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POLÍTICA CIENTÍFICA
Pesquisador produz mais, mas tem menos apoio, diz estudo
Estresse ronda cientista brasileiro
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os pesquisadores brasileiros
nunca produziram tanto nem
com tanta qualidade -mas podem estar à beira de um ataque de
nervos, acossados pela queda do
apoio governamental, praticamente a única fonte de financiamento para a ciência de ponta no
país, e por um mercado de trabalho excessivamente competitivo.
É esse quadro sombrio que um
estudo da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro) pinta,
depois de avaliar psicologicamente 149 pesquisadores do Departamento de Bioquímica Médica da
universidade, um dos mais conceituados do país.
"Nós identificamos um grau de
sofrimento muito intenso nessas
pessoas", diz o bioquímico da
UFRJ Leopoldo de Meis, coordenador do estudo. "É claro que todas as profissões hoje se caracterizam por esse excesso de competição, mas a diferença [entre os
cientistas] é a falta de lateralidade.
A pessoa não se imagina fazendo
outra coisa além daquilo", afirma
o pesquisador.
O estudo, que contou com a
participação da psicóloga Maria
Scarlet do Carmo e da psiquiatra
Carla de Meis (filha do bioquímico), avaliou os pesquisadores por
meio de entrevistas que buscavam entender como eles se sentiam em relação ao dia-a-dia da
própria profissão.
O pesquisador diz que uma das
características psicológicas comuns a diversos entrevistados foi
a chamada liminalidade -uma
situação na qual o indivíduo se
sente inseguro sobre sua posição
na sociedade, ansioso e duvidando de suas próprias capacidades.
Isso seria resultado de uma nova cultura de pesquisa nas instituições brasileiras, na qual a conclusão de uma tese de doutorado,
por exemplo, não seria suficiente
para garantir a tranquilidade do
pesquisador. Seu desempenho
passaria por testes contínuos,
marcados pela aceitação (ou recusa) de seus artigos em revistas
científicas de renome.
"Esse "publish or perish" [publicar ou perecer] funciona num
país de cultura científica formada
como os Estados Unidos, mas pode ser péssimo aqui", diz De Meis.
O estudo foi publicado na revista científica "The Brazilian Journal of Medical and Biological Research" e pode ser obtido (em inglês) no endereço eletrônico
www.scielo.br/bjmbr.
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