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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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Método quantifica demência em país subdesenvolvido

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Qual é o presidente ou primeiro-ministro do seu país?", perguntou o entrevistador a um grupo de idosos. Entre os indianos, ninguém soube. Todos os cubanos responderam sem titubear. Entre os brasileiros, a maioria acertou. Agora tente adivinhar quais deles sofrem de demência. Esse é o tamanho da charada que um grupo internacional de pesquisadores acaba de decifrar.
Coordenado por Martin Price, do King's College em Londres, o grupo desenvolveu um novo método para interpretar o conjunto de respostas a perguntas como essa, rotineiramente usadas para avaliar a prevalência de demência em populações, levando em conta os desvios causados por diferenças culturais e educacionais nas diversas regiões do globo.
A inovação é essencialmente estatística. Após coletar as respostas às perguntas feitas aos voluntários dos estudos, os pesquisadores aplicam aos resultados obtidos um algoritmo (palavra feia que, grosso modo, equivale a "fórmula matemática") para obter um índice capaz de apontar com mais precisão quantos dos entrevistados têm demência.
A notícia é boa especialmente para os países subdesenvolvidos. Afinal, as perguntas que compõem os testes atualmente utilizados para rastrear numa dada população o número de pessoas com problemas de declínio mental, dos quais o mal de Alzheimer é o quadro mais grave, funcionam bem em países ocidentais e desenvolvidos. Mas, em outras partes do mundo, onde os padrões culturais e o nível de escolaridade não são os mesmos, os resultados são mais nebulosos.
"O algoritmo melhora os resultados e elimina alguns falsos positivos", explica a psicóloga Marcia Scazufca, pesquisadora da USP e uma das autoras do estudo, que foi publicado na revista médica "The Lancet" (www.lancet.com).
Descobrir quantos dementes há em cada país é importante não só para a criação de políticas de saúde pública, mas também para determinar algumas das razões para a maior ou menor prevalência numa dada região. A continuação do estudo vai bem nessa direção.
"Estamos começando na terça-feira o trabalho de campo para um novo estudo", conta Scazufca. "Nós desenvolvemos todo o protocolo para avaliar a demência em países em desenvolvimento. Cuba e Brasil já estão começando, e a OMS está financiando estudos parecidos na República Dominicana, na China e na Índia."
A idéia é fazer uma análise de fundo genético, para avaliar a prevalência e os fatores de risco ligados à demência. "Há uma idéia de que países de populações caucasianas têm maior prevalência do que os de populações negras", diz Scazufca. "Escolhemos Cuba e Brasil porque são dois países de população miscigenada."
O grupo é ligado à organização não-governamental ADI (Alzheimer's Disease International).



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