria por testes contínuos, marcados pela aceitação (ou recusa) de seus artigos em revistas científicas de renome.
"Esse "publish or perish" [publicar ou perecer] funciona num país de cultura científica formada como os Estados Unidos, mas pode ser péssimo aqui", diz De Meis.
O estudo foi publicado na revista científica "The Brazilian Journal of Medical and Biological Research" e pode ser obtido (em inglês) no endereço eletrônico www.scielo.br/bjmbr.


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