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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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NEUROCIÊNCIA

Estudo com resos mais idosos do mundo revela mensageiro químico que faz neurônio antigo atuar como novo

Macacos velhos ensinam a pensar rápido

Divulgação Audie Leventhal/Science
Macaco reso Grandpa Solomon, 26 anos (78, se fosse humano)


STEVE CONNOR
DO "THE INDEPENDENT"

Os macacos resos mais velhos do mundo ajudaram cientistas a resolver um dos grandes mistérios do envelhecimento: por que o raciocínio dos idosos é mais lento.
Assim como seres humanos, macacos resos sofrem uma perda gradual e irreversível na capacidade de processar informação sensorial vinda dos olhos, do ouvido e de outros órgãos. Agora, cientistas verificaram que, além dos próprios órgãos sensoriais, a deterioração alcança também o centro de processamento de informação do cérebro que lida com os dados sensoriais recebidos, segundo estudo publicado na revista "Science" (www.sciencemag.org).
O grupo liderado por Audie Leventhal, da Escola Médica da Universidade de Utah (EUA), em Salt Lake City, descobriu uma explicação para esse declínio mental ao estudar resos muito velhos de uma criação em cativeiro iniciada por cientistas chineses nos anos 1950. Alguns dos animais têm hoje 32 anos, o equivalente a 96 anos para humanos, o que os torna duas vezes mais velhos que os congêneres idosos na natureza.
O estudo investigou uma região particular do córtex cerebral -centro superior de processamento de informação do cérebro- envolvida no tratamento de informação visual. Revelou que os neurônios de macacos muito velhos nessa região cerebral perdem sua capacidade de discriminar entre um sinal e outro, e que essa perda estava diretamente relacionada com a presença de Gaba, um neurotransmissor (mensageiro químico do cérebro) que parece escassear com a idade.
Leventhal disse que a perda de Gaba parece ser responsável pelo disparo indiscriminado de impulsos elétricos por neurônios velhos, o que sugere que a restauração dos níveis da substância poderia também reavivar a agilidade mental. "A boa notícia é que há um monte de drogas que podem facilitar a função de Gaba, e talvez algumas delas possam ajudar", disse. "Se isso está acontecendo no córtex visual, também está provavelmente acontecendo em outras partes do córtex."
O experimento envolveu a apresentação de imagens para macacos jovens e idosos e a observação das reações elétricas nos neurônios do córtex visual.
Como era de esperar, muitas das células nervosas dos animais mais velhos reagiram indiscriminadamente, respondendo a uma ampla gama de orientações espaciais. Por outro lado, uma proporção menor de animais jovens apresentou tal carência de poderes de discriminação.
Quando os cientistas adicionaram Gaba ou similares aos neurônios velhos, eles se comportaram como se fossem jovens, com uma duplicação ou mesmo triplicação de seu poder discriminatório. Ser capaz de incrementar a discriminação sensorial no centro de processamento de informação do cérebro pode fazer com que pessoas idosas reajam tão rápido quanto jovens a mudanças súbitas.
"Muitos dos problemas sensoriais que os mais velhos sofrem não se originam da deterioração de olhos e ouvidos, mas do declínio de regiões cerebrais que processam a informação sensorial", afirma a revista "Science" de ontem. E acrescenta: "[Gaba" poderia se tornar [um sucesso" maior que o Viagra, e as empresas farmacêuticas já estão babando: um tratamento que faz o tempo recuar para o cérebro envelhecido e faz neurônios velhos agirem de novo como jovens".
Leventhal disse considerar notável que seu laboratório seja o único a estudar funções superiores do cérebro em macacos idosos. "Macacos velhos são raros, mas o mundo está cheio de primatas humanos velhos", afirmou, dizendo que macacos envelhecem exatamente como humanos, com rugas e perda de pêlos.



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