São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2000


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GENÉTICA
Estudos identificam 28 linhagens em evolução
DNA ajuda a revelar as raízes humanas

NICHOLAS WADE
do "The New York Times"

A Bíblia menciona três filhos de Adão e Eva: Caim, Abel e Seth. Os geneticistas, entretanto, analisando os padrões de DNA encontrados em pessoas do mundo todo, identificaram dez linhagens descendentes do primeiro homem e 18 linhagens da primeira mulher.
A mais detalhada árvore genealógica humana disponível foi construída por Douglas Wallace e colaboradores, da Faculdade de Medicina da Universidade de Emory, em Atlanta.
O estudo é baseado no DNA mitocondrial (mtDNA), material genético que só é transmitido pela mãe. Desse estudo foram determinadas as 18 ramificações da primeira mulher, também conhecida como "Eva mitocondrial".
No caso das linhagens masculinas, uma análise baseada no cromossomo Y -presente somente nos homens- foi preparada por Peter Underhill e Peter Oefner, da Universidade de Stanford.
Os geneticistas de populações acreditam que a primeira população humana era pequena -cerca de 2.000 indivíduos. Mas a árvore genealógica baseada no DNA mitocondrial humano não se inicia nas mulheres dessa população. A árvore tem raiz em uma única mulher, a "Eva mitocondrial", pois as outras linhagens acabaram extintas.
A mesma conclusão foi estabelecida na linhagem paterna. Pelo fato de que em cada geração alguns homens não têm descendentes, ou apenas filhas, o número de padrões de cromossomo Y pode diminuir, mesmo em uma população do mesmo tamanho.
Essa população ancestral viveu em algum lugar da África, dizem os geneticistas, e começou a se dividir há cerca de 144 mil anos, momento em que as árvores mitocondriais e de cromossomos Y começam a se ramificar.

DNA pouco variável
As mitocôndrias, organelas localizadas nas células e com a função de produzir energia, possuem um DNA próprio e, como são passadas diretamente da mãe para seus descendentes, escapam ao embaralhamento de genes que ocorre com o passar das gerações.
Em princípio, todas as pessoas deveriam ter o mesmo DNA em suas mitocôndrias. Na prática, o mtDNA acumulou algumas mudanças ao longo dos séculos por erros na cópia do código genético.
As mulheres se espalhavam pelo mundo quando muitas dessas mudanças ocorreram, o que fez com que algumas transformações sejam encontradas em apenas algumas regiões e continentes.
Wallace descobriu que quase todos os índios americanos têm mitocôndrias que pertencem às linhagens que ele denominou A, B, C e D. Os europeus pertencem a um grupo diferente de linhagens, as que vão de H até K e de T até X.
A divisão entre as duas principais ramificações na árvore européia indica que o homem moderno chegou à Europa entre 39 mil e 51 mil anos atrás. A data estimada pelos arqueólogos para essa ocorrência é de 35 mil anos.
Na Ásia, há uma linhagem ancestral chamada de M, com ramificações descendentes E, F e G, além das linhagens A, B, C e D, encontradas nas Américas.
Na África, há apenas uma linhagem principal, conhecida como L, que é dividida em três ramificações. L3, a ramificação mais recente, é comum no leste da África e pode ser a fonte das linhagens asiáticas e européias.
As linhagens do DNA mitocondrial feitas por Wallace são chamadas de "haplogrupos", mas são coloquialmente conhecidas como as "filhas de Eva", porque todas são ramificações do tronco derivado da "Eva mitocondrial".
A árvore baseada no estudo do cromossomo Y ainda não foi publicada pelos pesquisadores de Stanford. Ela tem como raiz um único cromossomo Y e dez ramificações principais.
Delas, três (chamadas 1, 2 e 3) são encontradas quase que exclusivamente na África. A linhagem do filho 3 migrou para a Ásia e deu origem às outras sete linhagens (de 4 a 10), que se espalharam pelo mundo -para o mar do Japão, norte da Índia e sul da Europa.


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