São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

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Grupo estuda primo brasileiro de agente letal

DA REPORTAGEM LOCAL

O vírus da febre do vale Rift (RVFV) pode ter um parente próximo no Brasil. Descoberto na década de 70 perto da cidade de Belterra, no Pará, o chamado vírus belterra está sendo estudado pelo mesmo grupo que pesquisa o RVFV.
Diferentemente de seu primo africano, o belterra não infecta humanos. Pelo menos, não ainda. Ele foi isolado em roedores e, ao que parece, continua seu ciclo em animais selvagens. Os cientistas estão terminando de sequenciar o genoma do parasita, para descobrir quão próximo ele está do RVFV.
"A análise sorológica (estudo dos anticorpos encontrados no sangue dos animais) mostrou um grau de semelhança grande", diz Zanotto. "Mas estamos esperando as sequências para ter a confirmação final."
O grupo de parasitas ao qual pertencem o RVFV e o belterra, o dos bunyavírus, é uma autêntica família de mafiosos.
Para começar, ela é extensa. Mais de 200 membros já foram identificados, divididos em quatro grandes gêneros. "E isso é só uma fração do que ainda existe por identificar", afirma o pesquisador da Unifesp.
Boa parte desses vírus cumpre o seu ciclo em selvas da África e da América do Sul, sem causar maiores problemas. Mas alguns deles são péssimos elementos e dão dor de cabeça a médicos do mundo todo.
O "capo" da família dos "bunya" -como ela foi apelidada pelos cientistas- é o hantavírus, transmitido por ratos.
Ele causa uma síndrome pulmonar aguda que pode matar até 50% de suas vítimas em poucos dias. Descoberto na Coréia, na região do rio Hantaan (daí o nome), chegou ao Brasil em 1993.
Desde então, vem fazendo estragos. Entre maio de 1998 e agosto de 1999, cinco casos foram sorologicamente confirmados pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Três dos pacientes morreram.
O hantavírus pode causar, ainda, febre hemorrágica com síndrome renal. É uma forma de ataque mais "branda" que, segundo os Centros para Controle de Doenças dos EUA, afeta anualmente 100 mil pessoas.
A família conta, ainda, com pelo menos um grande vírus de encefalite humana, o de encefalite da Califórnia, que causa inflamações no sistema nervoso .
Entre os causadores de febre hemorrágica grave estão o RVFV e o vírus de febre hemorrágica da Criméia-Congo, que está sendo estudado pela Unifesp e por um laboratório dos EUA. (CA)


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