São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIOLOGIA

Freqüência cardíaca fica igual

Carpa sobrevive quatro meses sem oxigênio

FERNANDA CALGARO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um tipo de carpa, o Carassius carassius, primo da carpa comum (Cyprinus carpio), consegue sobreviver sem oxigênio por quatro meses com a temperatura da água oscilando em torno de 8C. "Esse tempo representa um terço de sua vida", ressalta Jonathan Stecyk, pesquisador da Universidade Simon Fraser, no Canadá, e co-autor do estudo publicado ontem na revista científica norte-americana "Science" (www.sciencemag.org).
O resultado da pesquisa surpreende, pois revela que a freqüência cardíaca e o bombeamento do coração se mantiveram nos mesmos níveis com e sem oxigênio na água por cinco dias.
"Em geral, o coração de vertebrados ou falha imediatamente na falta de oxigênio, como no caso dos seres humanos, ou apresenta uma redução drástica de sua atividade metabólica e de sua freqüência, como acontece com tartarugas de água doce", afirma Stecyk.
O biólogo explica que isso só é possível porque o peixe é capaz de equilibrar a demanda e o suprimento de energia e lidar com sucesso com o acúmulo do nocivo acido lático resultante da anoxia (falta de oxigênio), ao contrário da carpa comum, que não consegue se manter viva após 24h privada de oxigênio.
O fígado dessa carpa mais resistente incha o equivalente a 15% de sua massa corporal no fim do verão e começo do outono no hemisfério norte, o que possibilita que 33% do órgão armazene energia na forma de glicogênio, que é transformado em energia durante a época de inverno rigoroso, em que há falta de oxigênio na água. O peixe também consegue transformar o ácido lático em etanol ao reintroduzi-lo na corrente sangüínea novamente. O etanol passa pelas guelras (órgãos de respiração) e se dilui na água.

Cirurgia
No experimento, os cientistas implantaram um aparelho na artéria aorta do peixe, que serviu para medir a freqüência cardíaca e a quantidade de sangue bombeado a cada batida. Também foi inserida uma cânula para medir a pressão arterial. O animal teve dois dias para se recuperar desse procedimento, antes de ficar cinco dias na água sem oxigênio. Durante esse período, a sua atividade cardíaca foi monitorada.


Texto Anterior: Sol esfriou há 3.000 anos, diz pesquisador
Próximo Texto: Geologia: Rocha sul-africana tem evidência de ser vivo com 3,4 bilhões de anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.