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PRÊMIO
Nobel alternativo para pesquisa "que não pode e não deve ser reproduzida" também contempla o arrasto de ovelhas
Lei de Murphy leva IgNobel de engenharia
CLAUDIO ANGELO
EM CAMBRIDGE (EUA)
A história finalmente fez justiça
a um princípio universal da engenharia: a Lei de Murphy, segundo
a qual "se algo puder dar errado,
dará", recebeu ontem o IgNobel,
o "Nobel" da ciência inútil, concedido anualmente a pesquisas que
"não poderiam ou não deveriam
ser reproduzidas".
Além da Lei de Murphy, a 13ª
edição do IgNobel premiou pesquisas relacionadas à capacidade
cerebral dos taxistas londrinos
(Medicina), às forças necessárias
para arrastar ovelhas (Física) e a
uma investigação sobre uma estátua de bronze na cidade japonesa
de Kanazawa incapaz de atrair
pombos (Química).
O laurel da Paz ficou com um
indiano dado oficialmente como
morto pelo governo, que tem batalhado para provar que não morreu. Até o fechamento da edição,
não se sabia se o premiado, Lal Bihari, conseguiria autorização para
deixar o país e comparecer à cerimônia de entrega do IgNobel, em
Cambridge, EUA.
Criado pela revista de humor
"AIR", abreviação em inglês de
"anais da pesquisa improvável"
(www.improbable.com), como
uma paródia da ciência "séria"
(segundo seus criadores, "séria
demais para não rirmos dela"), o
IgNobel virou "cult".
Glamour cômico
A cerimônia de entrega lota o
imponente Teatro Sanders, da
Universidade Harvard. Os premiados hoje em dia estampam as
pesquisas vencedoras do Ig em
seus currículos e páginas na internet. É o caso de sir Michael Berry,
da Universidade de Bristol, Reino
Unido, que ganhou o de Física em
2000 por usar ímãs para levitar
um sapo e um lutador de sumô.
"Eu o receberia com um sorriso
-dependendo da razão da minha premiação", disse à Folha
Wolfgang Ketterle, do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts,
Nobel de Física de 2001. Ele é um
dos Prêmios Nobel de verdade
que entregaram o troféu de araque a vencedores.
Neste ano, além dele, os mestres
de cerimônia foram Richard Roberts (Fisiologia ou Medicina,
1993), além de William Lipscomb
(Química, 1976) e Dudley Herschbach (Química, 1986), que comparecem todo ano. Roberts, aliás,
seria a "prenda" do concurso Ganhe um Encontro com um Nobel,
na cerimônia de ontem.
Segundo o editor da "AIR" e
fundador do IgNobel, o químico
Marc Abrahams, o prêmio foi
concebido para fazer as pessoas
rirem, primeiro. E pensarem, depois. Mas ele ressalta que nem toda Ig-ciência é ruim. "E nem sempre é boa. E nem sempre é ciência", afirmou à Folha.
A pesquisa que levou o IgNobel
de Medicina deste ano, por exemplo, foi publicada na revista
"PNAS", da Academia Nacional
de Ciências dos EUA, um dos
principais periódicos científicos
do mundo, sob o título de "Mudança Estrutural Relacionada à
Navegação nos Hipocampos dos
Taxistas de Londres".
O experimento comparou imagens do hipocampo (estrutura do
cérebro relacionada a aprendizado e memória) de taxistas e pessoas comuns. Os cientistas descobriram que o processamento de
informações relacionadas à orientação aumentava a eficiência do
hipocampo dos motoristas.
Murphy explica
A Lei de Murphy, considerada
por muitos uma espécie de lenda
urbana, na verdade tem uma história. E, sim, ela começou com alguém chamado Murphy. Esse alguém é Edward Murphy, coronel
da Força Aérea dos EUA, que
enunciou seu princípio em 1949
na base aérea Edwards -de onde
sairiam os primeiros astronautas
do programa espacial americano.
Murphy havia sido enviado para Edwards para testar um aparelho apelidado Gee Whiz, destinado a descobrir qual era o impacto
(medido em Gs, ou unidades de
força da gravidade) que um piloto
podia aguentar. O projeto fora
criado por John Paul Stapp, médico e filho de missionários batistas
que havia passado a infância no
Brasil (sim, no Brasil).
Stapp não tinha um dispositivo
eficiente para medir os Gs da desaceleração produzida pelo aparelho. No primeiro teste conduzido com os medidores concebidos
por Murphy, os medidores falharam -eles haviam sido conectados ao contrário. O coronel resolveu botar a culpa em seus subordinados: "Se houver um jeito de
fazer a coisa errada, eles fazem". A
frase foi apresentada por Stapp
como a Lei de Muprhy numa entrevista coletiva. E pegou.
Segundo Nick Spark, historiador da Lei de Murphy que recebeu o IgNobel representando a
viúva de Stapp (o filho de
Murphy, Edward, representou o
coronel), os resultados do Gee
Whiz acabaram mudando o design das aeronaves militares. E
Stapp conseguiu convencer o governo americano a aprovar uma
lei determinando que os cintos de
segurança dos aviões fossem também obrigatórios nos automóveis. Ciência nem tão inútil assim.
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