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ESPAÇO
Sonda americana captou sinais de atividade geológica e iniciou procura por oceanos de metano na lua de Saturno
Cassini faz seu primeiro sobrevôo de Titã
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A sonda americana Cassini concluiu com sucesso ontem o primeiro sobrevôo de Titã, a maior
das luas de Saturno e a segunda
maior de todo o Sistema Solar. Foi
a primeira de várias oportunidades que a missão -com duração
estimada de quatro anos- terá
de investigar aquele mundo.
Titã há muito se recusa a revelar
sua superfície aos estudiosos. A
atmosfera é tão densa e enevoada
que é praticamente impossível
enxergar o solo diretamente. Apenas uns poucos raios de luz, em
freqüências bem específicas, conseguem atravessá-la e revelar o
que se esconde sob o véu alaranjado de suas nuvens.
Esse primeiro sobrevôo não foi
muito próximo -a distância mínima entre a Cassini e Titã ficou
na casa dos 340 mil quilômetros.
Em outubro, um novo encontro
está programado, e esse sim vai
quase tirar lasca: a nave passará a
meros 1.200 quilômetros do alvo
-menos de um quarto do diâmetro daquela lua, de cerca de
5.150 quilômetros.
Com esse tamanho, o satélite só
não é um planeta porque está girando ao redor de Saturno, em
vez do Sol. Porte planetário ele
tem -chega mesmo a ser maior
que Mercúrio e Plutão.
Os dados obtidos agora estão
sendo processados pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato).
São basicamente imagens de raios
de luz visível e infravermelha.
"Hoje pode ser o dia em que faremos o maior salto no nosso entendimento de Titã", disse à Folha John Spencer, pesquisador do
Southwest Research Institute, em
Boulder, Colorado. Ele está envolvido num dos instrumentos da
Cassini e ontem estava ansioso
pelos resultados. "Mas tudo vai
depender da névoa. Se a câmera
ISS conseguir penetrar a névoa,
devemos obter um mapa detalhado de um quarto da superfície de
Titã, apenas pelas imagens."
Isso tem tudo para acontecer. A
ISS, principal câmera da Cassini,
conseguiu fazer um mapeamento
de baixa resolução da superfície
de Titã conforme se aproximava
do sistema saturnino. Essas imagens são, de longe, as melhores já
obtidas da lua. E, com o sobrevôo,
a qualidade tende a melhorar.
Do que já foi processado, os
cientistas conseguiram ver traços
de atividade de potenciais placas
tectônicas na superfície. E começou a caça aos oceanos. "Poderemos detectar oceanos nessa passagem se conseguirmos ver o Sol
brilhando na superfície deles através da névoa", diz Spencer.
Metano líquido
Os oceanos de Titã não seriam
feitos de água. A temperatura é
muito baixa para que essa substância permaneça em estado líquido na superfície. Em vez disso,
espera-se encontrar oceanos de
hidrocarbonetos -especialmente metano, que nas temperaturas
terrestres costuma ser gasoso.
Um mapeamento realmente detalhado da superfície deve vir no
sobrevôo de outubro. Com a proximidade, será possível usar o sistema de radar da sonda para desvendar as minúcias do solo. O uso
de radar para mapeamento foi
crucial no passado, para revelar o
aspecto do chão de Vênus. É outro astro que ganhou fama por ter
nuvens que inviabilizam a observação direta do solo.
"E o dia em que a sonda Huygens entrar na atmosfera, em janeiro, será um salto ainda maior",
afirma Spencer. A Huygens é a
companheira de viagem da Cassini. Construída pela ESA (Agência
Espacial Européia), ela será a primeira nave a fazer um pouso em
outra lua que não a da Terra.
Atualmente, está presa ao corpo
da Cassini, de onde deve se desprender no final do ano.
Até o final da missão, que custou US$ 3,2 bilhões, a nave americana deve fazer mais de 40 sobrevôos de Titã. É provavelmente o
maior alvo científico da missão, e
não sem motivos. Os cientistas
acreditam que em meio à névoa
de Titã se escondam segredos intimamente relacionados a um dos
maiores mistérios da ciência
-como a vida surge?
Ninguém acredita que haja algo
vivo na lua, dada a temperatura
local (algo em torno de -180C),
mas muitos pesquisadores acreditam que o ambiente de Titã, em
especial sua atmosfera, seja muito
parecido, em composição e densidade, com o que a Terra teria tido
em tempos remotos -época em
que a vida surgiu por aqui.
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