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Método quantifica demência em país subdesenvolvido
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Qual é o presidente ou primeiro-ministro do seu país?", perguntou o entrevistador a um grupo de idosos. Entre os indianos,
ninguém soube. Todos os cubanos responderam sem titubear.
Entre os brasileiros, a maioria
acertou. Agora tente adivinhar
quais deles sofrem de demência.
Esse é o tamanho da charada que
um grupo internacional de pesquisadores acaba de decifrar.
Coordenado por Martin Price,
do King's College em Londres, o
grupo desenvolveu um novo método para interpretar o conjunto
de respostas a perguntas como essa, rotineiramente usadas para
avaliar a prevalência de demência
em populações, levando em conta
os desvios causados por diferenças culturais e educacionais nas
diversas regiões do globo.
A inovação é essencialmente estatística. Após coletar as respostas
às perguntas feitas aos voluntários dos estudos, os pesquisadores aplicam aos resultados obtidos um algoritmo (palavra feia
que, grosso modo, equivale a
"fórmula matemática") para obter um índice capaz de apontar
com mais precisão quantos dos
entrevistados têm demência.
A notícia é boa especialmente
para os países subdesenvolvidos.
Afinal, as perguntas que compõem os testes atualmente utilizados para rastrear numa dada população o número de pessoas
com problemas de declínio mental, dos quais o mal de Alzheimer
é o quadro mais grave, funcionam
bem em países ocidentais e desenvolvidos. Mas, em outras partes
do mundo, onde os padrões culturais e o nível de escolaridade
não são os mesmos, os resultados
são mais nebulosos.
"O algoritmo melhora os resultados e elimina alguns falsos positivos", explica a psicóloga Marcia
Scazufca, pesquisadora da USP e
uma das autoras do estudo, que
foi publicado na revista médica
"The Lancet" (www.lancet.com).
Descobrir quantos dementes há
em cada país é importante não só
para a criação de políticas de saúde pública, mas também para determinar algumas das razões para
a maior ou menor prevalência numa dada região. A continuação do
estudo vai bem nessa direção.
"Estamos começando na terça-feira o trabalho de campo para
um novo estudo", conta Scazufca.
"Nós desenvolvemos todo o protocolo para avaliar a demência em
países em desenvolvimento. Cuba
e Brasil já estão começando, e a
OMS está financiando estudos
parecidos na República Dominicana, na China e na Índia."
A idéia é fazer uma análise de
fundo genético, para avaliar a prevalência e os fatores de risco ligados à demência. "Há uma idéia de
que países de populações caucasianas têm maior prevalência do
que os de populações negras", diz
Scazufca. "Escolhemos Cuba e
Brasil porque são dois países de
população miscigenada."
O grupo é ligado à organização
não-governamental ADI (Alzheimer's Disease International).
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